Cidade devastada por furacão nos EUA era considerada um “refúgio climático”
Alguns locais são mais seguros que outros, mas o fato é que não há como escapar dos efeitos da mudança climática
A cidade de Asheville, no estado da Carolina do Norte, nos EUA, frequentemente aparece em listas de "refúgios climáticos" – cidades que supostamente podem evitar os piores impactos das mudanças climáticas.
Localizada nas montanhas Blue Ridge, é alta o suficiente para que o calor extremo ainda seja relativamente raro. Não está perto do litoral, o que significa que a elevação do nível do mar não é um problema.
A população de Asheville está crescendo rapidamente, e uma das razões é que as pessoas a veem como uma cidade "segura". Um casal aposentado disse ao “The New York Times”, em 2022, que tinha escolhido se mudar para lá depois de morar na Flórida – onde tiveram que sair de casa oito vezes por causa de furacões – e na Califórnia, onde enfrentaram seca e incêndios florestais.
Em uma pesquisa de 2022, quase um terço dos norte-americanos disse que, se fossem trocar de endereço no ano seguinte, as mudanças climáticas seriam um fator a ser considerado.
O problema é que não é possível fugir totalmente dos impactos climáticos. Em Asheville, a chuva torrencial do furacão Helene, na semana passada, inundou a cidade, derrubou a rede elétrica e o serviço de celular. Dezenas de pessoas morreram. O sistema de abastecimento de água foi severamente danificado e pode demorar semanas para voltar a operar plenamente.
Algumas cidades menores da região, como Swannanoa e Chimney Rock, foram ainda mais afetadas. Nesta segunda-feira, centenas de estradas de parte do estado ainda estavam intransitáveis. Alimentos e outros suprimentos básicos estavam sendo transportados por via aérea.
A região enfrenta outros riscos climáticos. À medida que fica mais quente e que chuvas intensas se alternam com períodos de seca, cresce o risco de incêndios florestais. É que, como na Califórnia e em outras áreas propensas a incêndios, as florestas da Carolina do Norte têm sido mal administradas.
NÃO HÁ MAIS LUGAR SEGURO?
Outros chamados “refúgios climáticos” nos EUA enfrentam desafios semelhantes. O estado de Vermont foi devastado por enchentes tanto no ano passado quanto no início deste ano. As enchentes de 2023 devastaram o condado de Lamoille, uma área que um relatório de 2020 da ProPublica havia classificado como o lugar menos arriscado em relação às mudanças climáticas em todo o país.
Na região do meio-oeste, o calor e a seca estão tornando os incêndios florestais mais prováveis em algumas localidades. Incêndios recordes no Canadá cobriram de fumaça cidades consideradas “seguras” como Buffalo e Duluth. No Oregon, incêndios florestais causaram intensa poluição atmosférica em 2020 e o calor extremo danificou a infraestrutura em 2021.
As mudanças climáticas são inevitáveis. Ainda assim, é verdade que alguns lugares são relativamente mais seguros do que outros. Nas áreas que acabaram de ser inundadas em Asheville, havia apenas uma probabilidade em 500 de ocorrer uma enchente, de acordo com modelos da First Street, organização que cria ferramentas para entender o risco climático.
"Isso significa que há uma probabilidade anual de 0,2% de algo assim acontecer, o que não é impossível, mas é muito pequeno", diz Matthew Eby, fundador e CEO da First Street. "Na Flórida, segundo nossas previsões, há locais que têm uma probabilidade de 50% de inundar, ou seja, inundariam a cada dois anos."
Em Asheville, a chuva torrencial do furacão Helene inundou a cidade, derrubou a rede elétrica e o serviço de celular.
Cada localidade é diferente. Os dados da First Street permitem que quem pretende comprar um imóvel veja o risco de enchentes, incêndios florestais, calor extremo, ventos de tempestades e poluição do ar em um endereço específico. Para quem está comprando uma casa agora, faz sentido usar essas ferramentas para tomar uma decisão informada.
Claro, muitas pessoas não tinham esse tipo de informação em mãos quando compraram ou alugaram a casa onde vivem atualmente. Como as casas em zonas de enchentes podem ser mais baratas, outras pessoas podem não conseguir pagar por uma casa de menor risco. As comunidades precisam descobrir como tornar cada bairro o mais resiliente possível.
Como um artigo da Grist coloca, refúgios climáticos "talvez não sejam algo que a natureza nos entregue, mas algo que teremos que construir por conta própria".