Dejetos de peixes podem limpar metais pesados da água
Rise, um programa da Schmidt Futures, premia jovens estudantes que solucionam problemas globais
Quando ainda estava na sétima série, Jacqueline Prawira se dedicou a um projeto de cinco anos para criar uma alternativa de base biológica ao plástico, a partir de resíduos de escamas de peixe reciclados. No ano passado, prestes a concluir o ensino médio, começou a utilizar o mesmo princípio para resolver outro problema: remover metais pesados do esgoto.
Ela descobriu que os sais de colágeno e cálcio presentes nas escamas podem agir como ímã para metais pesados, atraindo-os para que possam ser reciclados posteriormente. “A natureza já tem componentes que reagem e se ligam aos metais pesados e são capazes de removê-los da água”, explica Jacqueline.
As estações de tratamento de esgoto nem sempre removem metais pesados antes de despejar água nos rios (a EPA, Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, não exige que o façam, embora em alguns estados a remoção seja obrigatória), apesar da possibilidade de contaminação.
a solução a partir de escamas de peixe pode absorver até 82% dos metais pesados da água.
Jacqueline, agora com 17 anos e prestes a ingressar no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), é uma das 100 vencedoras da edição deste ano do Rise, um programa da Schmidt Futures e do Rhodes Trust criado para apoiar jovens estudantes não apenas no início de suas carreiras, mas potencialmente pelo resto da vida.
“Os seres humanos são programados para se entusiasmar com resultados imediatos”, diz Eric Braverman, CEO da Schmidt Futures, um empreendimento filantrópico cofundado por Eric Schmidt (ex-CEO do Google) e sua esposa, Wendy Schmidt. “Mas os maiores desafios da ciência e da sociedade não serão resolvidos da noite para o dia.”
JOVENS MENTES BRILHANTES
O programa concede bolsas para jovens sem acesso a financiamento estudantil, além de promover uma conferência de três semanas e oferecer diferentes cursos, como design centrado no ser humano. Os alunos também recebem orientação contínua e oportunidades de financiamento ao longo de suas carreiras.
A longa lista de vencedores inclui um estudante do Vietnã que utilizou microfluídica para construir o protótipo de uma escova de dentes que detecta câncer; um jovem norte-americano que construiu uma interface cérebro-computador para ajudar vítimas de derrame; e um adolescente da Nigéria que desenvolveu um programa de treinamento de educadores para melhorar o ensino de ciência da computação nas escolas do país.
O programa da Schmidt Futures visa encontrar mentes brilhantes que precisam de incentivo para continuar desenvolvendo soluções para os desafios globais.
O programa visa encontrar mentes brilhantes que precisam de incentivo para continuar desenvolvendo soluções para os desafios globais. “Acredito que estamos vivendo um momento de contraste: temos mais ferramentas do que nunca, mas os problemas estão cada vez maiores e mais complexos”, diz Braverman.
“A desigualdade econômica está aumentando. O clima do planeta está mudando. Então nos perguntamos: qual é a solução para resolver esses problemas? Acreditamos que exigirá muito da engenhosidade humana, como sempre. E a coisa mais importante que podemos fazer é garantir que tenham espaço e a possibilidade de encontrar soluções. E oferecer a eles suporte contínuo.”
Jacqueline é uma das beneficiadas e poderá, futuramente, contar com financiamento da Schmidt Futures para continuar sua pesquisa e transformar seu produto, Cyclo.Cloud, em realidade, para que seja aplicado em estações de tratamento de esgoto ou em residências em países em desenvolvimento.
Sua pesquisa mostra que a solução a partir de escamas de peixe pode absorver até 82% dos metais pesados da água. Quando combinado com eletrólise, a eficácia aumenta para 91%.
Um quilo do produto, que custa apenas US$ 0,23, é capaz de limpar mil litros de água. “Seria um sonho ver minha invenção se tornar realidade”, diz a jovem estudante.