Conheça o fundador da maior comunidade de viagem LGBT+ do mundo

Criada após uma experiência ruim no exterior, a plataforma cresceu e agora conta com mais de um milhão de usuários

Crédito: Anna Shvets/ Pexels

Shalene Gupta 4 minutos de leitura

Há cerca de uma década, Matthieu Jost estava viajando com seu parceiro pela Espanha. Eles haviam reservado um quarto em uma casa, mas, ao chegarem, perceberam que o anfitrião não se sentia à vontade com um casal gay.

Jost e seu parceiro deixaram o local imediatamente, mas a experiência os abalou. Ele queria garantir que outros como eles pudessem viajar com segurança. Assim, Jost, um empreendedor francês, levantou US$ 15 milhões para criar a Misterb&b, plataforma de viagens que inicialmente era focada apenas em homens gays e agora se tornou a maior comunidade de viagens LGBTQIA+ do mundo.

Hoje, a Misterb&b conta com mais de um milhão de usuários e Jost foi apontado pela revista “Out” como um dos 100 líderes LGBTQIA+ mais influentes.

A Fast Company conversou com ele sobre sua experiência em criar um negócio internacional para um grupo que ainda sofre preconceito, bem como as oportunidades e desafios de ser um líder para toda uma comunidade.

Fast Company Que experiências o ajudaram a criar a Misterb&b?

Matthieu Jost – Quando tinha 17 anos, eu morava em uma cidade bem pequena na França e, às vezes, ficava bastante entediado. Decidi criar minha própria empresa, um site dedicado a programas de TV. Eu o vendi e depois abri uma empresa semelhante ao TripAdvisor. Foi assim que conheci François de Landes, meu cofundador. Queríamos fundar uma empresa voltada para a comunidade LGBTQIA+.

Fast Company Qual foi o maior desafio para fazer a Misterb&b crescer?

Matthieu Jost –Aumentar o número de opções de hospedagem. Estávamos trabalhando no mercado LGBTQIA+, que era um nicho muito específico. Encontrar quartos foi desafiador.

Mathieu Jost (Crédito: Divulgação)

Fizemos parcerias com aplicativos voltados para a comunidade e trabalhamos com os anfitriões que tínhamos na época para encontrar novos – eles conheciam o serviço e o usavam, então, oferecemos um bônus por indicar amigos.

Em termos de publicidade, foi muito difícil segmentar usuários por orientação sexual. Tivemos que ser muito estratégicos e entender nosso público. Nas redes sociais, segmentamos com base em interesses – por exemplo, homens gays tendem a gostar de certos tipos de artistas, então criamos grandes listas de interesses.

Fast Company Quais são seus compromissos com os clientes e anfitriões? 

Matthieu Jost – Queremos que as pessoas possam se conectar dentro da comunidade e ter experiências seguras. Verificamos todos os nossos usuários. Também fornecemos e implementamos ferramentas para ajudá-los a se conectarem, mesmo aqueles que não utilizam plataformas mainstream. É possível, por exemplo, encontrar lugares para ficar no “bairro gay” de uma cidade.

Temos um filtro para todo o tipo de preferência. Se você é comunicativo, pode encontrar um anfitrião comunicativo. Se prefere não conversar, pode encontrar um mais introvertido. Criamos também um filtro para compartilhar interesses com os anfitriões.

Quando estávamos levantando fundos pela primeira vez, os investidores não entendiam o mercado e seu potencial.

Cerca de 65% dos nossos usuários são viajantes solo – queremos combater a solidão. Estamos construindo uma comunidade. É comum se sentir sozinho sendo uma pessoa LGBTQIA+.

Usamos machine learning para detectar atividades fraudulentas. Deixamos muito claro no processo de listagem que o anfitrião está hospedando membros da comunidade LGBTQIA+. Nossa equipe de confiança e segurança produz relatórios para identificar  anúncios problemáticos e removê-los.

Fast Company Você foi apontado como um dos principais líderes LGBTQIA+ pela revista “Out”. Qual é o maior desafio de ser um líder para essa comunidade?

Matthieu Jost – Precisamos lutar mais. Sem dúvida, é mais difícil para nós. Quando estávamos levantando fundos pela primeira vez para a Misterb&b, os investidores não entendiam o mercado e seu potencial. Participamos de uma reunião e nos disseram que a empresa não podia investir em “jogos de azar e sexo”. Fomos associados a um empreendimento sexual!

Crédito: Mister b&b/ Divulgação

Isso aconteceu três vezes na França, então fomos para os Estados Unidos. Na nossa primeira reunião no Vale do Silício, nos disseram o mesmo. Ficamos chocados. Até nos EUA, para algumas pessoas, um negócio voltado para clientes LGBTQIA+ era automaticamente associado a sexo.

É desafiador e leva tempo, mas, se eu não fizer isso, quem vai fazer? Estou feliz em abrir o caminho para a futura geração – e já estamos vendo algumas mudanças.

Fast Company Que conselho você daria para outros líderes LGBTQIA+ ou aspirantes a líderes?

Matthieu Jost – Nunca desista. Não posso dizer que será fácil. Nossa vida sempre foi difícil em comparação com a de pessoas heterossexuais. O que precisamos fazer é continuar lutando – e não desistir nunca.


SOBRE A AUTORA

Shalene Gupta é jornalista e escritora, co-autora do livro "The Power of Trust: How Companies Build It, Lose It, Regain It". saiba mais