Escultura mostra o que o aquecimento global pode fazer com o planeta
Criada pela artista Janet Echelman, a instalação feita com fibras sintéticas foi inspirada em dados climáticos de pesquisadores do MIT

No saguão do museu do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), um imenso emaranhado de fios plásticos despenca do teto como uma onda luminosa. A escultura, feita de milhares de metros de fibras, prende o olhar: à medida que se estende pelo espaço, os fios mudam de cor, do azul ao verde, do vermelho ao laranja, criando um efeito hipnótico.
À primeira vista, a obra parece abstrata. Mas cada fio tem um significado preciso. Criada pela artista Janet Echelman, a instalação foi inspirada em dados climáticos de pesquisadores do MIT.
Cada fibra representa a temperatura do planeta em determinado período da história; a cor indica a intensidade: azuis e verdes refletem climas frios; vermelhos e laranjas, um planeta em aquecimento.
O trabalho retrocede até a era do gelo, mas é no presente que ganha força: um único fio amarelo simboliza o nosso tempo. A partir dele, o trançado se expande em direções diversas, desenhando possíveis futuros – que podem variar de um vermelho alarmante a tons mais amenos de azul e verde, dependendo das escolhas feitas agora.
A instalação foi batizada de Remembering the Future (“Lembrando o futuro”), inspirada em uma frase do filósofo Søren Kierkegaard: “o estado mais doloroso de ser é lembrar o futuro, especialmente aquele que você nunca terá.”
Echelman insiste que sua obra não é uma visualização de dados, mas um convite à contemplação da imensidão da crise climática sem paralisia. “É para ser contemplativo”, explica. “Minha esperança é que desperte um senso de ação.”
Durante três anos de residência no Centro de Arte, Ciência e Tecnologia do MIT, a artista colaborou com a professora Caitlin Mueller, dos departamentos de arquitetura e engenharia civil e ambiental, para desenvolver o software que transformou os dados climáticos em uma estrutura digital – base para a escultura.

No museu, visitantes podem interagir com uma versão digital da obra em uma tela, ajustando os fios virtuais e explorando as ferramentas usadas em sua criação. Apesar da tecnologia envolvida no design, a peça foi feita manualmente: levou cerca de um ano para ser tecida, fio a fio, pelo time de Echelman.
A motivação para o projeto veio de uma sensação de saturação diante das notícias sobre o estado do planeta. “É como se recebêssemos mensagens em caixa alta todos os dias dizendo que a Terra está à beira do colapso”, diz a artista. “É demais para processar, então eu me via evitando o tema.”

Com a escultura, ela quis provocar o contrário: algo que faça o público encarar o assunto, não desviar dele, e refletir sobre os muitos futuros possíveis à nossa frente.
O fio amarelo, que simboliza o presente, é o mais tensionado de todos. “Ele reflete o quanto este momento é tenso e como as escolhas que fazemos agora importam”, afirma. À noite, iluminada por focos que ressaltam suas cores, a escultura ganha ainda mais força.
Para o diretor do museu, Michael John Gorman, a instalação cumpre um papel essencial: “a obra toca em um dos temas mais importantes do nosso tempo”, diz. “Queremos que o maior número de pessoas possível tenha a chance de vivê-la.”