Financiar empresas de petróleo e gás é um negócio inteligente para os bancos?

Embora as gigantes do petróleo e gás ainda sejam lucrativas, em muitos lugares a energia renovável é mais barata do que combustíveis fósseis

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Marcus Baram 5 minutos de leitura

Cinco das maiores petrolíferas do mundo – ExxonMobil, Chevron, Shell, TotalEnergies e BP – mais que dobraram seus lucros em 2022, com um acumulado de US$ 200 bilhões. Para ilustrar o crescimento do setor, a Chevron e a Exxon, juntas, possuem US$ 48 bilhões em ativos, em comparação com US$ 10 bilhões no início de 2021.

O aumento nos lucros do petróleo e gás é possibilitado, em parte, por financiamentos generosos de bancos, que forneceram US$ 673 bilhões para a indústria no ano passado,

Do ponto de vista do risco, as energias renováveis estão se tornando muito mais atraentes.

de acordo com o relatório anual “Banking on Climate Chaos”, elaborado por organizações sem fins lucrativos, incluindo a Rainforest Action Network e o Sierra Club. Já o financiamento bancário destinado à energia renovável permaneceu praticamente o mesmo nos últimos seis anos.

Os bancos que concedem empréstimos para empresas de petróleo e gás argumentam que isso é necessário para atender às demandas globais de energia. Embora haja uma crescente divisão no setor sobre continuar ou não a financiar projetos de combustíveis fósseis, apenas um grande banco global – o La Banque Postale, banco estatal francês – se comprometeu a interromper o financiamento para essas empresas até 2030.

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Recentemente, o HSBC, sétimo maior banco do mundo, anunciou que deixará de financiar novos projetos de combustíveis fósseis, embora continue financiando projetos existentes. Além disso, várias instituições financeiras “verdes” abandonaram a Net-Zero Banking Alliance em protesto contra a decisão de não impor restrições mais rigorosas ao financiamento de petróleo e gás.

DEMANDA POR ENERGIA LIMPA

De modo geral, os bancos justificam o financiamento contínuo dessa atividade enfatizando que as empresas de energia que ELES apoiam podem desempenhar um papel importante na transição global para uma economia verde. Seria a produção de combustíveis fósseis um investimento melhor do que energias renováveis?

No curto prazo, e sob certas condições – como o aumento da demanda causado pela pandemia e a guerra na Ucrânia –, a produção de petróleo e gás pode ser mais lucrativa, beneficiando as instituições financeiras que concedem empréstimos e apoiam petrolíferas.

À medida que a crise climática se agrava, os riscos associados aos investimentos em combustíveis fósseis continuam a aumentar.

Mas alguns especialistas argumentam que a energia verde é uma aposta financeira melhor a longo prazo, pois está em expansão, seus custos continuam a cair e as mudanças climáticas estão gerando uma demanda por energia limpa em todo o mundo.

“Não é necessariamente mais lucrativo, mas é um investimento melhor”, afirma Rachel Kyte, reitora da Fletcher School, da Universidade Tufts. Ela ressalta que, à medida que a demanda diminui e os esforços globais de descarbonização aumentam, “não é vantajoso manter muitos ativos de carbono”.

Do ponto de vista do risco, “as energias renováveis estão se tornando muito mais atraentes”. Um relatório recente da Associação Internacional de Energias Renováveis mostra que, em 2022, elas representaram 83% das adições de capacidade e 40% da geração de energia instalada globalmente – o maior aumento anual já registrado para energias renováveis.

Além disso, as instituições financeiras enfrentam riscos de longo prazo ao continuar financiando empresas de combustíveis fósseis. Essa prática não apenas contraria os compromissos de neutralidade de carbono, mas também expõe os investidores a perigos materiais. Os bancos correm o risco de sofrer perdas financeiras devido aos danos causados por eventos relacionados às mudanças climáticas, como furacões, incêndios florestais e secas.

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AUMENTO DOS RISCOS

Mesmo quando nos baseamos apenas no mercado, sem considerar as consequências ambientais a longo prazo, é mais inteligente investir em energias renováveis, de acordo com Tom Sanzillo, diretor de análise financeira do Institute for Energy Economics and Financial Analysis (IEEFA).

“Eles precisam manter os preços elevados, e isso é insustentável”, diz ele, referindo-se à última década, quando os preços do petróleo e gás estavam em declínio. “Ninguém espera que esses lucros continuem.” Já houve uma queda nos preços nos últimos meses, assim como nos lucros das empresas de petróleo.

alguns especialistas argumentam que a energia verde é uma aposta financeira melhor a longo prazo.

À medida que a crise climática se agrava, os riscos associados aos investimentos em combustíveis fósseis continuam a aumentar. Além da natureza cíclica do setor, a incerteza da exploração de petróleo e gás e as preocupações com a segurança de seus produtos se tornaram mais evidentes. Com os governos acelerando seus esforços de descarbonização, é provável que a demanda diminua nos próximos anos.

Embora as petrolíferas ainda sejam lucrativas, em grande parte do mundo a energia renovável é mais barata do que combustíveis fósseis. Isso se deve aos avanços tecnológicos – uma vez que, quando a capacidade instalada dobra, os preços diminuem pela metade, conforme apontam pesquisadores de energia.

Painéis de energia solar da Sun Mobi (Crédito: Divulgação)

Os bancos ainda dominam o financiamento do setor, com 20% das empresas de petróleo e gás (em uma recente pesquisa da Haynes and Boone) afirmando que sua principal fonte são os empréstimos bancários, seguidos por fontes alternativas, como fundos de capital privado e fundos de pensão.

No entanto, espera-se que a indústria sofra uma maior restrição no acesso a empréstimos no próximo ano, principalmente devido a projeções de queda no preço do gás.

No fim das contas, tudo se resume a dinheiro e tempo, como ressalta Paul Rissman, professor da Stern School of Business da Universidade de Nova York. “Os bancos financiarão qualquer coisa com a qual possam lucrar – combustíveis fósseis, energia renovável etc.”

Embora estejam cientes dos riscos futuros desses investimentos, os bancos justificam que “o prazo médio dos empréstimos é de cerca de cinco a sete anos, e acreditam ter tempo de sobra para interromper o financiamento de combustíveis fósseis, se necessário”.

Este artigo foi publicado originalmente na Capital & Main, premiada revista que cobre temas econômicos, políticos e sociais.


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