Conheça a engenheira que está fazendo as empresas usarem menos plástico

Os bastidores políticos e tecnológicos da nova Lei de Prevenção da Poluição Plástica e Responsabilidade do Produtor de Embalagens da Califórnia

Crédito: Freepik

Adele Peters 3 minutos de leitura

Quando Anja Brandon era estudante de doutorado na Universidade de Stanford, em meados da década de 2010, sua pesquisa focava na criação de novas maneiras de usar a biologia para decompor o lixo plástico.

Mas foi aí que ela se deu conta de uma realidade alarmante: a escala desse desafio é tão grande que a tecnologia por si só não é suficiente para enfrentá-lo. Afinal, 11 milhões de toneladas de lixo plástico vão parar no oceano todos os anos, e até 2040 esse número pode aumentar para 30 milhões de toneladas.

Até agora, ninguém tinha colocado o dedo na ferida e dito com todas as letras: 'ei, gente, o problema é o seguinte, estamos fabricando plásticos demais'.

Em uma tentativa de se envolver com uma mudança sistêmica, ela decidiu entrar na política. Mas sua mudança de carreira começou mesmo a valer a pena quando, em junho de 2022, o governador da Califórnia, Gavin Newsom, sancionou a Lei de Prevenção da Poluição Plástica e Responsabilidade do Produtor de Embalagens.

Anja Brandon – que na época trabalhava como analista de políticas de plásticos na organização sem fins lucrativos Ocean Conservancy – foi coautora dessa legislação inovadora, que exige que as empresas que vendem produtos no estado não apenas financiem uma nova infraestrutura de reciclagem para coletar suas embalagens antigas, mas também reduzam seu próprio uso de plástico. 

A lei exige que a quantidade de embalagens plásticas seja reduzida em 25% até 2032, o que equivale a evitar 23 milhões de toneladas do material na próxima década. Outros estados norte-americanos têm leis que obrigam os fabricantes a assumir a responsabilidade pela reciclagem de embalagens, mas esta é a primeira regra a exigir também um corte na produção de plástico.

“Até agora, ninguém tinha colocado o dedo na ferida e dito com todas as letras: 'ei, gente, o problema é o seguinte: estamos fabricando plásticos demais'”, diz Brandon. “Já que esse é o problema, então precisamos adotar uma solução direta, que exige usar menos plásticos descartáveis.”

Criar uma legislação é um trabalho de equipe. A lei foi proposta pelo senador estadual Ben Allen e redigida em parte por sua equipe, mas Anja Brandon desempenhou um papel fundamental na elaboração do texto, que se tornou lei depois que muitos esforços anteriores para conter o plástico falharam.

11 milhões de toneladas de lixo plástico vão parar no oceano todos os anos, e até 2040 esse número pode aumentar para 30 milhões de toneladas.

Na mesa de negociação, ouviu as preocupações das marcas, dos governos locais, da indústria do plástico e de outras partes interessadas, acertando os detalhes do texto na redação final. Ela procurou soluções inteligentes: quando as empresas se opuseram a uma proposta de proibição de embalagens de espuma, sugeriu a exigência de que o material se tornasse suficientemente reciclável. Como é improvável que isso aconteça, na prática funcionou como uma proibição, mas a indústria acatou o texto.

“Eu abordo a política da mesma forma que abordo a ciência”, diz Brandon, que agora é diretora associada da Ocean Conservancy para a política de plásticos dos EUA. “Mas, em vez de otimizar um experimento ou um problema de matemática, trata-se de otimizar discussões e relacionamentos entre as pessoas.”

A engenheira ambiental agora está pressionando para tornar a lei um modelo para outras legislações estaduais seguirem e para incluir uma política semelhante em um tratado global de poluição por plástico que está atualmente em negociação nas Nações Unidas.


SOBRE A AUTORA

Adele Peters é redatora da Fast Company. Ela se concentra em fazer reportagens para solucionar alguns dos maiores problemas do mundo, ... saiba mais