Como reduzir a pegada do cimento, responsável por 8% das emissões de carbono

A maioria das construções é feita com cimento, que libera muito carbono na atmosfera. A Terra CO2 quer tornar esse processo mais limpo

Crédito: Jung Getty/ GettyImages

Adele Peters 3 minutos de leitura

As bilhões de toneladas de cimento produzidas a cada ano têm uma enorme pegada de carbono: 8% das emissões globais, ou quatro vezes mais do que o setor de transporte aéreo. Isso ocorre tanto por causa da energia usada na produção quanto porque o calcário, sua principal matéria-prima, também libera CO2 quando aquecido.

Por isso, um número cada vez maior de startups está em busca de alternativas, como o “biocimento” feito com micróbios, capaz de capturar CO2 para ajudar a compensar as emissões do processo de fabricação; e a substituição do calcário por outras rochas, com níveis menores de emissão.

Uma startup chamada Terra CO2 se concentra exatamente na substituição e argumenta que sua abordagem pode ser aplicada em grande escala, já que utiliza materiais baratos e abundantes.

Seu processo substitui parcialmente o cimento Portland, a “cola” à base de calcário do concreto, por rochas silicáticas, que são extraídas de minas de agregados já em operação em todo o território norte-americano.

Crédito: Terra CO2/ Divulgação

“O concreto é tão utilizado que somente uma matéria-prima em grande escala e fácil de obter poderá reduzir seu impacto”, afirma Bill Yearsley, que passou 40 anos na indústria de materiais de construção antes de cofundar a Terra CO2. “Estamos trabalhando com rochas silicáticas, o material rochoso mais abundante na crosta terrestre.”

Há cerca de sete anos, Yearsley fez parceria com Donald “D.J.” Lake, cientista de materiais que estava trabalhando em uma alternativa para o cimento com base em pesquisas universitárias. “Logo vimos seu potencial de reduzir consideravelmente as emissões de CO2”, conta Lake.

Após triturar as rochas, elas são aquecidas e viram um pó. Esse material, conhecido na indústria como um tipo de “material cimentício suplementar”, ou MCS, pode substituir parcialmente o cimento.

Crédito: Terra CO2/ Divulgação

Ele desempenha o mesmo papel que as cinzas volantes, um resíduo da fabricação do carvão que também é usado no concreto para substituir parte do cimento. Mas, como as usinas de carvão fecharam, já que a queima vai na contramão das metas climáticas, menos cinzas volantes estão disponíveis. Se o material da Terra CO2 for produzido com energia limpa, terá emissão zero.

“Tecnicamente, já somos capazes de produzir MCS manufaturado neutro em carbono. No entanto, nossa restrição é econômica”, explica Yearsley. A empresa ainda não consegue usar hidrogênio ou energia renovável e competir em custos, mas espera eliminar suas emissões nos próximos cinco anos.

Crédito: Terra CO2/ Divulgação

Para uma produção em grande escala, é necessário que o custo seja baixo. Segundo Yearsley, a Terra CO2 é competitiva em termos de custos mesmo sem nenhum tipo de incentivo, como créditos de carbono.

O produto também é compatível com a infraestrutura existente na indústria de concreto, logo, as usinas não precisam fazer nenhuma mudança, basta utilizar o novo material.

Como as empresas da indústria têm minas que produzem as rochas que a Terra CO2 precisa, a startup também se tornaria sua cliente, aumentando o incentivo para que adotem o material.

“Na maioria dos casos, poderíamos usar o material de menor valor extraído das minas, o que facilitaria a vida deles”, explica Yearsley. “Então produziríamos [o MCS] e o venderíamos para que o utilizem em sua própria fabricação.”

A Terra CO2 atualmente opera duas pequenas usinas-piloto. Sua primeira usina comercial será inaugurada em Denver, no Colorado, no próximo ano. Ela será capaz de fornecer cerca de metade do material cimentício suplementar utilizado na região metropolitana. E a ideia é construir usinas como essa em outras cidades.

Crédito: Terra CO2/ Divulgação

O primeiro produto será usado para substituir entre 10% e 30% do cimento no concreto. Se metade da indústria norte-americana aderir à troca, substituindo 20% do cimento em suas misturas, a estimativa é de uma redução de seis milhões de toneladas de CO2 anualmente.

A empresa também está trabalhando para substituir por completo o cimento Portland por outros materiais de baixo custo. Mas, segundo Yearsley, ainda levará alguns anos até sua comercialização.

“Queremos que o concreto fabricado com o nosso material tenha o mesmo aspecto e desempenho do que é utilizado na construção civil”, diz ele. “O objetivo é criar uma alternativa para diminuir o impacto ambiental e manter os mesmos equipamentos e infraestrutura usados pela indústria hoje.”


SOBRE A AUTORA

Adele Peters é redatora da Fast Company. Ela se concentra em fazer reportagens para solucionar alguns dos maiores problemas do mundo, ... saiba mais