Estudo revela metais perigosos em brinquedos infantis vendidos no Brasil

Pesquisa da USP e da Unifal aponta níveis perigosos de metais pesados em brinquedos e cobra fiscalização

Brinquedos de crianças
O que há dentro dos brinquedos das crianças Estudo brasileiro revela metais tóxicos; entenda as consequências. Créditos:Pixabay.

Guynever Maropo 2 minutos de leitura

Na infância, os brinquedos estão no centro das brincadeiras e fazem parte do dia a dia das crianças - que, muitas vezes, acabam levando esses objetos à boca. O que nem sempre se sabe, porém, é o que há por trás dos materiais usados na fabricação desses produtos.

Um estudo da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com a Universidade Federal de Alfenas (Unifal), revelou altos níveis de substâncias tóxicas em brinquedos plásticos vendidos no Brasil.

A pesquisa analisou 70 produtos, nacionais e importados, e apontou falhas graves nas normas de segurança que deveriam ser seguidas pelos fabricantes.

Os resultados indicaram que grande parte dos brinquedos não cumpre as exigências do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) e da União Europeia.

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O caso mais grave envolve o bário, 44,3% das amostras ultrapassaram o limite permitido, chegando a concentrações até 15 vezes maiores que o valor regulamentar. A exposição prolongada ao elemento pode causar arritmias cardíacas, paralisias e outros danos neurológicos.

A pesquisa também identificou níveis preocupantes de chumbo, crômio e antimônio. O chumbo apareceu acima do limite em 32,9% das amostras e pode provocar danos neurológicos irreversíveis, lapsos de memória e redução do Q.I. Já o crômio está associado ao desenvolvimento de câncer, e o antimônio pode causar distúrbios gastrointestinais.

Análise dos produtos

Os pesquisadores compraram brinquedos em lojas populares e shoppings de Ribeirão Preto (SP) para representar diferentes faixas socioeconômicas. Foram analisados produtos voltados a crianças de 0 a 12 anos, muitos com formatos que facilitam o contato com a boca, principal via de exposição a substâncias químicas.

A identificação dos contaminantes foi feita por espectrometria de massa com plasma indutivamente acoplado (ICP-MS), técnica que detecta metais em concentrações muito baixas. Também foi usado o método de digestão ácida assistida por micro-ondas, que simula a liberação das substâncias ao contato com a saliva.

Elementos tóxicos encontrados

A análise revelou 21 elementos com potencial tóxico, incluindo prata, alumínio, arsênio, cádmio, mercúrio, chumbo e urânio. As taxas de liberação variaram entre 0,11% e 7,33%, o que indica que apenas uma fração das substâncias é liberada, mas ainda em níveis preocupantes devido às altas concentrações totais.

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Origem da contaminação

Ao investigar a cadeia produtiva, os cientistas observaram correlações entre níquel, cobalto e manganês, sugerindo contaminação comum durante a fabricação. Brinquedos de cor bege apresentaram concentrações mais altas de metais, possivelmente ligadas ao fornecedor da tinta.

Em estudos anteriores, o grupo já havia identificado compostos capazes de interferir no sistema hormonal, como bisfenóis, parabenos e ftalatos.

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O estudo reforça a necessidade de ampliar a fiscalização sobre a produção e importação de brinquedos no Brasil, especialmente diante da reincidência de resultados alarmantes.


SOBRE A AUTORA

Jornalista, pós-graduando em Marketing Digital, com experiência em jornalismo digital e impresso, além de produção e captação de conte... saiba mais