Excluídos, ativistas climáticos da linha de frente se reúnem na “anti-COP”
Ativistas se uniram em torno de um sentimento comum de exclusão do processo formal da COP29
O ativista Tunaimati’a Jacob Netzler, das ilhas Samoa, teve que encarar três voos e uma viagem de ônibus de 24 horas para chegar à grande conferência sobre o clima da ONU. O plano era se juntar a quase 200 outros ativistas de cerca de 40 países para discutir o destino do planeta.
Mas Netzler não estava viajando para Baku, no Azerbaijão, para a COP29, que vai até sexta-feira (dia 22). Seu destino era Oaxaca, no México, para o Encontro Global pelo Clima e Vida, que os organizadores apelidaram de “anti-COP.”
O encontro adotou um tom decididamente diferente do evento oficial das Nações Unidas. Hotéis de luxo e jatos particulares deram lugar a dormitórios e banheiros compostáveis, refletindo o objetivo dos ativistas de criar um espaço mais igualitário.
“Reunimos pessoas que normalmente não estariam envolvidas no processo formal da COP”, disse Netzler, que faz parte da campanha do Pacífico para a Iniciativa do Tratado de Não Proliferação de Combustíveis Fósseis. “Trouxe pessoas das comunidades que estão na linha de frente.”
O evento da semana passada foi um subproduto do sentimento de que, após quase 30 anos, as COPs estão fazendo muito pouco para combater as emissões de gases de efeito estufa.
Até o ex-chefe da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, que organiza a reunião anual, chamou a conferência de “distração” — atraindo desde chefes de estado até lobistas da indústria do petróleo.
Ativistas em Oaxaca também se uniram em torno de um sentimento compartilhado de exclusão da conferência internacional e preocupações de que as soluções resultantes estejam prejudicando as comunidades. A anti-COP visava proporcionar “um espaço para articular nossas lutas e propor alternativas concretas [ao status quo].”
O encontro de cinco dias terminou com uma declaração final que delineou os próximos passos do movimento, incluindo planos para uma maior coordenação entre os participantes e uma proposta para enviar caravanas de ativistas à COP30, no Brasil.
CONTRAPONTO
Um dos objetivos principais do evento era promover o entendimento entre os movimentos de defesa do clima e da terra que historicamente trabalharam em esferas mais ou menos separadas.
“Há muita hesitação dos grupos indígenas em colaborar com ambientalistas porque eles são vistos como movimentos brancos, ou movimentos que vêm do Norte Global”, explicou Dianx Cantarey, coordenador global da Dívida pelo Clima, uma das organizações de base que ajudaram a sediar a anti-COP.
Além disso, o encontro abordou quatro temas principais: os impactos dos megaprojetos de energia limpa nas comunidades ao seu redor, a crise global da água, a “comoditização” da vida e o deslocamento forçado de povos indígenas. Também repudiou o que os ativistas veem como falta de ação governamental diante da crise climática.
Os participantes descrevem o encontro tanto como uma resposta quanto como um contraponto às reuniões da COP, que, segundo eles, acabam priorizando dinheiro, poder e interesses dos combustíveis fósseis em detrimento da vida humana — um ponto sublinhado pelo fato de que Elnur Soltanov, diretor executivo da COP29, vice-ministro de energia do Azerbaijão e membro do board da estatal de petróleo do país, foi filmado aproveitando a cúpula para fazer negócios envolvendo petróleo.
“Quando você chega para a sua décima abertura [na COP], e é tudo a mesma coisa, é frustrante pensar que nenhum outro mundo é possível,” disse Xiye Bastida, diretora executiva da Iniciativa Re-Earth, organização sem fins lucrativos liderada por jovens e focada em tornar o movimento climático mais acessível e inclusivo.
VOLTA ÀS ORIGENS
Bastida, Netzler e outros na anti-COP sentiram-se marginalizados pela COP. Mas nem sempre foi assim. No início, nas décadas de 1980 e 1990, as negociações climáticas estavam entre os processos intergovernamentais mais acolhedores e inclusivos.
“No começo, as discussões sobre o clima eram abertas, permeáveis, transparentes”, disse Dana Fisher, diretora do Centro para Meio Ambiente, Comunidade e Equidade da American University, que não participou da anti-COP.
Segundo ela, isso começou a mudar por volta de 2009, quando a polícia dinamarquesa entrou em confronto com centenas de manifestantes na COP15 em Copenhague, fazendo dezenas de prisões.
Desde então, a sociedade civil vem sendo cada vez mais marginalizada, um fenômeno que tem sido particularmente evidente nas últimas três COPs, realizadas em estados autoritários: Egito, Emirados Árabes Unidos e, agora, no Azerbaijão.
O evento foi reflexo do sentimento de que as COPs estão fazendo pouco para combater as emissões de gases de efeito estufa.
À medida que foram excluídos, os defensores perderam a confiança nas COPs, criando o que Fisher chama de “efeito de interação” que levou à profunda desconfiança que está na origem de iniciativas como a anti-COP. Embora este tenha sido o segundo encontro do grupo, o deste ano foi muito maior e o primeiro a produzir um roteiro para ações futuras.
Os participantes da anti-COP pediram desde o mapeamento dos interesses financeiros por trás dos megaprojetos de energia limpa que impactam as comunidades indígenas até a construção de um banco de dados das melhores práticas bem-sucedidas de defesa da terra e a denúncia da eleição de Donald Trump.
“Para mim, o espaço da COP é para ler os textos de negociação e garantir que incluam e defendam o maior número possível de pessoas”, disse Bastida. “Se eu não fosse à anti-COP, não poderia ir a uma COP com a certeza de que estou fazendo minha parte para incluir vozes que têm sido excluídas.”
Este artigo foi publicado no Grist, organização de mídia independente sem fins lucrativos dedicada à cobertura de questões climáticas. Leia o artigo original.