Emprego dos sonhos: um dia na vida de uma chief sustainability officer

Melanie Nakagawa, da Microsoft, conta como é trabalhar em tempo integral com mudanças climáticas

Créditos: Melanie Nakagawa/ Microsoft/ só vocêqj/ Freepik

Adele Peters 5 minutos de leitura

Um número cada vez maior de pessoas tem decidido mudar de carreira para trabalhar com mudanças climáticas. Acompanhando de perto essa tendência, a Fast Company está conduzindo uma série de entrevistas com pessoas em empregos relacionados ao clima, em que perguntamos sobre seu trabalho diário. Desta vez conversamos com Melanie Nakagawa, a nova diretora de sustentabilidade da Microsoft, que trabalha na sede da empresa, em Redmond (EUA).

FC – Para quem nunca trabalhou com sustentabilidade corporativa, como é um dia comum no seu trabalho?

Melanie Nakagawa Há uma diversidade de questões que passam pela minha mesa em um mesmo dia. Começamos pela manhã com a política – coisas que estão acontecendo em Washington, trabalho regulatório – e depois passamos a pensar sobre o progresso que estamos fazendo em relação aos nossos compromissos operacionais.

não existe um conjunto específico de habilidades que fará de você um profissional de sustentabilidade. A área exige versatilidade, como um canivete suíço.

A Microsoft é hoje um dos maiores compradores de créditos de carbono. Em um dia comum de trabalho, eu poderia ter uma reunião com alguns dos membros da minha equipe sobre as últimas compras que estamos analisando e, mais tarde, poderíamos conversar sobre projetos de reabastecimento de água, uma área na qual também investimos.

No final do dia, talvez eu conversasse com a comunidade de funcionários sobre a jornada da Microsoft em sustentabilidade, para garantir que o máximo de pessoas na empresa que desejam trabalhar com isso possam fazê-lo.

FC – Você pode nos contar algum projeto relacionado ao clima que tem te entusiasmado bastante?

Melanie Nakagawa Um projeto que me entusiasma é o que a Microsoft está fazendo para investir em inovação. Há alguns anos, a empresa iniciou um fundo chamado Climate Innovation Fund. Ele está focado em investir em empresas de tecnologia inovadoras, que ajudam a gerar um forte impacto climático.

Também pode abordar nossos próprios compromissos operacionais de ser carbono negativo, água positivo e zero desperdício até 2030. A Microsoft destinou US$ 1 bilhão ao Climate Innovation Fund. É uma demonstração de que está inovando em soluções climáticas.

FC – Sobre as empresas que vocês pensam em apoiar, existem certos tipos de tecnologia que são mais necessários? Onde estão as lacunas que você vê no que está disponível agora?

Melanie Nakagawa Estamos de olho, principalmente, no setor de materiais de baixo carbono.  Os edifícios que construímos são uma fonte significativa de emissões globais. Portanto, tudo o que pudermos fazer para construir infraestrutura com baixo teor de carbono – com menos desperdício, menos consumo de água, menos degradação ambiental dos materiais de construção que usamos – é muito importante.

O armazenamento de longa duração é outra área de inovação que me empolga. Temos propostas recursos de energia renovável chegando pelos nossos contatos online. Mas, quando o Sol não está brilhando o suficiente e os ventos não estão soprando a favor, precisamos de formas de armazenamento para essa energia.

FC – Para alguém que aspira chegar a diretor de sustentabilidade, como desenvolver as habilidades necessárias para trabalhar nessa área?

Melanie Nakagawa Eu diria que não existe um conjunto específico de habilidades que fará de você uma pessoa forte

Trabalhamos com pessoas que acompanham bem de perto os recentes avanços tecnológicos e o que está sendo feito por jovens empresas.

em sustentabilidade. Há uma ampla gama de empregos que exigem uma variedade de experiências e de conjuntos de habilidades. A área de sustentabilidade exige versatilidade, como um canivete suíço.

Na minha equipe, por exemplo, temos de tudo, desde um gerente de projeto até pessoas com doutorado em ciências ambientais ou formadas em direito. Realmente, não existe uma trajetória ou formação única para trabalhar com sustentabilidade.

FCA pesquisa e a tecnologia do clima estão mudando continuamente. Como você acompanha o fluxo de informações?

Melanie Nakagawa Tenho uma equipe incrível que está sempre assistindo às notícias do dia e analisando os avanços tecnológicos. Também temos uma equipe incrível de ciência do clima. E, é claro, temos uma equipe que cuida da parte política trabalhando globalmente, fazendo uma boa varredura sobre mudanças e atualizações de políticas no mundo todo.

Mais recentemente, vimos movimentos na Europa em torno das divulgações de risco de sustentabilidade corporativa. Temos uma equipe focada em negócios e soluções dentro da sustentabilidade. Trabalhamos também em parceria com outras pessoas que acompanham bem de perto onde estão os mais recentes avanços tecnológicos e o que está sendo feito por jovens empresas. É um esforço de equipe.

FC – Em uma empresa tão grande, como fazer com que a sustentabilidade seja incorporada em toda a organização e não fique restrita à sua equipe?

Melanie Nakagawa Quando nosso compromisso de carbono negativo foi lançado, em 2020, foi assinado pelos

Ver onde chegamos com IA e a oportunidade que ela tem de escalar as vitórias neste setor me enche ainda mais de otimismo.

executivos de liderança da Microsoft. Foi uma decisão da CEO Satya Nadella, da CFO Amy Hood e do vice-presidente Brad Smith. Eles apoiaram esse compromisso. Isso é muito importante – essa sinalização do topo da empresa sobre a importância da sustentabilidade.

A maneira como isso se insere na empresa é que começa no topo, mas envolve uma força de trabalho muito robusta, um exército voluntário de pessoas comprometidas com a sustentabilidade em toda a organização.

FC – O que a deixa otimista em relação ao modo como seremos capazes de lidar com as mudanças climáticas?

Melanie Nakagawa Primeiro, basta testemunhar quantos talentos que estão entrando neste espaço. Existe muita gente talentosa que está fazendo da sustentabilidade a sua grande missão de vida. Como alguém pode não ser otimista vendo essa força de trabalho talentosa e crescente nos mostrando que podemos chegar lá?

A segunda razão é que já começamos a mudar de direção rumo ao sucesso. Claro, há questões sobre a velocidade e a escala dessa mudança. Mas há sucessos. O mundo se reuniu em 2015 para demonstrar seu compromisso com o desafio climático. Grandes corporações não apenas estão fazendo promessas, mas também mostrando seu progresso. Vejo mais investimento neste espaço.

Além disso, o otimismo vem dos avanços tecnológicos que nem chegaram. Ver onde chegamos com a inteligência artificial e a oportunidade que ela tem de escalar dramaticamente as vitórias neste setor me enche ainda mais de otimismo.


SOBRE A AUTORA

Adele Peters é redatora da Fast Company. Ela se concentra em fazer reportagens para solucionar alguns dos maiores problemas do mundo, ... saiba mais