Engenharia genética pode salvar mais uma espécie ameaçada: a banana

Um fungo está ameaçando extinguir a variedade de banana mais popular do mundo. Mas os cientistas estão tentando salvá-lo

Crédito: T. Kimura/ Kavisara Kotiram/ iStock

Adele Peters 4 minutos de leitura

Existem mais de mil tipos de bananas no mundo. Uma delas, a Cavendish, mais conhecida no Brasil como banana nanica ou d’água, pode ser encontrada facilmente em qualquer supermercado e é a principal variedade consumida nos EUA. Mas ela corre o risco de entrar em extinção.

No final de janeiro, o governo venezuelano anunciou que detectou em fazendas de algumas áreas um fungo que mata a planta. Este foi o mais recente surto de uma doença que vem se espalhando lentamente pelo mundo.

No ano passado, o Peru declarou estado de emergência quando detectou a doença. Em 2019, na Colômbia, centenas de hectares de bananeiras foram destruídos na tentativa de impedir sua propagação.

Descoberto em Taiwan na década de 1990, o fungo se espalhou pela Ásia, Oriente Médio e África antes de chegar às Américas Central e do Sul. Uma vez no solo, ele permanece lá e a terra não pode mais ser usada para o plantio de banana.

Crédito: Elo Life Systems

Ainda não existe uma solução definitiva para o problema. Mas, em uma fazenda da Dole Food Company na América Central, em breve, serão realizados testes com bananas Cavendish geneticamente modificadas na tentativa de ajudá-las a sobreviver ao fungo.

A Elo Life Systems, empresa de biotecnologia que desenvolveu as bananas, usou análise de dados para classificar os genomas de outras variedades (e outras plantas) naturalmente resistentes à doença.

“Pesquisamos a natureza e tentamos encontrar soluções”, diz Todd Rands, CEO da Elo Life Systems. “Encontramos tipos interessantes de proteínas ou moléculas de óleo, como óleos essenciais que são produzidos naturalmente por muitas plantas. Esses mesmos elementos existem nas bananas. Tudo o que precisamos fazer é descobrir como ativá-los nos tecidos onde a doença chega.”

MORTE LENTA

O fungo, uma espécie chamada Fusarium, faz com que as bananeiras murchem e morram lentamente. Ele coloniza os tecidos vasculares – os "vasos sanguíneos" das plantas – e os devora, explica Rands. “Quando você corta a planta, o interior está completamente escuro e apodrecido. Basicamente, apodrecem por dentro."

Quando se trata de uma plantação infectada, em um primeiro momento as bananeiras ainda estarão nas fases iniciais da doença. "No primeiro ano, é possível notar que não estão produzindo tanto", diz Rands. "No segundo, uma boa parte da produção é perdida. No terceiro, elas já estão morrendo.”

Crédito: Elo Life Systems

A resposta da indústria tem sido transferir a produção para outros locais. Mas, quando fazem isso, muitas vezes acabam derrubando florestas para dar espaço ao plantio. Para pequenos produtores, que não têm condições de comprar um lote de terra em outro local, o fungo pode significar a perda de seu sustento.

Empresas como a Dole estão buscando alternativas. “Eles vieram até nós e disseram que precisamos encontrar uma solução aqui”, conta Rands. “Precisamos fazer algo que torne essas plantas resistentes porque não podemos simplesmente mudar nossas áreas de produção para sempre. O tempo está se esgotando e vamos ficar sem terra para fazer isso.”

O PROBLEMA DA MONOCULTURA

A indústria já enfrentou uma crise como esta antes: até a década de 1950, a principal espécie de banana encontrada nos supermercados era chamada de Gros Michel, conhecida como prata no Brasil. Mas outra cepa do mesmo fungo acabou com a produção em grandes plantações e a indústria passou a plantar a variedade Cavendish.

A Elo Life Systems usou análise de dados para classificar os genomas de outras variedades naturalmente resistentes à doença.

Como elas são cultivadas como clones, cada uma idêntica à planta original, um patógeno que mata uma delas pode facilmente matar todo o resto. Ou seja, a monocultura é parte do problema, já que cultivar diversos tipos de banana tornaria as plantações mais resistentes a doenças – embora várias espécies sejam suscetíveis ao Fusarium.

Como leva tempo para as árvores crescerem, as novas plantas na fazenda da Dole ainda não foram testadas. Mas, no laboratório, as bananas geneticamente modificadas sobreviveram a altas doses do fungo.

Agora, elas serão cultivadas e testadas nos berçários da empresa e depois transferidas para áreas que não estão em uso devido à presença do fungo. Até o final do ano que vem, os pesquisadores saberão se elas são capazes de sobreviver e de ter um desempenho tão bom quanto as originais.

Como as mudanças climáticas dificultam o cultivo, a expectativa da Elo Life Systems é que um trabalho semelhante seja necessário para outros alimentos. Os “problemas não desaparecem”, diz Rands. “Com as mudanças no clima, na temperatura e nos níveis de água, as tempestades levarão cada vez mais doenças para novas áreas. Teremos que lidar com tudo isso e precisaremos de mais e mais tecnologias.”


SOBRE A AUTORA

Adele Peters é redatora da Fast Company. Ela se concentra em fazer reportagens para solucionar alguns dos maiores problemas do mundo, ... saiba mais