Incêndios florestais no Canadá voltam a afetar a qualidade do ar nos EUA
Clima mais quente e seco, combinado com décadas de vegetação rasteira devido ao fogo, têm tornado os grandes incêndios florestais cada vez mais comuns
Dezenas de incêndios florestais estão ocorrendo no Canadá e a fumaça está se deslocando para o norte dos EUA novamente. Ao mesmo tempo, a região sudeste do país está sendo afetada pela fumaça do México, onde secas têm agravado os incêndios.
No ano passado, a temporada recorde de incêndios florestais no Canadá expôs milhões de norte-americanos em estados do centro-oeste e do nordeste à fumaça, com alertas indicando que a qualidade do ar atingiu níveis sem precedentes nessas regiões.
Partidas de beisebol foram adiadas e os céus da cidade de Nova York ficaram alaranjados devido à névoa, expondo, em alguns momentos, milhões de pessoas à pior qualidade de ar do mundo. Em algumas áreas, a fumaça persistiu por vários dias.
A principal pergunta na mente de muitas pessoas é: “este é o novo normal?”. Como cientistas, infelizmente, acreditamos que a resposta provavelmente é “sim”.
Conviver com a fumaça é uma nova realidade com a qual as pessoas terão que lidar agora e no futuro.
O clima mais quente e seco, combinado com décadas de predomínio de gramíneas e vegetação rasteira devido ao fogo, têm tornado os grandes incêndios florestais cada vez mais comuns.
O Canadá está enfrentando o segundo ano consecutivo extremamente seco e também está lidando com o ressurgimento de incêndios que permaneceram sob a superfície durante o inverno.
Entre 12 e 14 de maio, a fumaça dos incêndios nas províncias de Colúmbia Britânica e Alberta atingiu níveis prejudiciais, se estendendo aos estados norte-americanos de Montana a Wisconsin, e começou a se espalhar para o sul e leste, alcançando o centro-oeste e a região dos Grandes Lagos.
A Avaliação e Perspectiva de Incêndios Sazonais da América do Norte para maio a julho destaca as condições de seca no oeste do Canadá e na América Central e um risco de incêndios mais elevado do que o normal em ambas as regiões. Também aponta o desafio de prever o risco de incêndios após este período, já que o padrão climático do El Niño muda para La Niña nos meses seguintes.
Simulações de computador mostram que haverá mais dias de fumaça, com maiores concentrações, mais áreas queimadas e mais emissões de carbono dos incêndios – o que, por sua vez, agrava ainda mais as mudanças climáticas. Resumindo, as pessoas terão que aprender a conviver com a fumaça de incêndios florestais.
MONITORAMENTO E PREVISÃO
Os EUA possuem um extenso sistema de monitoramento e previsão da qualidade do ar para fazer alertas antecipados. Ele utiliza monitores de qualidade do ar em terra, sistemas de sensoriamento remoto via satélite para detectar fumaça e incêndios e sistemas de computador que combinam observações com informações sobre o vento, química e clima, complementados por orientações especializadas de meteorologistas.
No entanto, para pessoas comuns que tentam tomar decisões sobre a segurança de atividades ao ar livre, o sistema atual apresenta algumas limitações. Isso fica evidente quando a fumaça se desloca de incêndios distantes ou quando as taxas de emissão de fumaça mudam rapidamente e os padrões complexos de vento resultam em previsões e alertas conflitantes.
O Canadá enfrenta o segundo ano de seca e lida com o ressurgimento de incêndios que permaneceram sob a superfície durante o inverno.
Algumas melhorias seriam muito úteis para auxiliar na tomada de decisões práticas relacionadas à fumaça de incêndios florestais. Previsões mais precisas de 10 dias e previsões em nível de bairro poderiam ajudar as comunidades a se preparar com antecedência. Além disso, a combinação das previsões sazonais do clima, como precipitação, umidade e ventos, com as avaliações por satélite também poderia contribuir para o planejamento de emergência.
Para lidar de forma mais eficaz com o problema, serão necessárias mais pesquisas para entender melhor os efeitos de exposições recorrentes à fumaça de incêndios florestais e os perigos que surgem quando coincide com outros desafios, como o calor extremo.
As respostas da comunidade, como fornecer abrigos com ar limpo – semelhantes aos centros de resfriamento durante ondas de calor –, estão ganhando destaque, mas ainda há pouca orientação sobre o que caracteriza um abrigo com ar limpo e quando e onde ele deve ser utilizado.
Conviver com a fumaça está se tornando uma nova realidade com a qual as pessoas em grande parte da América do Norte terão que lidar novamente, este ano e no futuro.
Este texto é uma atualização de um artigo publicado originalmente em 1º de setembro de 2023.
Reproduzido do The Conversation sob licença Creative Commons. Leia o artigo original.
