Como o regime de trabalho híbrido vai influenciar o futuro das cidades

Com o modelo híbrido, podemos criar cidades mais vibrantes, adaptáveis ​​e resilientes

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Gleb Tsipursky 4 minutos de leitura

O modelo tradicional de trabalho está passando por uma grande transformação, sendo substituído por um formato híbrido que combina trabalho remoto e presencial. De acordo com um relatório da McKinsey, a presença nos escritórios agora é 30% menor do que antes da pandemia.

Essa mudança tem profundas implicações: sem a necessidade de estar sempre presentes em seus locais de trabalho físicos, muitas pessoas estão deixando os centros urbanos, o que causa um efeito cascata na economia. O relatório da McKinsey revela que o núcleo urbano de Nova York perdeu 5% de sua população entre meados de 2020 e 2022, e São Francisco registrou uma queda de 6%.

Esse êxodo resultou em aumento nas taxas de vacância e redução do fluxo de pessoas perto de lojas em áreas metropolitanas, que ainda permanece entre 10% e 20% abaixo dos níveis pré-pandemia.

IMPACTO NO SETOR IMOBILIÁRIO COMERCIAL

Segundo o relatório, a baixa procura por escritórios e espaços de varejo nas principais cidades do mundo deve continuar. O estudo prevê um cenário moderado nos EUA, onde a demanda será 13% menor em 2030 do que era em 2019 para uma cidade mediana. Isso significa que os líderes empresariais precisam repensar suas estratégias imobiliárias.

A redução na procura por escritórios pode levar a um excesso de oferta, o que potencialmente resultará em uma redução nos preços dos aluguéis. Isso pode abrir oportunidades para as empresas negociarem termos de locação mais favoráveis ou considerarem a possibilidade de se mudar para áreas mais nobres, que antes eram inacessíveis.

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No entanto, é importante lembrar que o mercado imobiliário é inerentemente local e que a demanda varia consideravelmente de acordo com o bairro e a cidade. Áreas caracterizadas pelo grande número de escritórios, custo elevado de moradia e grandes empregadores no setor do conhecimento podem observar uma demanda mais baixa.

Os líderes empresariais precisam levar em consideração essas variações locais. Por exemplo, pode ser benéfico manter um escritório central menor na cidade para reuniões com clientes e colaboração em equipe e permitir que os funcionários trabalhem remotamente ou em escritórios satélites em áreas menos densas.

Os grandes edifícios de escritórios tradicionais precisarão ser repensados para acomodar tanto o trabalho presencial quanto o remoto.

A transição para o trabalho híbrido também afeta a contratação e retenção de talentos. Com muitos colaboradores não mais vinculados a um local específico, as empresas podem acessar um conjunto mais amplo de profissionais.

No entanto, isso também significa que os funcionários têm mais flexibilidade para trocar de emprego sem a necessidade de se mudar, o que pode aumentar a competição por talentos.

ESTRATÉGIAS-CHAVE

Uma das estratégias fundamentais para se adaptar a essa nova realidade é a criação de bairros de uso misto – áreas onde os setores residencial, comercial e de entretenimento coexistem, formando comunidades autossuficientes e vibrantes. Investir em empreendimentos de uso misto pode proporcionar uma fonte de receita diversificada e construir um portfólio mais resiliente.

Além disso, oferece a oportunidade de criar um ambiente mais atrativo para os colaboradores, o que pode ser benéfico para atrair e reter talentos.

O modelo de trabalho híbrido exige espaços mais flexíveis. Os grandes edifícios de escritórios tradicionais precisarão ser repensados para acomodar tanto o trabalho presencial quanto o remoto. Isso envolve a criação de espaços colaborativos para reuniões de equipe e sessões de brainstorming, áreas silenciosas para o trabalho focado e estruturas que suportem a comunicação e a colaboração virtual.

Esse novo formato de trabalho também tem implicações para o varejo. Com menos movimento nas áreas urbanas, é preciso rever estratégias. Uma delas é criar espaços que combinem usos comerciais, corporativos e residenciais.

De acordo com um relatório da McKinsey, a baixa procura por escritórios e espaços de varejo nas principais cidades do mundo deve continuar.

Os líderes precisam pensar de forma criativa sobre como utilizar o espaço. Isso pode incluir transformar parte de uma loja em um espaço de coworking ou usar parte do escritório para ações de varejo temporárias ou eventos. Essa estratégia não apenas aproveita melhor o espaço, mas também cria um ambiente mais vibrante e envolvente.

A tecnologia desempenha um papel fundamental em sustentar o modelo de trabalho híbrido. Além de proporcionar as ferramentas e plataformas que possibilitam o home office, ela também dá suporte à operação e gestão de edifícios. Por exemplo, a tecnologia de edifícios inteligentes pode ajudar a otimizar o consumo de energia e gerenciar a segurança do local.

Investir em tecnologia não deve ser visto como custo, mas sim como uma decisão estratégica que pode impulsionar a eficiência, melhorar a sustentabilidade e criar um ambiente de trabalho mais agradável. Além disso, oferece a oportunidade de coletar dados que podem embasar a tomada de decisões.

O FUTURO DAS CIDADES

Do ponto de vista empresarial, o futuro das cidades diante da revolução do trabalho híbrido pode parecer incerto, mas também é repleto de potencial. Os desafios enfrentados por elas podem estimular uma transformação histórica dos espaços urbanos.

Imagine uma cidade onde os grandes edifícios não são apenas para trabalho, mas também para moradia, compras e socialização. Pense em um bairro onde você pode viver, trabalhar e se divertir sem precisar se deslocar.

Este é o futuro que o novo modelo de trabalho pode trazer – as próprias cidades se tornam espaços híbridos, da mesma forma como o trabalho que realizamos. Assim, podemos criar cidades mais vibrantes, adaptáveis e resilientes.


SOBRE O AUTOR

Gleb Tsipursky é CEO da Disaster Avoidance Experts, boutique de consultoria sobre o futuro do trabalho. saiba mais