Esta companhia espacial achou um jeito de combater a poluição aqui na Terra

Uma nova maneira de produzir aço elimina as emissões diretas de CO2 e reduz pela metade o uso de energia

Crédito: Victor Habbick Visions/ GettyImages/ Goinyk/ Envato Elements

Adele Peters 3 minutos de leitura

Quando cofundou a startup Helios, há quatro anos, Jonathan Geifman estava focado em viagens espaciais, não em mudanças climáticas. Mas, enquanto sua equipe trabalhava para resolver um enorme desafio – como produzir oxigênio na Lua –, esbarraram em uma solução para um dos maiores poluidores climáticos do planeta: a indústria siderúrgica.

Hoje, as siderúrgicas são responsáveis por emitir cerca de três bilhões de toneladas de CO2 por ano, o que equivale a três vezes mais que todo o setor de aviação. As emissões não vêm apenas do uso de energia, mas do processo como um todo.

O primeiro passo, normalmente, envolve a combinação de uma forma de carvão com minério de ferro em um forno gigante. À medida que queima, a reação química produz CO2. A indústria está experimentando alternativas, mas são caras e provavelmente ainda demorarão bastante tempo para se tornarem viáveis. Já a abordagem da Helios custaria bem menos.

Créditos: Helios/ Divulgação

“Se você realmente quer incentivar a indústria a reduzir suas emissões – e não deixar para fazê-lo até 2050, mas sim nos próximos 10 anos –, na nossa opinião, a única maneira é encontrar uma solução para reduzir seu OPEX (Operational Expenditure, ou despesas operacionais)”, diz Geifman.

Um dos desafios das viagens à Lua é o custo do transporte de oxigênio para uso tanto dos astronautas quanto do propulsor do foguete. A empresa, com sede em Israel, descobriu o novo método enquanto estudava como gerar oxigênio a partir do regolito, a cobertura rochosa da lua.

Na Terra, a maneira mais simples de separar o oxigênio do óxido de ferro é usar carbono (e gerar poluição). Mas há pouco carbono na Lua. A equipe “precisava abandonar tudo e criar um conceito completamente novo”, diz Geifman.

A abordagem é bastante simples: substituir o carbono por outro material. Quando começaram a testá-lo para produzir oxigênio, perceberam que também estavam produzindo muito ferro.

“Produzimos 10 vezes mais do que havíamos calculado”, diz ele. “Percebemos que havia um processo extra acontecendo dentro do reator... Acho que desmontamos e remontamos o forno 20 vezes para tentar entender o que estava acontecendo”.

Quando perceberam que era uma maneira eficiente de fabricar ferro, procuraram especialistas da indústria siderúrgica. “Quando vimos o resultado, tínhamos certeza de que estávamos fazendo alguma coisa de errado”, diz ele. “O próximo passo foi entrar em contato com a indústria e obter feedback. Para nossa surpresa, descobrimos que, na verdade, criamos uma maneira completamente nova de produzir ferro.”

O processo pode acontecer dentro de um forno de redução direta de ferro (DRI), um tipo de equipamento que muitas siderúrgicas já possuem. Elimina emissões diretas e, como utiliza metade da energia do processo que usam normalmente, também reduz significativamente as emissões de energia fóssil. Se o equipamento for convertido para usar energia limpa, as emissões podem cair para zero.

Embora existam várias outras formas de reduzir as emissões na indústria do aço, a nova tecnologia tem muitas vantagens. A reciclagem de aço também é importante, mas, como o material é usado em edifícios, pontes e outras aplicações de longo prazo, nem todo ele pode ser reciclado rapidamente. Simplesmente não existe o suficiente para atender à demanda.

O hidrogênio verde também pode ser útil, mas “ainda é extremamente caro”, explica Andrew Buchanan, gerente do grupo de economia circular do Materials Processing Institute, uma organização sem fins lucrativos que pesquisa materiais avançados e descarbonização industrial. 

O custo da energia é a maior despesa para os produtores de aço; portanto, uma solução que o reduza é certamente interessante, diz Buchanan. Poderia ajudar a transformar a indústria globalmente, não apenas em lugares como a União Europeia, onde a regulamentação está gerando mudanças mais rápidas.

Com uma nova rodada de financiamento inicial da At One Ventures, empresa de capital de risco fundada pelo ex-líder do Google X, Tom Chi, a Helios planeja demonstrar sua tecnologia em maior escala e começar a construir usinas piloto. Simultaneamente, está preparando a tecnologia para ser usada nas próximas missões lunares em dois anos.

Mas, antes disso, a tecnologia do aço provavelmente será bastante lucrativa. As mudanças podem acontecer de forma relativamente rápida no setor, diz Geifman, porque ele é concentrado, apesar de seu enorme tamanho. “Se você trabalha com os 10 ou 20 maiores produtores do mundo, já tem acesso a uma grande fatia da produção global”, diz ele.


SOBRE A AUTORA

Adele Peters é redatora da Fast Company. Ela se concentra em fazer reportagens para solucionar alguns dos maiores problemas do mundo, ... saiba mais