Havaianos investem em uma alternativa sustentável para o óleo de palma

A substância, extraída da pongamia, está presente em alimentos como sorvete e massa de pizza

Crédito: Ako Salemi/ Terviva

Adele Peters 4 minutos de leitura

Em uma antiga plantação de cana-de-açúcar na ilha Oahu, que estava abandonada por décadas, fileiras de pongamias agora crescem no solo degradado. Apesar de estas árvores não serem novas no Havaí, é a primeira vez que são cultivadas.

A responsável pelo cultivo é uma empresa chamada Terviva, que descobriu uma maneira de processar seus grãos para transformá-los em alimentos. O óleo e a proteína dos grãos podem ajudar a substituir parcialmente o óleo de palma e a soja, dois dos maiores causadores do desmatamento no mundo. 

O óleo de palma, que está presente em alimentos como sorvete e massa de pizza, ajudou a destruir quase 25 milhões de acres de floresta na Indonésia e levou os orangotangos à beira da extinção. Já a soja cultivada para alimentar gado e porcos derrubou grandes faixas da floresta amazônica.

Naveen Sikka (Crédito: Terviva)

Mas, finalmente, será possível trazer árvores de volta para áreas desmatadas. “Estamos reflorestando aquela terra com pongomias”, conta Naveen Sikka, fundador e CEO da Terviva. “E recebemos créditos de carbono pelo que fazemos.”

Sikka começou a pesquisar estas árvores há mais de uma década, quando era estudante de pós-graduação. Ele explorou como o óleo dos grãos da pongamia poderia ser usado para produzir biocombustível. Porém, quando estava prestes a lançar sua startup, o mercado de biocombustíveis entrou em colapso. 

Mas sua pesquisa abrangia outra aplicação. Ao mesmo tempo, ele estudava como os grãos poderiam ser usados para alimentação. O uso do óleo tem uma longa história – na Índia, é usado em lamparinas e vernizes, por exemplo. No Brasil, é conhecido como azeite de dendê. Mas como os grãos são naturalmente amargos, eles nunca foram usados na produção de alimentos.

A princípio, a equipe pensou que só seria possível transformar a proteína dos grãos em ração animal. Mas, ao estudarem o que os tornava amargos, descobriram uma maneira simples de remover o gosto indesejado. 

O óleo extraído, que a empresa chama de Ponova, é rico em ácidos graxos ômega-9, como o azeite de oliva. Também tem cerca de 25% de gordura saturada, que produz uma sensação amanteigada na boca.

O primeiro produto a usar a substância foi uma barra de proteína à base de plantas da Aloha, feita com outros ingredientes cultivados no Havaí. De acordo com Sikka, o óleo dá uma “riqueza leve” à barra.

Em produtos como carne vegetal, ele pode substituir parcialmente o óleo de coco. E, por ter um teor de gordura menor, os produtos finais seriam mais saudáveis.

Crédito: Terviva

Como a árvore é extraordinariamente resiliente e pode crescer em terras degradadas com poucos recursos, ela pode eventualmente competir com o óleo de palma de baixo custo.

“Quando usamos terras agrícolas degradadas e poucos insumos, reduzimos o custo de produção”, explica Sikka. “A biologia da árvore nos permite colher muitos grãos por hectare. Uma pequena área cultivada gera uma grande quantidade.”

Embora demore cerca de quatro anos até que os grãos das árvores recém-plantadas possam ser colhidos, uma vez iniciada a produção, elas podem produzir a mesma quantidade de óleo por acre que as palmeiras e até quatro vezes mais por acre do que a soja.

A empresa testou dezenas de variedades selvagens de pongamia para encontrar aquelas que seriam mais produtivas. As árvores, que resistem à seca na natureza, crescem com pouca água. E, ao contrário da maioria, também podem capturar nitrogênio do ar, então precisam de pouco fertilizante.

Crédito: Terviva

De acordo com Sikka, sua pegada de carbono é menor do que qualquer outro óleo vegetal. Se considerarmos que também capturam carbono (uma árvore pode capturar cerca de uma tonelada de CO2 ao longo de sua vida útil de 30 anos), a pegada cai ainda mais. É um caso atípico no sistema alimentar global, responsável por cerca de um quarto das emissões de gases de efeito estufa.

Embora certos plantios, como a soja, sejam cultivados em relativamente poucos lugares, a Terviva quer trabalhar com agricultores de todo o mundo, tanto para tornar as cadeias de suprimentos mais resilientes quanto para trazer novas oportunidades econômicas para agricultores que enfrentam dificuldades.

Quando conversamos, Sikka estava na Índia, visitando um vilarejo onde os moradores colhem grãos de árvores silvestres e onde mais pomares serão plantados em breve. A colheita do grão está sendo feita agora e a empresa espera comprar de 30 a 40 toneladas da comunidade.

Crédito: Terviva

O empreendedor ressalta que esse novo mercado pode transformar vidas, especialmente em um lugar onde as pessoas vivem com US$ 1 por dia, já que uma tonelada custa U$ 500. Em breve, a empresa também começará a trabalhar em partes da Austrália que foram atingidas pela seca e em terras degradadas abandonadas pela indústria da palma na Indonésia.

No entanto, não é possível substituir totalmente a gigante indústria de óleo de palma ou a lavoura de soja. Mas a empresa pretende plantar 500 mil acres de pongamia até 2030 e dez milhões até 2040, o suficiente para substituir cerca de 15% da produção de soja.

“O que podemos fazer é interromper a expansão do plantio de soja. Estamos ficando sem terra e [os agricultores vão] derrubar florestas tropicais para cultivá-la. É isso que não queremos que aconteça.”


SOBRE A AUTORA

Adele Peters é redatora da Fast Company. Ela se concentra em fazer reportagens para solucionar alguns dos maiores problemas do mundo, ... saiba mais