Casas anti-trauma, o novo projeto da Ikea para abrigar pessoas sem teto

A empresa usou o design informado sobre trauma para criar um espaço confortável e acolhedor para idosos que antes não tinham casa

Crédito: Ikea

Adele Peters 3 minutos de leitura

Há alguns anos, quando uma equipe da Ikea dos EUA refletia sobre como poderia ajudar a solucionar o problema das moradias inacessíveis e da falta de moradia, eles decidiram tentar algo novo.

“Queríamos questionar como poderíamos fugir das tradicionais doações que empresas ou varejistas costumam fazer e tentar trabalhar com as comunidades de uma forma realmente mais estratégica”, explica Samantha Eisenman, parceira de negócios de sustentabilidade da Ikea U.S.

Eles iniciaram então um novo projeto piloto: projetar pequenas casas para uma comunidade de assistência permanente à moradia em San Antonio, no Texas.

Trabalhando com a empresa de arquitetura local WestEast Design Group, eles usaram princípios de design adaptado a traumas para criar um espaço que fosse o mais seguro possível para alguém que tivesse passado por uma situação de falta de moradia.

A equipe se reuniu com alguns dos residentes da nova comunidade, um bairro em construção que, no final, incluirá cerca de 200 casas minúsculas, trailers e apartamentos no local de um antigo cinema drive-in. O bairro foi projetado para idosos sem-teto há pelo menos um ano, idosos com deficiências, como doenças crônicas, e que normalmente vivem em acampamentos.

Até o momento, cerca de 70 residentes se mudaram para a comunidade e outros 60 se mudarão nos próximos dois meses. A unidade doada pela Ikea, com 33 metros quadrados, é apenas uma única casa dentro da comunidade, mas a empresa espera que ela possa inspirar trabalhos parecidos.

Os moradores contaram o que gostariam de ter em uma casa e a equipe começou a trabalhar no projeto. O protótipo de uma casa de um quarto foi colocado em uma loja da Ikea para que os moradores pudessem visitá-la pessoalmente e dar mais opiniões. 

Um tema importante era fazer com que a casa parecesse segura, algo que vai além de ter janelas e portas seguras. “O que alguém que viveu em uma casa a vida inteira sente que é seguro não é necessariamente o mesmo para alguém que nem sempre teve uma porta para trancar ou janelas para fechar”, observa Susannah Munson, designer de interiores da Ikea.

Crédito: Ikea

Dar aos residentes uma sensação de controle é um princípio do design consciente e informado sobre traumas. Embora as casas minúsculas ou os trailers geralmente incluam móveis embutidos para maximizar o uso do espaço, “isso não permite que haja a possibilidade de escolha e uma espécie de autonomia”, explica Munson. “Então, na verdade, adotamos a abordagem de tornar o layout o mais flexível possível.” 

Os móveis são leves e fáceis de movimentar, mas duráveis. A sala de estar pode ser organizada para relaxamento, com uma poltrona em frente à TV, ou para entretenimento, com uma mesa de jantar extensível que acomoda seis pessoas. O banheiro tem uma banheira, algo que foi um pedido dos moradores.

O bairro foi projetado para idosos sem-teto, com deficiências ou com doenças crônicas.

A casa modelo foi projetada para ser o mais econômica possível. “Nós nos desafiamos fazer tudo com o melhor resultado, mas por menos dinheiro”, conta Eisenman. A primeira casa, inevitavelmente, teve despesas extras, pois a equipe a construiu pela primeira vez. Mas eles acreditam que o projetopode ser feito de forma econômica.

A Housing First Community Coalition (Coligação Moradia Comunitária em Primeiro Lugar, em tradução livre) , a organização que administra a comunidade de moradias de assistência, planeja avaliar a casa – e as outras casas que a Ikea mobiliou – nos próximos meses.

A comunidade já foi projetada para atender a idosos com deficiências, mas o trabalho da Ikea nos interiores “é definitivamente um aprimoramento do que fizemos”, diz Edward Gonzales, diretor executivo da organização sem fins lucrativos. 

Crédito: Ikea

Se a equipe receber um feedback positivo, as mesmas ideias (e, provavelmente, os móveis da Ikea) poderão ser adicionadas a casas que ainda estão em construção. No futuro, quando os trailers no local precisarem ser substituídos, o projeto da pequena casa personalizada também poderá ser replicado.

A Ikea planeja oferecer treinamento em design informado sobre trauma a funcionários de todo o país, para que esses princípios possam ser usados em outros projetos. O objetivo é tornar esse tipo de design mais difundido.

“Queremos aumentar a conscientização sobre o tema”, diz Eisenman. “Esperamos que, com isso, possamos envolver as partes interessadas necessárias e realmente começar a popularizar o conceito e torná-lo mais comum.”


SOBRE A AUTORA

Adele Peters é redatora da Fast Company. Ela se concentra em fazer reportagens para solucionar alguns dos maiores problemas do mundo, ... saiba mais