E se os prédios fossem projetados para capturar o carbono do ar?

Crédito: Fast Company Brasil

Adele Peters 4 minutos de leitura

Em uma parte remota da Islândia, longe de qualquer cidade, está instalada a primeira usina comercial de remoção de carbono, em que o CO2 é sugado do ar e armazenado no subsolo. Trata-se de uma operação industrial massiva. Mas a tecnologia de captura de carbono não precisa ser feita apenas no meio do nada: ela também pode ser incorporada aos centros urbanos e aos bairros – algo que pode ajudar a construir o apoio da comunidade para a construção de mais plantas industriais, que provavelmente serão necessárias para ajudar a enfrentar a crise climática. Até meados desse século, milhares de grandes plantas de captura direta de ar podem ser necessárias globalmente para retirar as emissões da atmosfera, enquanto a economia global se descarboniza.

(Crédito: cortesia da Carbon180, Samuel Orellana)

Em novas renderizações, a Carbon180, uma ONG focada na remoção de carbono, imagina como a tecnologia pode ser adicionada a parques locais, prédios de apartamentos ou a mercearias. “Quando pensamos em captura aérea direta hoje… pensamos nessas instalações industriais de grande escala, que sabemos que serão necessárias para atender à escala da crise climática e cumprir nossas metas de remoção de carbono”, diz Giana Amador, cofundadora e diretora de políticas da Carbon180. “Mas também acreditamos que há lugar para projetos inovadores de menor escala, integrados às comunidades.”

(Crédito: cortesia da Carbon180, Samuel Orellana)

Devido à logística de movimentação de CO2, muitas usinas estariam localizadas próximas aos locais onde o carbono pode ser armazenado – por exemplo, perto de um antigo poço de petróleo, onde possa ser bombeado para o subsolo em formações rochosas. Como essa tecnologia usa muita energia, também faz sentido colocá-la ao lado de fontes renováveis ​​baratas (na usina recém-construída na Islândia, o processo funciona com energia geotérmica). Em outros casos, as usinas poderiam ser construídas ao lado de fábricas, que poderiam aproveitar o CO2 capturado, em vez de combustíveis fósseis, para fazer novos materiais.

Uma rede de tecnologia de captura aérea direta distribuída por toda uma cidade não seria tão prática se o CO2 não pudesse ser usado localmente. Ainda assim, diz Amador, as plantas poderiam, no mínimo, ajudar as pessoas a se sentirem confortáveis ​​com uma tecnologia desconhecida. A organização sem fins lucrativos estudou como o equipamento, que usa grandes ventiladores para puxar o ar para os filtros que extraem o CO2, poderia ser adicionado a uma pracinha de bairro, por exemplo, ou como poderia ser construído em uma mercearia que funcionasse com energia solar no telhado. Em um prédio de apartamentos, essa tecnologia pode ser adicionada ao sistema de aquecimento e de ventilação do prédio, para filtrar o CO2 do ar, ajudando a melhorar a qualidade do ar interno. O CO2 capturado poderia, ainda, ser usado em uma estufa no local, para cultivar alimentos.

(Crédito: cortesia da Carbon180, Samuel Orellana)

A indústria de captura aérea direta ainda não trabalhou o suficiente para se popularizar entre grupos comunitários preocupados com novos locais industriais. “Acho que grande parte da preocupação se resume ao fato de que a captura direta de ar é uma tecnologia bastante incipiente”, reconhece Amador, “o que significa que temos muitas questões em aberto sobre como essa tecnologia afeta as comunidades locais. Neste momento, em todo o mundo, existem cerca de uma dúzia de instalações de captura direta de ar e, ao todo, elas estão capturando na ordem de 10 mil toneladas de CO2. E é um grande salto partir de experiências em lugares muito remotos como a Islândia, onde você está em um centro de pesquisa, para pensar em como elas podem realmente estar localizados na escala de gigatoneladas, pelos Estados Unidos inteiro.” Projetos urbanos menores tendem a construir a confiança do público. Os membros da comunidade podem ajudar a tomar as decisões de projeto, a fazer as escolhas sobre o uso da terra e avaliar os benefícios que novos projetos podem trazer, incluindo novos empregos.

Uma política melhor pode ajudar as comunidades a ter mais voz, aposta Amador. A nova lei de infraestrutura já conta com bilhões em financiamento para novos projetos de captura aérea direta. “O governo federal pode levar em consideração o engajamento da população, além dos benefícios de os projetos serem selecionados pela própria comunidade”, diz ela. “Acho que, ao fazer isso, podemos realmente não apenas criar projetos de captura de ar direta de alta qualidade e hubs de captura de ar direta, mas realmente impulsionar o campo e avançar muito mais rápido.”


SOBRE A AUTORA

Adele Peters é redatora da Fast Company. Ela se concentra em fazer reportagens para solucionar alguns dos maiores problemas do mundo, ... saiba mais