Este robô-submarino está ajudando a monitorar a “geleira do Juízo Final”

Um robô semelhante a um torpedo de quase quatro metros foi enviado para avaliar a linha de aterramento da maior geleira do mundo

Crédito: Schmidt/Lawrence/Icefin/NASA Pstar Rise UP via AP

Seth Borenstein 3 minutos de leitura

Cientistas conseguiram ver de perto pela primeira vez a linha de aterramento da geleira Thwaites, na Antártida, apelidada de “Geleira do Juízo final” devido ao seu enorme derretimento e potencial de elevação do mar. As notícias são boas e ruins.

Usando robô semelhante a um torpedo de quase quatro metros, os cientistas descobriram um ponto crítico na plataforma de gelo, “onde o derretimento está ocorrendo muito rapidamente”, conta a cientista polar Britney Schmidt, da Cornell University.

O bloco ganhou o apelido de “Geleira do Juízo Final” porque seu derretimento pode elevar o nível do mar em mais de 65 centímetros.

Antes, não se sabia sobre este ponto. Mas um robô chamado “Icefin”, enviado por um buraco estreito de 587 metros, revelou como as fendas estão causando a fratura do gelo e gerando um impacto ainda maior do que o próprio derretimento.

“É por isso que a geleira está desmoronando. Não está diminuindo e desaparecendo. Ela está se despedaçando”, explica Schmidt, principal autora de um dos dois estudos publicados na revista “Nature”.

A fratura “potencialmente acelera o desaparecimento geral dessa plataforma de gelo”, afirma Paul Cutler, diretor do programa Thwaites da National Science Foundation, que retornou do local recentemente. “Seu possível desaparecimento completo pode se dar devido ao desmoronamento.” 

O trabalho é resultado de um enorme esforço de pesquisa internacional de US$ 50 milhões para entender melhor a maior geleira do mundo. Ela é do tamanho da Flórida e ganhou o apelido de “Geleira do Juízo Final” porque seu derretimento pode elevar o nível do mar em mais de 65 centímetros, embora isso deva levar centenas de anos.

Crédito: Dichek/ Icefin/ ITGC via AP

O derretimento está ligado ao que acontece embaixo dela. A água mais quente está entrando pelas fendas, algo chamado de derretimento basal, de acordo com Peter Davis, oceanógrafo da British Antarctic Survey e principal autor de um dos estudos.

A boa notícia é que grande parte da área submersa plana que os pesquisadores exploraram está derretendo mais lentamente do que o esperado. A má notícia, segundo Davis, é que isso não muda a quantidade de gelo que está se desprendendo da parte superior e elevando o nível do mar. O derretimento não é nem de longe um problema tão grave quanto seu recuo.

Quanto mais a geleira se parte ou recua, mais gelo flutua na água. Quando ele ainda está preso, não há impacto para elevação do nível do mar, mas quando se desprende, aumenta o nível geral da água por deslocamento, assim como gelo em um copo d'água.

Mas as notícias ruins não param por aqui. Estamos falando apenas de uma das partes da geleira – a maior e mais

quando o gelo se desprende, aumenta o nível geral da água por deslocamento, assim como gelo em um copo d'água.

estável. Os pesquisadores não conseguiram pousar um avião com segurança e fazer um buraco no gelo do tronco principal, que está se partindo mais rapidamente. Além disso, também encontraram rachaduras profundas e formações de “escadas” em partes do lado mais estável, onde o desprendimento do gelo é muito mais rápido e pior.

Para avaliar exatamente quão ruins estão as condições da geleira, seria necessário ir ao tronco principal e observar o derretimento por baixo. Mas isso exigiria um helicóptero, em vez de um avião mais pesado, e seria incrivelmente difícil, de acordo com o coautor do estudo Eric Rignot, da Universidade da Califórnia, em Irvine.

Enquanto o robô Icefin abria caminho pelo buraco no gelo – por meio de um jato de água quente – as câmeras mostravam não apenas o degelo, as fendas e o fundo do mar, também podiam ser vistas criaturas marinhas, principalmente anêmonas, nadando sob o gelo.

“Encontrá-las acidentalmente neste ambiente foi muito, muito legal”, conta Schmidt, da Cornell University. “Estávamos tão cansados que meio que nos perguntávamos: ‘estou realmente vendo isso?'." Havia esses pequenos alienígenas assustadores (as anêmonas) no meio do oceano de gelo. “Foi uma experiência realmente incrível”, conclui.


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