Como a colaboração entre cidades ajuda a lidar com a crise climática

Metrópoles como Nova York e Londres devem trabalhar em conjunto para criar programas visando o bem maior em tempos de mudança climática

Créditos: shark_749/ iStock

Pru Ashby 4 minutos de leitura

As metas do prefeito Sadiq Khan para que a cidade de Londres se torne carbono zero e poluição zero até 2030 são bem ambiciosas. No entanto, para realmente atingirmos essas metas é preciso garantir que as cidades trabalhem juntas, resolvendo coletivamente um problema que impacta a todos.

Em nome de um bem maior, cidades como Nova York e Londres precisam trabalhar alinhadas, para desenvolver e ampliar programas de mudança climática e inovações tecnológicas nesse setor.  

A seguir, trago alguns exemplos de como cidades, formuladores de políticas e organizações podem trabalhar em conjunto e explico como vejo o potencial dessas ações. 

NÃO SE PODE AGIR ISOLADAMENTE

Os formuladores de políticas não podem trabalhar em bolhas. Eles precisam oferecer plataformas que promovam a colaboração. Felizmente, organizações como o  C40, um grupo de dezenas de prefeitos de todo o mundo que buscam trabalhar juntos na mudança climática, têm ajudado a estabelecer as bases para mais trabalhos em conjunto.

O grupo tem a meta de reduzir pela metade as emissões das cidades-membros dentro de uma década e, ao mesmo tempo, estimular a economia verde. No final do ano passado, os prefeitos do C40 anunciaram que desenvolveriam coletivamente programas e iniciativas para impulsionar a criação de 50 milhões de empregos verdes adicionais até 2030.

Crédito: Juan Pablo Barrientes/ C40

As cidades que quiserem aderir a essa iniciativa precisam apresentar um plano climático acionável ou iniciativas que impulsionem a urgência e a atenção dada à meta do Acordo de Paris de limitar o aumento da temperatura global a não mais que 1,5 grau Celsius. Isso ajuda a definir um modelo global para cidades de todo o mundo seguirem e trabalharem rumo a um futuro de carbono zero.

Também é fundamental criar alguma plataforma para que os jovens se envolvam ainda mais na luta contra as mudanças climáticas. O Fórum Global de Jovens e Prefeitos associa jovens ativistas climáticos a prefeitos de todo o mundo para criar um ambiente inclusivo, permitindo que as vozes do futuro tenham a oportunidade de serem escutadas fora do ambiente educacional.

Essas políticas não deveriam ficar limitadas ao C40. Precisamos encorajar as crianças a se envolverem desde cedo para ajudar a moldar o futuro que queremos para elas.

ESTRATÉGIAS DE CRESCIMENTO SUSTENTÁVEL

Felizmente, apesar da queda no financiamento total de capital de risco em 2022, o financiamento global está crescendo. Novos dados da  London & Partners mostram que o investimento em empresas de tecnologia climática aumentou significativamente no mundo todo, atingindo cerca de US$ 101,3 bilhões em 2021/ 2022 , em comparação com US$ 44,5 bilhões em 2019/ 2020.

Os formuladores de políticas públicas não podem trabalhar em bolhas. Eles precisam oferecer plataformas que promovam a colaboração.

Londres e Nova York receberam muita atenção, especialmente depois do financiamento climático nos últimos dois anos, já que as empresas com sede na capital britânica receberam US$ 3,7 bilhões em financiamento e as empresas com sede em Nova York receberam US$ 3,1 bilhões.

Essas duas metrópoles também têm interesse em tornar o setor imobiliário e habitacional mais sustentável, delineando objetivos claros. Por exemplo, o Desafio do Clima Empresarial 2022, proposto pelo prefeito de Londres, aborda a necessidade de reforma de mais de 26 mil prédios por ano na cidade.

A Fifth Wall, empresa de capital de risco com sede em Nova York, se expandiu para Londres no ano passado e criou um fundo de US$ 500 milhões para se concentrar especificamente na descarbonização do setor imobiliário.

A Fifth Wall estima que o setor responde por cerca de 40% das emissões de CO2, mas, historicamente, não tem sido o foco dos fundos climáticos. A estimativa é que apenas 6% desses fundos estão indo para o mercado imobiliário.

Londres também está empenhada em apoiar o desenvolvimento de infraestrutura sustentável e de transporte ecologicamente correto, delineando metas concretas para alcançar zero líquido até 2030.

Crédito: Lime

Por exemplo, a estratégia de infraestrutura de veículos elétricos estabelece um roteiro para a eliminação gradual de vendas de veículos a gasolina e diesel, apresentando uma oportunidade de ouro para organizações como a Lime, empresa de aluguel de patinetes e bicicletas.

Em 2022, a Lime anunciou um investimento de 20 milhões de libras para expandir seu alcance em Londres, já que os dados sobre o número de passageiros mostraram que os trajetos usando as e-bikes da empresa dobraram em 2021 em comparação com 2020 e 2019 somados.

é fundamental criar alguma plataforma para que os jovens se envolvam ainda mais na luta contra as mudanças climáticas.

Esse compromisso com o crescimento e com a mudança, mesmo que recente, ajudou a Lime a se tornar a primeira empresa de micromobilidade a registrar um ano totalmente lucrativo.

As empresas que pretendem se expandir, tanto nacional quanto internacionalmente, precisam comunicar aos investidores como atuam em uma estrutura política mais ampla, a exemplo da estratégia de infraestrutura de veículos elétricos de Londres.

Cabe aos formuladores de políticas garantir que essas mensagens também sejam divulgadas. Mas, se as empresas estiverem cientes delas com antecedência, terão mais chances de atrair a atenção dos investidores.

Ainda há muito trabalho a ser feito para combater as mudanças climáticas e cumprir as metas estabelecidas pelo Acordo de Paris. Mas também está claro que será muito mais complicado se empresas, organizações, cidades e países trabalharem em bolhas.

Sem dúvida, não há nenhum outro problema que nos afete de modo tão coletivo. Por isso, precisamos continuar a incentivar a colaboração.


SOBRE A AUTORA

Pru Ashby é chefe de sustentabilidade da empresa de comércio e desenvolvimento internacional London & Partners. saiba mais