Grandes estufas plantadas no deserto ajudam a “descarbonizar” indústria pesada

Crédito: GlassPoint

Adele Peters 3 minutos de leitura

No deserto nas margens da cidade industrial de Ras Al-Khair, na Arábia Saudita, uma extensa faixa de areia será ocupada por dezenas de estufas. Cobrindo sete quilômetros quadrados, uma área maior que a do Aeroporto Gatwick de Londres, as estufas não são para o cultivo de alimentos. Elas ajudarão a descarbonizar o processo de fabricação de alumínio, que faz uso intensivo de energia.

Neste momento, a indústria funciona com combustíveis fósseis. “O carvão está sendo queimado para fazer o alumínio que vai parar nos celulares, computadores e carros”, explica Rod MacGregor, CEO e fundador da GlassPoint, empresa que planeja construir o novo sistema.

O sistema usará tecnologia térmica solar em estufas para produzir vapor a partir da luz solar. “Muitas vezes, esses produtos têm emissões incorporadas ocultas das quais não temos conhecimento. É uma enorme quantidade de CO2 que estamos despejando na atmosfera.”

A empresa usa grandes espelhos curvos que ficam pendurados dentro de estufas e concentram a luz do sol em canos, aquecendo a água no interior para que ela ferva e produza vapor.

Créditos: GlassPoint/ Divulgação

“Quando as pessoas ouvem falar em “energia solar”, naturalmente pensam em painéis solares produzindo eletricidade”, diz MacGregor. “Mas, neste caso em particular, quando o usuário final precisa de calor, é muito mais eficiente consegui-lo direto da luz solar.”

No entanto, o vapor é parte fundamental do processo de refino da bauxita, material utilizado na primeira etapa da fabricação do alumínio. E a maioria das refinarias ainda usa carvão para ferver a água e, assim, produzir o vapor.

Na Arábia Saudita, a GlassPoint fechou uma parceria com a Saudi Arabian Mining Company, ou Ma'aden, para começar a planejar uma nova instalação térmica solar de 1,5 mil megawatts na refinaria da empresa. Até o momento, a refinaria usa gás para produzir vapor, mas ela reduzirá sua pegada de carbono pela metade ao mudar para a energia solar, reduzindo mais de 600 mil toneladas de CO2 por ano.

A empresa também possui uma planta de fundição adjacente, onde a bauxita refinada, ou alumina, é transformada em alumínio. Simultaneamente, ela vem trabalhando em maneiras de descarbonizar esse processo.

A indústria como um todo está começando a se transformar. A Apple vem trabalhando com outros dois grandes fornecedores de alumínio, Rio Tinto e Alcoa, para testar um novo processo de fundição que é carbono zero, pois libera oxigênio em vez de CO2 (o alumínio está sendo usado no mais novo iPhone SE).

Embora a tecnologia da GlassPoint não seja projetada para aplicações que demandam calor extremamente alto, como é o caso da fundição, ela pode ser usada em outras fábricas que dependem de vapor, desde produtores de alimentos ou lítio até fábricas de papel.

“Se você olhar para a indústria como uma categoria, ela é, na verdade, a maior consumidora de energia do mundo”, diz MacGregor. “Ela consome mais que o transporte e mais que o setor residencial. E 75% de toda a energia que a indústria usa está na forma de calor.”

Outras empresas estão trabalhando em diferentes tecnologias de energia limpa para a indústria pesada, incluindo hidrogênio verde. Mas MacGregor diz que a logística simples do sistema solar térmico o torna menos custoso.

As estufas protegem os espelhos do vento, o que significa que os componentes podem ser mais leves e mais baratos do que em um sistema que ficasse do lado de fora. Por enquanto, essa tecnologia ainda é mais cara que os combustíveis fósseis, mas, à medida que as refinarias enfrentam novas pressões – de marcas, investidores e novas regulamentações, como um imposto de carbono sobre o alumínio na União Europeia – elas planejam mudar.

A GlassPoint já tem algumas instalações menores em operação. Ironicamente, outras estão sendo usadas justamente para ajudar a melhorar a pegada de carbono da indústria do petróleo e gás. Ma'aden é uma das pioneiras na indústria de alumínio, com planos provisórios para que a nova instalação comece a ser construída em 2024.

“No começo, dizíamos aos usuários ou aos representantes de um complexo industrial: 'Podemos ajudar a descarbonizar seu processo'. Eles perguntavam: 'Mas por que nós iríamos querer fazer isso?'. Pelo menos, ninguém mais questiona essa necessidade”, diz MacGregor.


SOBRE A AUTORA

Adele Peters é redatora da Fast Company. Ela se concentra em fazer reportagens para solucionar alguns dos maiores problemas do mundo, ... saiba mais