Google elimina plástico de suas embalagens e quer ensinar outras empresas
Após três anos reformulando suas embalagens para eliminar o plástico, agora o Google lança um guia para que outras empresas possam fazer o mesmo
Quem tira da embalagem o novo celular Pixel 8 talvez não note o que está faltando. Mas a caixa do aparelho não contém nenhum tipo de invólucro plástico. Até a própria caixa é produzida sem camada nenhuma de revestimento plástico.
As etiquetas que lacram a embalagem agora são feitas de papel, assim como a fita adesiva resistente na parte superior da caixa. Dentro dela, o telefone fica protegido por fibra moldada em vez de isopor e não há cobertura plástica sobre ele.
A embalagem é totalmente livre de plástico – assim como todas as outras embalagens de produtos eletrônicos do Google serão no futuro, conforme novos produtos forem sendo lançados.
A empresa levou três anos para reformular seu design. Cada etapa foi um desafio: só a substituição do revestimento de plástico da caixa levou 12 meses. Agora, a equipe de embalagem quer ajudar outras marcas a seguir o mesmo caminho.
É uma tentativa de começar a enfrentar o enorme desafio do lixo plástico: das 19 milhões de toneladas de plástico que são despejadas no meio ambiente a cada ano, a maior parte vem das embalagens. Mesmo que as embalagens plásticas acabem em um centro de reciclagem, muitas vezes elas não chegam a ser recicladas.
em alguns casos, substituir uma peça significava que outras também precisavam ser alteradas.
"Embora muitos materiais plásticos possam ser tecnicamente recicláveis, a realidade é que, para muitas instalações de recuperação de materiais, isso é muito complicado do ponto de vista operacional e econômico", explica David Bourne, líder de estratégia ambiental do Google. É particularmente difícil reciclar uma embalagem que contenha materiais misturados. A solução: deixar os plásticos completamente de lado.
Em um novo guia, a equipe compartilha todos os detalhes sobre as alterações de design que fizeram, os materiais que escolheram e os fornecedores que usam, para que outras empresas possam copiar as mesmas etapas. Sem essas informações, outra marca poderia passar anos tentando reproduzir o mesmo trabalho.
ELIMINANDO O PLÁSTICO TRANSPARENTE
A película plástica de proteção é boa para proteger as caixas contra danos e para mostrar se elas foram abertas antes de chegar nas mãos do consumidor. Mas não é necessária, por isso a equipe fez várias alterações para substituí-la.
Por exemplo, revestimentos de proteção UV protegem as partes impressas contra arranhões. Etiquetas resistentes à base de fibra selam a caixa e mostram se ela foi aberta. E como o plástico protetor ajuda a tornar a caixa mais forte quando submetida à pressão, a equipe redesenhou as caixas para reforçá-las.
UM NOVO REVESTIMENTO
Uma caixa de eletrônicos convencional costuma ter um revestimento plástico que protege o papel-cartão contra água ou arranhões e dá um acabamento brilhante. Mas, quando ela vai para um centro de reciclagem, o papel fica mais difícil de reciclar. O plástico tem que ser separado e geralmente acaba em um aterro sanitário.
O Google testou várias alternativas em termos de desempenho, incluindo a eficácia dos novos revestimentos na proteção das embalagens, seu desempenho nas instalações onde os produtos são embalados (e no transporte) e a facilidade com que poderiam ser reciclados.
LACRE DE PAPEL
Como o Google queria parar de usar plástico transparente, precisava selar as embalagens de forma diferente, e os lacres de plástico não podem ser reciclados. A empresa encontrou uma alternativa de papel igualmente resistente, mas que tinha outras vantagens, inclusive a estética, aprimorando a experiência geral de desembalar. Quando testados com os usuários, os lacres de papel também foram mais fáceis de abrir.
ALÇA DE FIBRA MOLDADA PARA PENDURAR
Escondido dentro de alguns modelos de caixas, o Google costumava usar fita plástica para reforçar os cantos. A equipe procurou uma alternativa de papel que fosse igualmente resistente, tivesse bom desempenho nas máquinas dos fornecedores e estivesse prontamente disponível na cadeia de suprimentos.
fita de papel encontrada pode ser reciclada junto com outros papéis. O Google também encontrou uma alternativa para a alça de plástico na parte superior da caixa que é utilizada para pendurá-la: uma alça de fibra moldada que funciona como plástico e pode ser dobrada quando as caixas são enviadas.
BANDEJA PARA SEGURAR O PRODUTO NA CAIXA
No passado, a empresa usava bandejas feitas de PET (o mesmo plástico usado em garrafas de água) para manter o aparelho seguro dentro da caixa. As alternativas foram submetidas a uma série de testes, abrangendo desde a proteção do celular até o funcionamento nas fábricas dos fornecedores.
A escolha final foi uma versão de fibra moldada que pode ser modelada para se ajustar com precisão ao aparelho ou a outros componentes eletrônicos. Como outros componentes de papel, ela também tem um toque e uma aparência mais agradável do que o plástico, além de poder ser facilmente reciclada.
Fazer a mudança completa foi um desafio – em alguns casos, substituir uma peça significava que outras também precisavam ser alteradas. A equipe também teve que trabalhar de perto com os fornecedores.
"Buscamos parceiros que demonstraram disposição para se adaptar. Em alguns casos, tivemos que deixar de lado fornecedores que eram menos capazes ou estavam menos dispostos a investir em novos materiais e processos", conta Miguel Arevalo, responsável pelo setor de embalagens sustentáveis do Google.
"Por exemplo, encontrar uma fita de papel que atendesse aos nossos requisitos de resistência e repolpabilidade [capacidade de se dissolver na água] envolveu muitos testes e colaboração com vários fornecedores. Acabamos firmando parceria com aqueles que podiam fornecer a expertise técnica e as capacidades de fabricação necessárias para concretizar nossa visão.'"
