Educação inovadora e o impacto do ensino afrocentrado

A criação de uma metodologia de ensino centrada no continente africano oferece a oportunidade de proporcionar uma educação mais inclusiva

Crédito: Fast Company Brasil

Marta Celestino 3 minutos de leitura

A educação é uma das principais ferramentas de transformação social. No entanto, o modelo de educação tradicional ignora ou subestima as contribuições culturais e históricas dos povos africanos e da diáspora.

Nos livros didáticos, por exemplo, os autores e personagens principais são, em sua maioria, de origem europeia. Além disso, alguns modelos de ensino desconsideram as filosofias e metodologias de aprendizado que valorizam a comunidade, a oralidade e a espiritualidade, privilegiando abordagens ocidentais mais individualistas.

Há quase duas décadas, a Lei Federal 10.639/03 determinou que todas as escolas deveriam ensinar a história e a cultura afro-brasileira na sua grade curricular. Isso significa que as instituições de ensino precisam reconhecer e incentivar a contribuição de povos e nações afro-brasileiras na formação do Brasil.

No entanto, uma pesquisa conduzida pela Geledés e pelo Instituto Alana, com o apoio da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e da União Nacional dos Conselhos Municipais de Educação (Uncme), revelou que 71% das redes municipais de ensino do país ainda não implementaram a determinação. Os dados também indicam que apenas 29% das secretarias municipais de educação realizam ações efetivas para garantir a aplicação da legislação.

A criação de uma metodologia de ensino centrada no continente africano não  apenas responde a essa lacuna, mas também oferece uma oportunidade de proporcionar uma educação mais inclusiva, relevante e empoderadora para todos os estudantes.

As dificuldades na implementação da lei decorrem do despreparo e do desconhecimento dos professores sobre o tema, da escassez de materiais de estudo sobre as histórias e vivências dessa parcela da população e do preconceito existente em algumas instituições. Esses fatores dificultam a abordagem e o estudo amplo do tema pelos alunos.

Já está na hora de desenvolver uma metodologia de ensino que coloque a África e sua diáspora no centro das narrativas educacionais, reconhecendo a importância da história, cultura, filosofia e perspectivas africanas.

É fundamental que educadores e que o Ministério da Educação adquiram uma compreensão sólida desses princípios para integrar de maneira autêntica e eficaz em suas práticas educacionais.

PRÁTICAS E SOLUÇÕES

É urgente revisar o currículo educacional para identificar lacunas e preconceitos existentes e, em seguida, estruturar o conteúdo para incorporar de forma abrangente e equilibrada a história, a cultura e as contribuições africanas.

Isso inclui a inclusão de figuras históricas, movimentos sociais da diáspora, literatura, arte e conceitos filosóficos e científicos desenvolvidos por pensadores africanos. Dessa forma, os estudantes terão a oportunidade de ver suas próprias histórias e culturas refletidas nos materiais de estudo.

Mas, para que essa a metodologia seja implementada com sucesso, é crucial que os educadores recebam uma formação específica. Eles precisam ser capacitados para ensinar a partir de uma perspectiva negra, o que envolve o desenvolvimento de habilidades para abordar questões de identidade racial e representatividade.

Já está na hora de desenvolver uma metodologia de ensino que coloque a África no centro das narrativas educacionais.

Também é fundamental que eles sejam incentivados a refletir sobre seus próprios preconceitos e a adotar práticas que promovam a inclusão e o respeito pela diversidade cultural. Essa preparação não apenas aprimora a eficácia da metodologia, mas também contribui para um ambiente educacional mais justo e enriquecedor para todas as pessoas.

Precisamos ter um compromisso com uma educação mais justa e equitativa. Ao colocar a África e sua diáspora no centro do processo educacional, estamos não apenas corrigindo as falhas históricas do sistema educacional, mas também preparando nossos estudantes para um mundo mais diversificado e global.

É uma jornada que exige dedicação, conhecimento e uma profunda compreensão de valores, mas os resultados são inestimáveis: estudantes empoderados, conscientes de sua identidade e preparados para contribuir positivamente para a sociedade.


SOBRE A AUTORA

Marta Celestino é pesquisadora, yalorixá, consultora em inovação e diversidade e CEO da Ebony English School. saiba mais