Carros autônomos podem acelerar aumento da poluição do ar

Crédito: Fast Company Brasil

Fast Company Brasil 4 minutos de leitura

Por anos, a tecnologia dos carros autônomos foi apenas uma promessa futura. E, apesar das previsões otimistas, eles continuam de fora dos showrooms. Mas, ao que tudo indica, grandes avanços na tecnologia parecem estar mais próximos do que nunca.

Empresas como Mercedes-Benz, BMW e Honda estão introduzindo no mercado os chamados veículos autônomos (AVs) de Nível 3, que permitirão que os motoristas tirem as mãos do volante, sob certas condições. Hoje, praticamente todas as grandes fabricantes estão realizando testes com sistemas de direção autônoma. Embora a preocupação sempre tenha sido com a segurança, seus possíveis impactos ambientais acabaram em segundo plano.

Realizamos estudos sobre as tecnologias de veículos automatizados e a maneira como os consumidores provavelmente as usarão. Ao analisar o uso de veículos parcialmente automatizados e simular o impacto de futuros veículos autônomos, descobrimos que ambos têm um potencial enorme de incentivar mais a direção. Isso aumentará consideravelmente a poluição no transporte e o congestionamento nas vias, a menos que tomemos medidas para tornar essas viagens menos atraentes.

MAIS QUILÔMETROS, MAIS EMISSÕES

Pesquisas sugerem que veículos autônomos podem fazer com que, no futuro, as pessoas utilizem mais o carro do que hoje, resultando em mais congestionamentos, consumo de energia e poluição. Andar de carro como passageiro é muito menos estressante do que dirigir. Portanto, é provável que as pessoas se sintam mais dispostas a fazer viagens longas e a enfrentar o trânsito se puderem relaxar e fazer outras coisas durante a viagem.

Essa tecnologia também permite enviar o veículo em viagens sem passageiros. Se você não quiser pagar pelo estacionamento no centro da cidade, por exemplo, poderá mandar seu carro de volta para casa enquanto estiver no trabalho, e chamá-lo de volta quando quiser ir embora. Conveniente, certamente. Por outro lado, isso gera o dobro da poluição.

OS IMPACTOS AMBIENTAIS DOS CARROS AUTÔNOMOS

Em um estudo publicado em meados de 2021, entrevistamos 940 pessoas que dirigem veículos parcialmente automatizados. Carros que utilizam sistemas como o Autopilot da Tesla, por exemplo, podem tornar a direção mais fácil e reduzir a necessidade de manter-se no volante, embora em menor grau do que em carros totalmente automatizados. Na pesquisa, descobrimos que motoristas que usavam o piloto automático dirigiam em média quase 8 mil quilômetros a mais por ano em comparação àqueles que não usavam.

Em outro estudo, simulamos a função de um veículo totalmente automatizado, fornecendo a 43 residências na cidade de Sacramento, na Califórnia, um serviço de motorista para assumir a condução da família e registrar seu uso. Observamos um aumento de 60% na distância percorrida e uma redução drástica no uso do transporte público, de bicicletas e até mesmo de caminhadas. Mais da metade do aumento na distância percorrida foi devido a viagens sem passageiros (ou seja, sem nenhum membro da família no carro).

LIMITAR A POLUIÇÃO DOS CARROS AUTÔNOMOS

Essas descobertas mostram que os veículos autônomos incentivarão muito mais viagens no futuro e que os parcialmente automatizados já estão fazendo isso hoje. Mas será que há alguma maneira de aproveitar os benefícios sem contribuir com as mudanças climáticas, com a piora na qualidade do ar e com o congestionamento nas cidades?

Para evitar um aumento expressivo nas viagens e nos danos associados a elas, precisamos ser claros ao apontar os custos, tanto financeiros quanto ao planeta. Poderíamos, por exemplo, desincentivar o uso atribuindo um preço às viagens – sobretudo, àquelas sem passageiros.

As principais políticas que temos hoje são os impostos sobre combustíveis. Em seu lugar os governos estaduais e federal poderiam adotar taxas de uso ou cobranças por quilometragem. Precificar corretamente o custo das viagens em carros particulares pode incentivar as pessoas a considerar formas de locomoção mais baratas e eficientes, como transporte público, caminhada e bicicleta.

Essas taxas podem ser ajustadas com base na localização – por exemplo, cobrar mais para dirigir em centros urbanos densos – ou outros aspectos, como hora do dia, níveis de congestionamento nas vias, número de ocupantes e tipo de veículo.

Outra opção seria oferecer frotas compartilhadas de carros autônomos em vez de privados. Nós as imaginamos como frotas semelhantes a Uber, Lyft e outras prestadoras de serviços de compartilhamento de viagem.

Essas políticas terão um impacto maior se forem adotadas o quanto antes, enquanto os carros autônomos ainda não estão por toda parte. O futuro do transporte automatizado, compartilhado e de energia elétrica pode ser ambientalmente sustentável, mas, na nossa opinião, isso só será possível se o regularmos.

Este artigo foi republicado de The Conversation sob a licença Creative Commons.


SOBRE O(A) AUTOR(A)

Fast Company é a marca líder mundial em mídia de negócios, com foco editorial em inovação, tecnologia, liderança, ideias para mudar o ... saiba mais