IA e dados de satélite vão criar o primeiro mapa completo de toda a África

A maior parte dos países africanos não tem mapas básicos confiáveis. Um novo projeto quer finalmente mudar isso

Crédito: Tugba/ Pexels

Adele Peters 2 minutos de leitura

Os mapas oficiais da África estão parados no tempo – muitos estão desatualizados, incompletos ou ambos. E como boa parte dos governos não tem recursos para atualizar essas informações, decisões que vão desde a escolha de onde instalar usinas solares até algo simples como entregar um pacote se tornam mais difíceis. Agora, um novo projeto quer mapear todo o continente usando imagens de satélite e inteligência artificial.

“Cerca de 90% dos países africanos não têm acesso a um mapa-base atualizado e preciso”, afirma Sohail Elabd, diretor global de mercados emergentes da Esri, empresa responsável pela iniciativa Map Africa.

Em um evento da ONU no ano passado, Elabd conversou com líderes de agências de mapeamento de cerca de 30 países africanos. Quase todos afirmaram que não possuem mapas-base – essenciais para planejamento urbano, gestão de recursos e resposta a desastres. “Eles disseram que estavam com dificuldades”, conta Elabd. “Nenhum deles tinha recursos.”

No voo de volta para casa, ele começou a pensar no que seria possível fazer com dados de satélite. Antes, para mapear um país, era necessário sobrevoar o território por semanas com aviões especiais equipados com sensores e câmeras, além de fazer uma extensa coleta de dados em terra. “Era um processo caro e demorado”, ele explica.

Hoje, a IA é capaz de analisar imagens de satélite e gerar mapas detalhados por uma fração do custo. A ideia do novo projeto é treinar modelos para identificar elementos em diferentes tipos de terreno – de estradas em regiões desérticas a casas em áreas de floresta tropical. Depois disso, o sistema vai gerar mapas-base que mostram relevo, construções, estradas e limites geográficos.

O projeto também vai incluir camadas adicionais, como campos agrícolas, infraestrutura urbana e áreas de vegetação. Será possível mapear não só florestas e plantações, como também identificar os tipos de cultivo e até a espécie de cada árvore. Embora dados de satélite e IA já sejam usados no processo de mapeamento, fazer isso em escala continental é algo inédito.

Esses mapas podem ajudar governos a atualizar registros de terra e planejar desde a instalação de parques solares e eólicos até melhorias em portos. Também podem tornar os sistemas de navegação mais precisos. E, em locais onde não existem endereços formais – o que dificulta entregas e atendimentos de emergência –, os novos mapas podem fornecer os dados necessários para criar sistemas de endereçamento.

O projeto está previsto para começar no início do próximo ano. A Space42, empresa de tecnologia espacial dos Emirados Árabes Unidos, fornecerá os dados de satélite, enquanto a Microsoft ficará responsável pela infraestrutura de nuvem e pelo framework de IA. Cada país precisará fazer um pedido oficial para participar. Depois que a inteligência artificial estiver treinada, atualizar os mapas ficará muito mais barato – e cada país receberá um sistema próprio para fazer atualizações anuais ou bienais.

A mesma abordagem pode ser usada em outras regiões que também sofrem com falta de dados cartográficos, como a América do Sul e partes da Ásia. Segundo Elabd, “a plataforma que estamos construindo para a África foi pensada para ser reutilizada em outras regiões – ela pode gerar mapas-base em qualquer lugar do mundo”.


SOBRE A AUTORA

Adele Peters é redatora da Fast Company. Ela se concentra em fazer reportagens para solucionar alguns dos maiores problemas do mundo, ... saiba mais