Google continua longe da sua meta de redução de CO2. Culpa da IA

A empresa cita a inteligência artificial e a demanda que ela impõe aos data centers como responsáveis pelo aumento das emissões no ano passado

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Alexa St. John 3 minutos de leitura

Há três anos, o Google anunciou um plano ambicioso para combater as mudanças climáticas, comprometendo-se a atingir “emissões líquidas zero” até 2030 – o que significa não liberar mais gases de efeito estufa do que consegue remover. No entanto, um relatório recente mostra que a empresa ainda está longe de alcançar essa meta.

Em vez de diminuir, as emissões do Google aumentaram 13% em 2023 em relação ao ano anterior. Comparado ao ano base de 2019, o crescimento foi de 48%. A empresa atribui esse aumento à inteligência artificial e à demanda que ela impõe aos data centers.

Lisa Sachs, diretora do Centro de Investimento Sustentável da Universidade Columbia, nos EUA, acredita que o Google deveria colaborar mais com empresas "limpas" e investir na rede elétrica. “A realidade é que estamos muito atrasados em relação ao que já poderíamos estar fazendo com a tecnologia e os recursos que temos para avançar na transição”, diz ela.

A diretora de sustentabilidade do Google, Kate Brandt, reconhece que alcançar a meta de emissões líquidas zero até 2030 é extremamente desafiador. “Sabemos que não será fácil e que nossa abordagem precisará continuar evoluindo”, ressalta Brandt. “Isso exigirá que lidemos com muitas incertezas, incluindo a incerteza em torno dos futuros impactos ambientais da IA”.

Alguns especialistas alertam que a rápida expansão dos data centers para suprir as demandas da inteligência artificial ameaça a transição para a energia limpa, que é essencial para combater as mudanças climáticas. Isso porque um novo data center pode atrasar o fechamento de uma usina movida a combustíveis fósseis ou levar à construção de uma nova.

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Essas instalações não apenas consomem muita energia, mas também exigem linhas de transmissão de alta voltagem e um grande volume de água para resfriamento. E, muitas vezes, são construídas em lugares onde a energia é mais barata, não onde fontes renováveis, como eólica e solar, são predominantes.

Outras grandes empresas de tecnologia também enfrentam desafios para alcançar suas metas de sustentabilidade devido à proliferação de data centers. Por exemplo, as emissões da Microsoft aumentaram 29% em relação ao ano base de 2020, conforme reportado em seu relatório de sustentabilidade ambiental de maio.

Segundo a Agência Internacional de Energia, a demanda energética global para data centers e inteligência artificial pode dobrar até 2026. Mas as empresas argumentam que a IA, que inclui ferramentas como o ChatGPT, também pode ajudar a combater as mudanças climáticas.

No caso do Google, isso poderia ser feito usando dados para prever futuras inundações ou otimizar o fluxo de tráfego para economizar combustível.

a rápida expansão dos data centers para suprir as demandas da inteligência artificial ameaça a transição para a energia limpa.

As emissões aumentaram no ano passado, em parte, porque a empresa usou mais energia; 25.910 gigawatts-hora a mais, um aumento em relação ao ano anterior e mais que o dobro do consumo de quatro anos atrás. Um gigawatt-hora é, aproximadamente, a energia que uma usina que atende várias centenas de milhares de residências produz em uma hora.

Por outro lado, com o aumento do consumo do Google, também cresce o uso de energia renovável. A empresa disse em 2020 que atenderia sua enorme demanda usando apenas energia limpa até 2030.

No ano passado, relatou uma média de 64% de energia livre de carbono em seus data centers e escritórios ao redor do mundo. E afirma que eles são, em média, 1,8 vezes mais eficientes em termos energéticos do que outros no setor.

Sachs elogia a ambição e a transparência da empresa, mas espera “que o Google se junte a nós em uma conversa mais rigorosa sobre como acelerar” a transição para energia limpa em meio à crise climática, “para que a situação não piore muito antes de começar a melhorar”.


SOBRE A AUTORA

Alexa St. John é repórter da Associated Press. saiba mais