Esta startup quer fazer plantas crescerem mais rápido usando eletricidade

A Rainstick está combinando tradições indígenas com tecnologia moderna

Crédito: Max LaRochelle/ Unsplash

Talib Visram 4 minutos de leitura

Com o rápido aumento da população mundial, a ONU estima que será necessário aumentar a produção de alimentos em 60% até 2050. Esse desafio é ainda mais complexo devido ao impacto das mudanças climáticas na agricultura global. Em resposta a isso, uma startup australiana está trabalhando para acelerar o crescimento das colheitas – por meio da aplicação de descargas elétricas.

Basicamente, a Rainstick simula relâmpagos em ambientes controlados, criando íons (partículas carregadas) no ar e os direcionando para plantas e fungos para estimular seu crescimento. Embora o processo esteja em fase inicial, se for bem-sucedido, não apenas aumentaria a produção de alimentos, mas também eliminaria a necessidade de pesticidas.

O nome da empresa faz referência ao objeto usado no ritual da dança da chuva dos povos aborígenes, conforme explica o cofundador da empresa Darryl Lyons.

De acordo com a tradição, há 10 mil anos, como parte do ritual, os agricultores enterravam o objeto, chamado por eles de “chuggura”, coberto com um óxido metálico para atrair raios. O processo enviaria sinais elétricos para as células das plantas, acelerando seu crescimento.

“Muitos veem esse tipo de conhecimento como coisa do passado”, observa Lyons, cuja família materna é maiawali, um povo indígena de Queensland, no nordeste da Austrália. “Estamos adotando essa filosofia e usando as ferramentas atuais que temos disponíveis.”

Crédito: Rainstick

Ao longo da história, houve momentos de interesse em como campos elétricos externos contribuem para o crescimento das plantas, de acordo com Giovanni Sena, professor associado de ciências naturais do Imperial College London. No entanto, essa área não foi estudada com profundidade suficiente para ser quantificada.

A pesquisa atual de Sena é um pouco diferente, concentrando-se no eletrotropismo, que consiste na aplicação de um campo elétrico fraco em plantas já crescidas para fazê-las se moverem em direção ou para longe dele.

Recentemente, pesquisadores que atuam em fazendas na China relataram que a produção de vegetais poderia aumentar de 20% a 30% com a técnica. E pesquisadores japoneses viram um aumento de peso nos cogumelos quando submetidos a determinadas voltagens.

CAMPO ELÉTRICO VARIÁVEL

A técnica utilizada pela Rainstick não exige contato, criando campos elétricos no ar. Eles desenvolveram uma antena, uma espécie de “rainstick moderno”, para irradiar um campo elétrico de 30 a 45 centímetros ao redor da planta – inicialmente fungos, inspirados nos estudos japoneses sobre cogumelos.

Na fase de testes em ambientes internos, os cogumelos cresceram 20% mais e mais rapidamente do que os do grupo controle. Eles conseguiram reduzir o processo de exposição elétrica de três horas para cinco minutos.

Lyons chama a técnica de “campo elétrico variável”, referindo-se à capacidade de criar resultados diferentes usando frequências variadas: 50 mil frequências precisas e nove formatos de onda diferentes. A empresa identificou frequências específicas que estimularam o crescimento dos cogumelos e outras para inibir o mofo.

Darryl Lyons (Crédito: Rainstick)

“Isso nos mostra que essas frequências acionam certas chaves biológicas”, destaca Lyons. “É realmente inovador”. Ele e seus parceiros querem encontrar maneiras de manipular as taxas de germinação, como e quando as sementes saem dos invólucros e como podem resistir às diferentes condições climáticas.

A próxima etapa é decidir qual modelo de negócios é mais eficaz para a expansão, que pode ser tratar as sementes logo no início da vida e depois vendê-las a agricultores para que as plantem normalmente.

A Rainstick está construindo uma máquina maior, que colocará as sementes em uma esteira para que todas sejam expostas a um grande número de antenas. O objetivo é que a máquina movida a energia solar estimule um quilo de sementes por dia – o que, futuramente, poderá ser ampliado para até 10 toneladas por dia.

As primeiras sementes serão enviadas para vários parceiros para serem testadas, incluindo uma grande empresa agrícola para cultivos de cereais mais baratos e viveiros de mudas para vegetais premium, como tomates e melancias.

O nome da empresa faz referência ao objeto usado no ritual da dança da chuva dos povos aborígenes.

“Acho que é um ótimo projeto para reduzir a quantidade de produtos químicos que pulverizamos por toda parte. Só não tenho certeza se a tecnologia é confiável neste momento”, diz Sena, observando que as pessoas não devem pensar que será uma “revolução fantástica que vai reduzir pela metade o preço das batatas ou do pão da noite para o dia”.

Mas o custo é uma área em que Lyons está otimista. Ele estima que sua máquina de um quilo custará entre US$ 66,8 mil e US$ 100 mil, e diz que os preços não devem subir com a expansão da empresa.

Em comparação com os produtos químicos que temos que extrair, fabricar e distribuir, ele afirma que o método da Rainstick poderia acabar reduzindo os preços para os agricultores.


SOBRE O AUTOR

Talib Visram escreve para a Fast Company e é apresentador do podcast World Changing Ideas. saiba mais