Fogo no parquinho? Esses espaços podem ajudar a combater a crise climática

Os Estados Unidos estão transformando os pátios de asfalto das escolas em áreas verdes com sombra e brisa fresca

Crédito: Trust for Public Land/ Nexus Media News

Marianne Dhenin 4 minutos de leitura

O novo parquinho da Shuang Wen, uma escola primária na Chinatown de Manhattan, conta com equipamentos de recreação, espaço para a prática de yoga, um palco e quadras de basquete e de tênis.

O pátio também ganhou um campo poroso de grama, capaz de capturar quase cinco milhões de litros de água de chuva, de acordo com o Departamento de Proteção Ambiental (DEP) da cidade de Nova York.

O gramado fica sobre bacias de infiltração, reservatórios capazes de reter grandes volumes de águas pluviais. Essas bacias cobertas por plantas, combinadas a um gazebo com telhado de grama, a um jardim de chuva e a uma série de novas árvores, podem ajudar a cidade a absorver melhor a precipitação extrema, que está se tornando mais frequente e mais severa por causa das mudanças climáticas.

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Toda essa infraestrutura verde intercepta a água da chuva antes que ela alcance uma bacia de captação, permitindo que seja naturalmente absorvida pelo solo. Isso abre uma capacidade adicional no sistema de esgoto, ajudando a reduzir as inundações.

Profissionais que trabalham com planejamento urbano, arquitetos e designers estão procurando tornar as cidades mais porosas, usando soluções baseadas na natureza para absorver melhor a água. Em cidades densas como Nova York, onde o espaço aberto é escasso, as autoridades estão repensando um espaço fundamental: os pátios das escolas.

“Se pensássemos em construir novos parques, a área real disponível para criá-los seria proibitiva”, explica Danielle Denk, diretora da Iniciativa Pátios Escolares Comunitários, da organização Trust for Public Land (TPL). “Mas, como já existem os pátios das escolas, e como esses terrenos muitas vezes não são aproveitados ao máximo, se puderem ser transformados... Essa se torna uma estratégia muito inteligente para a criação de áreas verdes.”

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Nos últimos 30 anos, a TPL já ajudou a reformular mais de 200 pátios escolares em Nova York. As mudanças contaram com o apoio financeiro de várias agências municipais e de organizações sem fins lucrativos e incluíram a criação de espaços de lazer e de áreas sombreadas.

De acordo com a TPL, a maioria dos 90 mil pátios de escolas públicas nos EUA está coberta por asfalto, uma combinação de derivados de petróleo que gera escoamento sem drenagem quando chove e que sofre grande aumento de temperatura sob o sol.

Concreto e asfalto contribuem para ilhas de calor urbanas, aumentando as temperaturas diurnas médias em até sete graus em climas quentes. Já os terrenos verdes das cidades fazem o oposto, reduzindo as temperaturas circundantes em até sete graus.

A troca de um pelo outro pode significar a diferença entre a vida e a morte durante as ondas de calor – que têm aumentado em gravidade e em frequência, principalmente no hemisfério Norte, conforme o planeta esquenta.

A Escola Pública Shuang Wen era a candidata perfeita para uma reformulação em seu parquinho. Em 2021, quando o furacão Ida atingiu a cidade, “não sobrou pedra sobre pedra depois da tremenda quantidade de chuva que tivemos”, conta Mary Alice Lee, diretora de parques infantis da cidade de Nova York da TPL.

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As melhorias no pátio das escolas também beneficiam os alunos. Estudos associaram a vegetação nos pátios escolares a um melhor desempenho acadêmico, mesmo depois de os pesquisadores controlarem fatores significativos de influência, como pobreza estudantil e status de minoria.

Os estudiosos sugerem que essas melhorias no desempenho acadêmico se dão graças à capacidade dos pátios verdes de diminuir o estresse e a fadiga mental, de estimular a prática de atividades físicas e de permitir brincadeiras mais criativas durante o recreio.

Quando o período de isolamento por conta da Covid-19 forçou o fechamento das salas de aula, a escola Shuang Wen conseguiu transportar o aprendizado em sala de aula e outros eventos para um ambiente de aprendizado externo e, mesmo assim, confortável.

O diretor da Shuang Wen, Jeremy Kabinoff, relata que as novas instalações, incluindo o palco, “deram aos alunos a oportunidade de experimentar uma autêntica experiência de formatura, especialmente porque a pandemia eliminou muitos eventos presenciais”.

Crédito: Trust for Public Land/ Nexus Media New

Os alunos de Shuang Wen ajudaram a projetar o novo pátio da escola por meio de discussões, pesquisas e votos. Denk, da TPL, contou que os estudantes ficaram tão entusiasmados com a infraestrutura verde quanto com os novos equipamentos do playground. Ela também se lembra com carinho do exemplo de um grupo de alunos da 4ª série na Filadélfia.

“Aprendemos tudo sobre problemas de qualidade da água, inundações na cidade, transbordamentos combinados de esgoto e sobre como a cidade está trabalhando para lidar com esse grande desafio”, diz ela. “Os alunos saíram dessas discussões se sentindo muito capacitados para trabalhar em uma solução para o pátio da escola.”

Quando chegou a hora de decidir entre ampliar o playground ou construir um jardim de chuva para ajudar a gerenciar as águas pluviais, eles optaram pelo jardim de chuva.

“Quando os estudantes têm a chance de fazer a coisa certa para o meio ambiente e para a sua comunidade, eles fazem essa escolha. A motivação continua porque eles passam a se enxergar como atores ambientais que estão fazendo a sua parte em relação às mudanças climáticas”, diz Denk.

Este artigo foi co-publicado com o Nexus Media News, serviço de notícias editorialmente independente e sem fins lucrativos que cobre as mudanças climáticas.


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