COP27 e a expectativa por ações efetivas contra a emergência climática

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Anna de Souza Aranha 3 minutos de leitura

A COP 27 (Conferência das Partes, das Nações Unidas) chegou marcada como um evento focado na implementação de ações efetivas contra a emergência climática. O que tem sido discutido entre as próprias lideranças da conferência climática da ONU – realizada no Egito, entre os dias 6 e 18 de novembro – é a necessidade urgente de colocar efetivamente em prática iniciativas para cumprir os compromissos já firmados pelos países. 

Em uma manifestação divulgada em 28 de setembro, o presidente da COP 27, H.E. Sameh Shoukry, ministro egípcio das Relações Exteriores, afirmou que o objetivo do encontro deste ano é acelerar medidas previstas em pactos anteriores, como o Acordo de Paris.

Sameh Shoukry, presidente da COP 27 (Crédito: COP27 Presidency)

A mensagem acende um alerta de que é preciso acelerar as providências para mitigar os efeitos negativos causados pela emergência climática. Um relatório da ONU divulgado em 26 de outubro reforça essa preocupação com dados. Dos 193 países que em 2021 concordaram em intensificar suas ações de combate ao aquecimento global, apenas 26 avançaram no propósito. 

Do lado das empresas, uma pesquisa do Boston Consulting Group (BCG) com mais de 1,6 mil organizações de 18 países mostrou que houve avanço de apenas um ponto percentual, no último ano, nos processos de medição das emissões de carbono. Somente 10% das corporações pesquisadas medem suas emissões de forma abrangente; em 2021, eram 9%. Aqui, estamos falando de empresas de mil ou mais funcionários, representantes de 14 tipos de indústria e com receitas entre US$ 100 milhões e mais de US$ 10 bilhões. 

Ainda segundo o levantamento do BCG, as companhias assumem que sabem da necessidade de foco na descarbonização, mas não a definiram ainda como prioridade.  

Então, como empresas e governos podem trazer para a prática os compromissos assumidos? 

São muitas as ações possíveis, que passam por políticas públicas, regulamentações e requerem ainda o enfrentamento de barreiras culturais e comportamentais, além da informação e conscientização sobre o tema. Nesta linha, acredito bastante no caminho que muitas empresas têm implementado: o de unir a sustentabilidade com a inovação. 

Inovação aberta como um caminho possível de cumprimento de metas  

Por meio da inovação aberta, grandes corporações podem buscar no mercado expertises complementares, que não possuem dentro de casa, para cumprirem com os compromissos da agenda socioambiental. Os negócios de impacto têm soluções prontas e com histórico de implementação, se apresentando como potenciais aliados das empresas na hora de transformar as metas em ações práticas. 

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Trago um dado que fortalece essa ideia: segundo o 3º Mapa de Negócios de Impacto da Pipe.Social, 49% das startups de impacto no Brasil são verdes (greentechs).

As oportunidades para o Brasil na agenda climática compõem um campo fértil para o surgimento de ainda mais soluções e tecnologias para a redução de emissões, em temas como agricultura de baixo carbono, gestão de resíduos, reflorestamento, conservação das florestas e energia renovável. 

Empresas como Ambev e Braskem são exemplos das que apostam na inovação aberta, desenvolvendo e implementando soluções de startups de impacto positivo em temáticas como gestão de resíduos, embalagem circular, agricultura sustentável, gestão de água e florestas. 

As empresas sabem da necessidade de foco na descarbonização, mas não a definiram ainda como prioridade.

As iniciativas têm sido bastante abrangentes, alcançando pontos de combate ao aquecimento global que muitas vezes estavam fora do radar das empresas em um primeiro momento.

Um exemplo de abordagem é o da Recigases, startup que já firmou relacionamento com as duas empresas. A solução regenera gases de refrigeração usados em aparelhos de ar-condicionado e geladeiras, que quando vazam para a atmosfera, têm um efeito poluente 1,3 mil vezes maior que o do gás carbônico. Segundo um ranking de 50 ações da Project Drawdown, melhorar a gestão dos fluídos de refrigeração é a quarta iniciativa com maior impacto para reduzir o aquecimento global até 2050.  

Sabemos que a emergência climática é um dos principais temas a serem trabalhados pelo poder público, setor privado e sociedade civil nos próximos anos. Por isso, acredito que construir pontes entre grandes empresas e startups é um dos caminhos fundamentais para reduzir e mitigar os danos e caminhar em busca de ações que possam garantir um futuro mais sustentável e resiliente para as próximas gerações. 


SOBRE A AUTORA

Anna de Souza Aranha é sócia e diretora da Quintessa, aceleradora de startups que resolvem desafios socioambientais e promotora de ini... saiba mais