Em Porto Rico, 7 mil casas vão virar fontes de energia solar

Todas possuem painéis solares e armazenam energia; conectá-las ajudará a tornar a rede mais resiliente

Crédito: Sunrun/ Divulgação

Adele Peters 3 minutos de leitura

Cinco anos atrás, após o furacão Maria atingir Porto Rico e derrubar grande parte da rede elétrica da ilha por meses, milhares de pessoas começaram a instalar painéis e baterias solares em suas casas.

Isso as protegeu da queda de energia quando o furacão Fiona atingiu a ilha, em setembro, e derrubou mais uma vez a rede elétrica. Mesmo durante os frequentes apagões, esses moradores não são afetados pela interrupção no fornecimento de energia.

Agora, sete mil casas com energia solar em toda a ilha logo se tornarão parte de uma nova “usina virtual” de 17 megawatts, o que significa que elas podem trabalhar juntas para ajudar a tornar a rede mais resiliente para o resto da população.

Crédito: Sunrun/ Divulgação

Uma usina de energia virtual pode ser tanto uma rede de fontes de energia distribuídas, como neste caso, quanto um sistema que ajuda a reduzir a demanda de energia em momentos de pico.

“Trabalhamos com a concessionária para entender quando há uma maior demanda de energia no sistema”, explica Chris Rauscher, diretor de desenvolvimento de mercado da Sunrun, a empresa de energia solar que a Autoridade de Energia Elétrica de Porto Rico (PREPA) escolheu para criar o novo projeto. “Nossa usina virtual enviará energia para a rede durante esses horários de pico.” 

Após o furacão Maria, a empresa foi para Porto Rico para instalar sistemas de energia solar e baterias em quartéis de bombeiros para ajudar a manter a infraestrutura essencial funcionando. Também começou a trabalhar com uma enxurrada de novos clientes que queriam instalar painéis solares e armazenar energia em casa. Não foi uma venda difícil.

Crédito: Sunrun/ Divulgação

RUMO À ENERGIA LIMPA

A rede elétrica de Porto Rico não é confiável há muito tempo, é frágil e desatualizada. Quando surgiram discussões sobre como reconstruí-la, a Sunrun defendeu que a melhor opção seria a instalação de mais painéis solares.

“Sendo uma ilha, Porto Rico não tem grandes extensões de terra para parques eólicos ou solares, mas tem milhares de casas disponíveis”, diz Rauscher.

A concessionária planeja obter energia solar de usinas de grande porte, algo que pode ajudar a acelerar a transição para energias renováveis. Até 2025, de acordo com uma lei de Porto Rico, a ilha precisará obter 40% de sua energia de fontes limpas.

O sistema, que continuará registrando clientes até o próximo ano e que iniciará suas operações em 2024, é simples: a partir de um software, a empresa conectará baterias domésticas a uma rede maior, ajudando na atuação da concessionária quando a demanda por energia aumentar à noite, ou durante uma onda de calor.

Crédito: Sunrun/ Divulgação

Novas casas, assim como as que já possuem painéis solares, farão parte desse sistema. A Sunrun conta com usinas virtuais semelhantes operando em outros lugares. Na Califórnia, por exemplo, quando o uso de ar-condicionado sobrecarregou a rede durante uma onda de calor em setembro, a empresa ajudou as concessionárias a usar a energia armazenada de 18 mil casas para evitar apagões.

Javier Rúa-Jovet, diretor de políticas da Associação de Armazenamento Solar e de Energia de Porto Rico e ex-diretor de políticas da Sunrun, diz que agora existem mais de 50 mil sistemas de baterias solares em residências na ilha, e mais de três mil são adicionadas a cada mês. Ou seja, as usinas virtuais são uma solução real e viável para a rede.

No entanto, a concessionária ainda não se comprometeu totalmente com a transição para energias renováveis, apesar das metas de longo prazo de Porto Rico.

Ela planeja usar recursos da Agência Federal de Gerenciamento de Emergências para “melhorar a atual rede, que é completamente centralizada e dependente de combustíveis fósseis importados”, diz Raghu Murthy, advogado da equipe da Earthjustice, que argumenta que os fundos podem ser usados para ajudar todas as famílias da ilha a instalar painéis e baterias solares.

Faz sentido que as usinas virtuais se expandam ainda mais, diz Rauscher, observando que “não há razão para que isso não possa se espalhar por toda a ilha”.


SOBRE A AUTORA

Adele Peters é redatora da Fast Company. Ela se concentra em fazer reportagens para solucionar alguns dos maiores problemas do mundo, ... saiba mais