Dia Internacional da Mulher: sororidade em qualquer lugar

Abrir uma empresa nos exige coragem. E se tentamos, é por acreditar que somos capazes, apesar dos obstáculos

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Fernanda Antonelli 3 minutos de leitura

Se você agora começa a ler esse artigo, é porque alguém lá atrás cuidou de você quando era bebê, te ensinou a ler e a ter bons modos.  Provavelmente uma mulher, ou mais de uma, fez esse trabalho.

Houve uma rede de proteção feminina ao seu redor, composta por mãe, avós, professoras que dedicaram tempo e cuidado para que você se tornasse a pessoa que você é hoje.

No Brasil, 48,7% das famílias são chefiadas por mulheres, o que representa quase a metade das famílias do país.

Frequento há alguns anos como voluntária um Serviço de Acolhimento para crianças e jovens em situação de vulnerabilidade. A grande maioria das pessoas que trabalha ali são mulheres, que cuidam e apoiam esses jovens que são, também em sua grande maioria, meninas que foram abusadas por seus pais, tios ou primos. Estão ali protegidas para que não volte a passar o que já as marcou para sempre.

Das comunidades da periferia, aos hospitais, às famílias de classe média, ali estão elas, nós, a cuidar, a sustentar a família, a nos preocupar com alguém além de nós. De acordo com o relatório “Care work and care jobs for future of decent work”, mulheres realizam três quartos da quantidade de trabalho não remunerado de cuidado com o outro.

No Brasil, 48,7% das famílias são chefiadas por mulheres, segundo estudo feito pelo Grupo Globo, o que representa quase a metade das famílias do país.

Ao empreender e abrir a minha própria agência, percebo a importância desta rede tão potente chegar a outros lugares, cuja valorização da masculinidade é preponderante: nos negócios, nas empresas, nos conselhos de administração. Passos têm sido dados, mas em ritmo lento.

só 15 empresas de capital aberto brasileiras têm mais de 30% de mulheres em seus conselhos.

Abrir uma empresa nos exige coragem, ainda mais em um país tão machista quanto o nosso. E se tentamos é por acreditar que somos capazes, apesar dos obstáculos.

Somos mais de 30 milhões, em um universo de 52 milhões de empreendedores, segundo dados do Global Entrepreneurship Monitor 2020 (GEM), principal pesquisa sobre empreendedorismo do mundo, feita em parceria com o Sebrae.

No entanto, em conselhos de administração, segundo dados do WCD, só 15 empresas de capital aberto brasileiras têm mais de 30% de mulheres em seus conselhos. No total, hoje não passamos de 20% das posições dos conselhos em nenhum ranking.

Ao dar um Google e buscar pelos principais empreendedores de sucesso no Brasil, encontro uma maioria esmagadora de homens. Ou seja: se há ainda disparidades entre o quanto empreendemos e quantas realmente alcançam o sucesso, me arrisco a dizer que até mesmo as mulheres em situação de poder priorizam alguém do sexo masculino para fechar um contrato ou escolher alguém para um cargo de liderança.

Ao dar um Google e buscar pelos principais empreendedores de sucesso no Brasil, encontro uma maioria esmagadora de homens.

Nós mesmas, talvez, sem nenhuma intenção ou atenção, perpetuarmos essa disparidade, uma vez que sabemos que podemos tanto quanto eles.

Pelos números, me parece que o “lutei muito para chegar lá”, o que é a pura verdade, não necessariamente nos torna a todas mais generosas e tentando facilitar o caminho das demais. Acho que o “eu consegui sozinha” ainda é mais forte do que o “uma sobe e puxa a outra”, que vemos em frases do LinkedIn ou figurinhas de WhatsApp.

Não fosse assim, empreendedoras de sucesso seriam muito mais. E encontraríamos mulheres negras e indígenas também, base do nosso empreendedorismo e ainda mais invisibilizadas.

Então, da próxima vez que você pensar em contratar uma empresa ou trazer um novo líder para a sua, lembre-se de todos estes dados acima. Lembre-se também que, ao priorizar uma mulher, estamos dando oportunidade para quem cuida de mais alguém, seja uma filha que cuida dos pais, uma mãe, quem sabe um arrimo de família, alguém que cuidou mais ou teve que, ao menos, se esforçar muito mais. Alguém que lutou. Como uma garota.


SOBRE A AUTORA

Fernanda Antonelli é fundadora e CEO da agência de publicidade f+e/Cyranos. saiba mais