Diagnóstico médico: a Terra está doente. E a cura passa pelo fim dos plásticos
Até agora, vimos que os governos não conseguiram se unir para seguir as “ordens médicas” – ou as recomendações dos cientistas
Ao longo dos meus 25 anos como cirurgião ortopédico e ex-médico do time de futebol americano Los Angeles Chargers, orientei inúmeros pacientes e atletas sobre como se recuperar de lesões e fortalecer o corpo para atingir e manter o melhor desempenho.
Seja uma lesão causada por uma queda em uma partida, descendo uma montanha de esqui ou caindo de skate, minha abordagem sempre foi a mesma: para uma boa recuperação, é essencial reduzir ou eliminar tudo o que faz mal – o que inclui cortar substâncias nocivas, produtos químicos e hábitos prejudiciais. Isso acelera a recuperação, promove a longevidade e melhora consideravelmente a saúde geral.
Seja álcool, açúcar refinado ou substâncias que melhoram o desempenho, eliminá-los gradualmente, junto com sessões de fisioterapia e consultas médicas regulares, ajuda na recuperação. Manter um estilo de vida saudável também reduz o risco de novas lesões.
Minha carreira como cirurgião sempre teve como foco as pessoas; mas minha paixão e senso de dever vão além disso. Tenho um paciente com o qual estou extremamente preocupado: o planeta Terra e seus habitantes.
Como mergulhador, vi de perto a enorme quantidade de poluição plástica no meio ambiente. E meu compromisso com as futuras gerações me impede de apenas assistir sem fazer nada. O planeta está sufocado pela poluição plástica, que deve dobrar até 2030. Enquanto isso, cerca de um milhão de toneladas de plástico virgem são produzidas todos os dias.
Micro e nanoplásticos já estão na água, na vida selvagem e até no ar que respiramos. Também foram encontrados no solo e em legumes e verduras, o que significa que os estamos ingerindo a cada respiração e toda vez que nos alimentamos. Eles estão entrando em nossos corpos, na corrente sanguínea, no cérebro e até nas placentas de mulheres grávidas.
Plásticos já foram encontrados em peixes e logo estarão em praticamente todos os organismos vivos no oceano. Este é um problema que exige uma solução global – e não podemos mais esperar.
INICIATIVA DAS NAÇÕES UNIDAS
Em novembro, representantes de mais de 170 Estados-membros das Nações Unidas vão se reunir em Busan, na Coreia do Sul, para a quinta e última reunião do Comitê Intergovernamental de Negociação (INC-5) com o objetivo de assinar um Tratado Global sobre Plásticos, uma iniciativa lançada pela ONU em 2022.
Se esses negociadores fossem meus pacientes, eu daria o mesmo conselho que dou a qualquer pessoa: para melhorar a saúde, precisamos começar cortando tudo o que faz mal – o que inclui reduzir substâncias nocivas, produtos químicos e hábitos prejudiciais. Isso acelera a recuperação e promove a longevidade de todos os habitantes da Terra.
Eliminando os plásticos que fazem mal à saúde humana e animal, podemos reduzir a quantidade deste material que vai parar no meio ambiente. Isso inclui abandonar os plásticos de uso único – uma mudança de mentalidade que prioriza a preservação em vez da conveniência.
Também envolve a eliminação de produtos químicos perigosos, como substâncias perfluoroalquil e polifluoroalquil (PFAS, também conhecidos como produtos químicos eternos), abrindo espaço para materiais alternativos mais sustentáveis e incentivando soluções inovadoras de embalagens.
Infelizmente, assim como no consultório, os conselhos médicos são apenas isso: conselhos. O paciente, neste caso, a humanidade, precisa demonstrar compromisso e seguir o tratamento para ver os resultados. Até agora, vimos que os governos não conseguiram se unir para seguir as “ordens médicas” – ou as recomendações dos cientistas.
As políticas atuais, que são voluntárias, fragmentadas e pouco específicas, decididas por governos individuais, não são suficientes. Elas dificultam a conformidade das empresas ao longo das cadeias de suprimento globais e tornam quase impossível a implementação em larga escala.
Micro e nanoplásticos já estão na água, na vida selvagem e até no ar que respiramos.
Embora todas as iniciativas para enfrentar essa crise sejam bem-vindas, está cada vez mais claro que, para realmente resolver o problema, precisamos agir em conjunto e seguir regras globais. Assim como nas Olimpíadas, em que os países competem sob as mesmas regras, devemos aplicar essa abordagem à governança global.
Precisamos chegar a um acordo global que trate de todo o ciclo de vida dos produtos plásticos e que seja sustentado por regulamentações harmonizadas. E, sobretudo, definir objetivos realistas e alcançáveis em um curto prazo, para permitir a inovação e o desenvolvimento de novas ideias.
Acredito muito que isso vai acelerar nossa recuperação, promover a longevidade e melhorar consideravelmente a saúde global. Como guardiões da saúde do planeta, temos uma responsabilidade com todos os seres vivos e com as gerações futuras. Chegou o momento de agir. É hora de seguir as ordens médicas.