Entenda por que a energia do carvão está com os dias contados

O gás natural e as energias renováveis ​​são muito baratos e a regulamentação tende a avançar

Crédito: Bart van Dijk/ Unsplash

Rebecca J. Davis 5 minutos de leitura

A indústria de carvão dos EUA conquistou algumas vitórias inusitadas nos últimos meses. Primeiro, a Suprema Corte promulgou uma decisão limitando a capacidade do governo de regular as emissões de gases de efeito estufa de usinas de energia. Depois, o plano climático do presidente Joe Biden parou novamente no Congresso.

Mas, embora algumas das ameaças específicas a essa indústria tenham sido derrubadas, isso não significa que as usinas a carvão voltarão.

Como economista, trabalho na análise da indústria do carvão, incluindo planos de construção e de fechamento desse tipo de usina. Por isso, destaco três razões principais pelas quais as usinas de carvão dos EUA estão com os dias contados.

Um detalhe relacionado ao caso da Suprema Corte ajuda a ilustrar meu argumento. O caso, West Virginia X EPA, envolveu o Plano Energia Limpa (Clean Power Plan), um conjunto de regulamentos da era Obama propostos em 2015 e que exigiriam que as usinas fizessem cortes profundos nas emissões de gases de efeito estufa.

Para aquelas movidas a carvão – historicamente, a fonte dominante de emissões de dióxido de carbono no setor de eletricidade dos EUA – isso provavelmente significaria abandonar completamente o material.

No entanto, embora o Plano de Energia Limpa nunca tenha entrado em vigor, o uso de carvão diminuiu tanto que o setor de energia no mercado norte-americano já atingiu a meta de 2030 que o plano previa.

POR QUE ESTAMOS ABANDONANDO O CARVÃO

Tendo atingido o seu auge em 2007, o carvão foi responsável por quase 2 trilhões de quilowatts-hora (kw/h) nos EUA, o equivalente a abastecer mais de 186 milhões de residências no ano. Em 2021, esse total caiu 55%.

A queda deveu-se, em grande parte, a uma mudança em toda a indústria na geração de eletricidade, de unidades a carvão para gás natural e energia renovável. Essa mudança está acontecendo por três razões principais.

1: Preço do gás natural

Os preços do gás natural caíram significativamente (mais de 60% entre 2003 e 2019), principalmente devido a melhorias no fraturamento hidráulico e na perfuração horizontal, que permitem que os perfuradores extraiam mais gás do xisto.

O influxo de gás natural levou a aumentos substanciais nas adições de geradores de eletricidade a gás natural. São usinas mais novas, têm custos de combustível semelhantes (e às vezes até mais baixos) e são mais eficientes na geração de eletricidade do que os geradores a carvão.

Também são capazes de entrar em operação com potência total no prazo de uma a 12 horas, enquanto um gerador a carvão pode levar até 24 horas para estar totalmente pronto para produzir energia. Devido a esse tempo de espera obrigatório, é difícil contar com geradores a carvão quando a demanda aumenta e a rede elétrica precisa de mais energia rapidamente.

2: Aumento da energia renovável

Devido aos avanços tecnológicos, as energias solar e eólica já se tornaram competitivas, em termos de custos, quando comparadas aos geradores movidos a combustíveis fósseis. 

Muitos estados e o governo federal oferecem incentivos à produção de energia renovável, o que reduz o custo de instalação. Uma vez construídas, essas fontes de energia renovável não têm gastos com combustível, além de seus custos operacionais serem relativamente baixos em comparação com geradores a carvão.

Um recorde de 17,1 gigawatts de capacidade eólica entrou em operação nos EUA em 2021, após a extensão de um incentivo fiscal, e 7,6 gigawatts estão planejados para este ano. Já a energia solar representa 46% de toda a nova capacidade de geração de eletricidade prevista para ingressar na rede em 2022 – cerca de 21,5 gigawatts.

3: Regulação ambiental

O governo instituiu várias regulamentações ambientais nas últimas décadas, com o objetivo de reduzir os poluentes atmosféricos perigosos emitidos pelo setor de energia elétrica.

Essas emissões estão ligadas a problemas de saúde, incluindo doenças respiratórias e danos neurológicos e de desenvolvimento, bem como poluição atmosférica, chuva ácida e mudanças climáticas.

Para cumprir a lei, os operadores de usinas a carvão instalaram purificadores para remover os poluentes de suas emissões, trocaram os tipos de carvão por outros com baixo teor de enxofre e investiram em métodos para reduzir o enxofre e outras impurezas. Como resultado, os custos dessas unidades aumentaram.

Esses custos mais altos de mitigação ambiental, junto com preços mais baixos de eletricidade no atacado nos últimos anos, significam que os operadores de usinas de carvão tiveram mais dificuldade em recuperar o custo dos investimentos de capital para manter seus geradores mais antigos. Muitos optaram por aposentar essas unidades.

O FUTURO DA ENERGIA A CARVÃO É O DESUSO 

De todos os geradores de energia elétrica que serão aposentados este ano em todo o país, os geradores de carvão respondem por 85%. Esses são dados da Administração de Informações sobre Energia dos EUA.

As energias solar e eólica já se tornaram competitivas em comparação à geração de eletricidade por combustíveis fósseis. 

Espera-se que essa tendência continue, com fechamentos substanciais de geradores de carvão ocorrendo até 2030. Isso é resultado de fatores de mercado – gás natural barato e energia renovável acessível – e de medidas regulatórias.

Na conferência de mudanças climáticas das Nações Unidas de 2021, mais de 40 países se comprometeram a abandonar completamente o carvão e outros 20, incluindo os EUA, comprometeram-se a interromper o financiamento governamental para o uso de carvão, a menos que ele inclua tecnologia de captura de carbono.

Além disso, o governo Biden, embora não tenha conseguido aprovar suas políticas climáticas em um Congresso profundamente dividido, está avaliando novas opções regulatórias que podem afetar ainda mais o custo de geração de eletricidade com carvão.

Tudo isso contribui para um ambiente econômico difícil, nos EUA, para a energia a carvão em um futuro próximo.


SOBRE A AUTORA

Rebecca J. Davis é professora assistente de economia e finanças na Stephen F. Austin State University. saiba mais