Como a criatividade está transformando lixo plástico em objetos de arte
Artistas estão usando resíduos plásticos para criar objetos que evidenciam a poluição
Duke Riley começou sua trajetória criando artesanatos marítimos, como quadros e pinturas em marfim, utilizando conchas, ossos e outros materiais encontrados nas praias de Cape Cod e de Nova York, no nordeste dos EUA.
Em 2017, ele encontrou o que pensava ser um pedaço de osso, mas, ao examinar o objeto mais de perto, percebeu que se tratava de uma escova de plástico usada para limpar barcos. Esse momento marcou uma mudança em sua visão artística. “Quero criar peças que reflitam a real condição das praias”, disse Riley.
No ano passado, ele exibiu no Brooklyn Museum mais de 200 obras de arte feitas a partir de milhares de objetos de plástico – garrafas de detergente, escovas de dente, aplicadores de absorventes internos e outros itens – recolhidos das praias da costa leste dos EUA.
Desde a década de 1950, os seres humanos produziram cerca de oito bilhões de toneladas de plástico. A produção de plástico é responsável por 4,5% de todas as emissões de gases de efeito estufa, quase o dobro do que a indústria da aviação produz. E apenas 9% é reciclado. Quando descartado na natureza, o plástico se infiltra em rios e córregos e se acumula no estômago de peixes e aves marinhas.
É difícil medir a escala da crise do plástico. Mas cada vez mais artistas estão chamando a atenção para o problema e desafiando o público a repensar seus hábitos de consumo.
Em maio, a Bienal de Arquitetura de Veneza sediou uma exposição chamada “Everlasting Plastics”, destacando nossa “relação problemática” com o material através do trabalho de cinco artistas. As obras incluíam cestas feitas de garrafas plásticas recicladas e esculturas que pareciam gotejar plástico derretido.
Em Nova York, a artista Beverly Barkat apresentou um globo composto por 180 painéis produzido a partir de lixo plástico e o escultor Willie Cole instalou quatro lustres feitos com nove mil garrafas de água descartadas.
“Em muitos aspectos, essa é uma questão abstrata e intangível”, diz Riley, observando que o problema vai além do que podemos ver. “Não existem respostas fáceis, mas acredito que a arte pode ajudar as pessoas a terem uma noção e a buscarem uma maneira de discutir esses problemas.”
Liz St. George, do Brooklyn Museum, responsável pela curadoria da exposição de Riley, observou que os visitantes refletiam sobre seus hábitos de consumo ao examinarem as obras. “Eles veem um item de plástico, como um palito de dentes, e pensam: ‘eu uso isso todos os dias’”, conta.
Segundo ela, os artistas não estão apenas explorando o plástico em suas obras, também estão enfrentando a crise de forma mais concreta. Riley, por exemplo, organiza limpezas ao longo das praias de Gunnison Beach, em Nova Jersey.
Em 2008, Aurora Robson, que cria esculturas etéreas usando o material, iniciou o “Project Vortex”, um coletivo de artistas e designers que criam e apoiam projetos para reutilizar plásticos de uso único.
Robson enxerga as crises do clima e do plástico como problemas que requerem soluções criativas acima de tudo. “Com as minhas obras, busco inspirar as pessoas e fazê-las pensar sobre o que poderiam fazer com o plástico”, diz ela.
Willie Cole afirma que seus lustres mostram o quão enraizado o plástico está na vida cotidiana e o quão difícil será abandoná-lo. As garrafas com as quais trabalha remetem às 70 mil garrafas de água distribuídas em sua cidade natal, Newark, depois que a Agência de Proteção Ambiental dos EUA declarou que a água da região, contaminada com chumbo, era imprópria para consumo.
Cole se descreve como um “engenheiro perceptivo”, cujo trabalho pode oferecer uma nova forma de ver o mundo. Ele espera que suas esculturas inspirem o público a repensar seus hábitos de consumo. “Não posso mudar o mundo, mas sei, que toda vez que faço um lustre, as pessoas doam suas garrafas plásticas para mim.”
Este artigo foi publicado originalmente no Nexus Media News.