Empresa de reciclagem “minera” ouro em celulares descartados

Nova instalação de reciclagem na Califórnia adota uma abordagem diferente para tratar resíduos eletrônicos

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Adele Peters 2 minutos de leitura

Quando um celular antigo é levado para reciclagem, sua placa de circuito é removida, embalada e enviada, muito provavelmente, para a Europa ou Ásia para que passe pelo processo de fundição. Após derretido, o metal é encaminhado para o refino.

Apesar de gerar uma enorme pegada de carbono, este é o método de reciclagem de resíduos eletrônicos mais usado no mundo.

No entanto, uma nova instalação de reciclagem perto de San Diego, na Califórnia, adota uma abordagem diferente. Desenvolvida pela Camston Wrather, a técnica não requer calor, pressão ou produtos químicos.

Crédito: Camston Wrather

Depois de triturar as placas para separar o plástico do metal, ela usa um processo de “redução de partículas” para quebrar os materiais mecanicamente e os envia para o refino.

A empresa afirma que o método gera uma pegada de carbono 90% menor em comparação com o processo de fundição tradicional. Além disso, utiliza 95% menos água do que a mineração de materiais do solo.

Esta é uma solução para parte dos problemas relacionados aos resíduos eletrônicos. Mais de 50 milhões de toneladas são geradas em todo o mundo a cada ano – de computadores e celulares a smartwatches e televisores.

Crédito: Camston Wrather

A maioria dos aparelhos descartados não é reciclada. Muitos acabam em aterros sanitários; outros ficam esquecidos em gavetas. Mesmo quando são reciclados, o processo em si gera problemas ambientais.

Vale lembrar que alguns resíduos eletrônicos são reciclados em instalações ilegais na Ásia, onde os trabalhadores os queimam, liberando fumaça tóxica.

Com a crescente demanda por metais preciosos – para produzir tudo, desde painéis solares até baterias de carros elétricos –, a reciclagem pode ajudar a fortalecer toda a cadeia. A Camston Wrather garante que é mais barato obter ouro através do seu processo do que via mineração tradicional. Em parte, devido à alta concentração de metais preciosos no lixo eletrônico.

Crédito: Camston Wrather

“Hoje, uma mina financeiramente viável extrai um grama de ouro por tonelada de minério”, afirma Dirk Wray, presidente e CEO da empresa. “O lixo eletrônico contém entre 100 e 200 gramas por tonelada e é rico em 22 metais diferentes.”

Embora as placas de circuito muitas vezes sejam enviadas para o exterior para processamento, a empresa quer ajudar a construir uma cadeia de suprimentos mais curta nos Estados Unidos.

Em outras seis regiões ao redor do país, ela desmonta aparelhos antigos para retirar materiais como alumínio e plástico para reciclagem. Em seguida, as placas de circuito são enviadas para a nova instalação no sul da Califórnia, que é capaz de processar mais de 680 toneladas por mês – ainda uma pequena fração dos resíduos eletrônicos produzidos em todo o mundo. “Precisaríamos de cerca de 500 instalações como essa para lidar com o problema globalmente”, diz Wray.

Crédito: Camston Wrather

Os metais reciclados são vendidos para fabricantes que querem evitar os problemas ambientais e sociais provenientes da mineração tradicional. Embora o processo seja mais barato, os “metais verdes” são vendidos a um preço maior. A Camston Wrather está usando os lucros para acelerar sua expansão. Duas novas instalações de reciclagem já estão em desenvolvimento.

Em escala, a reciclagem de lixo eletrônico pode substituir algumas minas. “Seria possível eliminar de vez a mineração?” Wray questiona. “Provavelmente não toda, mas uma quantidade considerável.”


SOBRE A AUTORA

Adele Peters é redatora da Fast Company. Ela se concentra em fazer reportagens para solucionar alguns dos maiores problemas do mundo, ... saiba mais