Google treina IA para ajudar a reduzir a pegada de carbono dos aviões

Os rastos de aerossóis são uma das principais fontes de aquecimento global, mas são também um problema que a IA pode ajudar a reduzir

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Adele Peters 3 minutos de leitura

As nuvens brancas e finas que pairam no ar quando passa um avião – os rastos de condensação – têm um grande impacto no clima: elas são responsáveis por mais de um terço do aquecimento global atribuído aos voos.

Mas uma nova inteligência artificial do Google, testada durante seis meses pela American Airlines, pode indicar aos pilotos como ajustar a sua trajetória de voo para reduzir os chamados "rastros de nuvem" em 54%.  

Essas nuvens se formam quando os aviões voam a grandes altitudes. Ao atravessarem certas zonas de ar úmido, o vapor d'água e a fuligem dos gases de escape da aeronave reagem para criar cristais de gelo.

Se as condições forem propícias, a fumaça pode durar até 10 horas, retendo o calor na atmosfera. E não, não estamos falando daquela teoria da conspiração que diz que "trilhas químicas" (no inglês, chemtrail) são dispersadas no céu a mando do governo.  Mesmo assim, a fumaça não intencional não deixa de ser perigosa.

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As tentativas de evitar a formação de rastros de nuvem não são novas. Os aviões militares, em particular, tentam evitá-los para não serem detectados pelos inimigos. Mas é difícil prever exatamente para onde um avião precisa voar para diminuí-los.

"As condições meteorológicas no céu são sabidamente imprecisas, especialmente no que diz respeito à humidade relativa, simplesmente porque não existem muitos sensores a essa altitude", explica Juliet Rothenberg, que lidera a gestão de produtos das iniciativas de IA climática do Google.

Para resolver o problema, a equipe passou centenas de horas rotulando dezenas de milhares de imagens de satélite dos rastros deixados por aeronaves (que são muito semelhantes a nuvens cirros naturais, o que dificulta a tarefa).

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"Introduzimos esses dados em modelos de detecção de imagens de IA e os utilizamos em conjunto com grandes quantidades de dados meteorológicos e de voo para desenvolver previsões de ponta", explica. Eles também utilizaram dados de rastros de aeronaves de fonte aberta, da Breakthrough Energy.

O teste com a American Airlines provou que pequenos ajustes num voo, subindo ou descendo alguns milhares de pés em locais específicos, podem fazer uma grande diferença. Os

alterar a trajetória de um voo é um passo muito mais simples, que pode ser implementado rapidamente.

pilotos já fazem regularmente alterações semelhantes para evitar a turbulência. O software que é utilizado antes e durante os voos para lidar com a turbulência poderia ser facilmente adaptado para adicionar dados sobre como diminuir a fumaça de aerossóis.

"Nosso objetivo é fazer com que a prevenção de rastros de nuvem se torne tão onipresente e tão rápida quanto a de turbulência", diz Rothenberg. "Já existem plataformas de software que nos permitem ampliar isso muito rapidamente."

Até agora, a maioria das companhias aéreas ainda não calcula seus rastros de nuvem, embora estudem seu impacto climático nos programas para zerar as emissões de carbobo. Mas o sistema de créditos de carbono da União Europeia começará em breve a monitorar esta parte da pegada da aviação. As próprias companhias aéreas já estão começando a reconhecer isso é mesmo um problema.

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Depois que o Google realizar mais testes (incluindo em voos noturnos, em que os rastros de nuvem podem ter um efeito maior), eles pretendem disponibilizar gratuitamente os dados e ferramentas para que qualquer um possa utilizá-los.

Outras mudanças também podem ajudar, incluindo a remoção de produtos químicos do combustível que aumentam a propensão à formação dos rastros de nuvem. Algumas misturas de biocombustíveis também podem reduzi-los.

No entanto, alterar a trajetória de um voo é um passo muito mais simples, que pode ser implementado mais rapidamente. É também algo que as companhias aéreas podem fazer enquanto buscam solução para um problema muito mais difícil de eliminar: as emissões de CO2 do combustível.

Essa também é uma forma barata de combater as alterações climáticas, diz Rothenberg. "Comprovamos que evitar os rastros de nuvem pode ser uma das soluções climáticas mais rentáveis, não só para a indústria da aviação, mas também para a economia em geral".


SOBRE A AUTORA

Adele Peters é redatora da Fast Company. Ela se concentra em fazer reportagens para solucionar alguns dos maiores problemas do mundo, ... saiba mais