Iniciativa reúne profissionais de inovação para apoiar empreendedores do RS

Segundo o Sebrae-RS, 600 mil micro e pequenas empresas foram atingidas diretamente pelas enchentes - ou 80% dos negócios gaúchos

Crédito: Rafa Neddermeyer/ Agência Brasil

Camila de Lira 3 minutos de leitura

Um mês depois da tragédia ambiental no Rio Grande do Sul, os gaúchos procuram retomar a rotina. Os pequenos empreendedores lutam para limpar a lama, contar as perdas e operar com o que sobrou.

Não será uma reconstrução fácil. As enchentes impactaram 80% dos negócios do estado. Em meio a ações do governo, empreendedores e profissionais de inovação do país se juntam para compartilhar informação e oferecer suporte para ajudar empresas a voltar a funcionar.

Uma das ações é a que junta especialistas para dar mentoria a micro e pequenos empreendedores afetados pela catástrofe climática. O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Rio Grande do Sul (Sebrae-RS) calcula que 600 mil micro e pequenas empresas gaúchas foram atingidas diretamente pelas enchentes. 

Isso sem contar as empresas e indústrias que estão paralisadas desde o começo de abril. A Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) projeta que 94,3% da atividade econômica do estado foi impactada e, em algum momento, teve que parar.

Voltar ao normal exigirá investimento não só de dinheiro, mas de energia, planejamento e estratégia. "Agora, os empresários do Rio Grande do Sul estão totalmente desorientados", comenta Alcir Cardoso, head de startups do Sebrae-RS, que coordena projetos de inovação e startups da entidade. 

O Sebrae-RS está coordenando diferentes ações de incentivo para micro e pequenos empreendedores. Uma delas pretende fazer 20 mil mentorias em 90 dias. Francisco Albuquerque, cofundador do hub de inovação Arco.cc e professor do Istituto Europeo di Design em São Paulo (IED-SP), está reunindo os mentores

A expectativa de Albuquerque é chegar a 150 profissionais dispostos a fazer acompanhamento voluntário de microempresários e empreendedores autônomos gaúchos. O processo será mediado pela Oraculli, ferramenta digital do Sebrae-RS. 

Além das consultorias, o Sebraetec Supera irá permitir um reembolso de até R$ 15 mil sobre os custos com reparos, manutenção ou reposição de equipamentos e mobiliário afetados pelos alagamentos. O prazo médio para o reembolso é de 45 dias.

REESTRUTURAR PRIMEIRO

Albuquerque conta que a ideia inicial era falar com os micro empreendedores sobre resiliência climática. "Neste momento, no entanto, vamos ficar em questões mais primordiais de reestruturação", diz o professor do IED, especialista em projetos de inovação.

Versados em áreas como design estratégico, de produto e inovação, com especialidades variadas – desde varejo até recursos humanos – os mentores deverão ajudar a traçar o primeiro plano de ação que cada empreendedor necessita.

A expectativa é chegar a 150 profissionais dispostos a fazer acompanhamento voluntário de microempresários gaúchos.

O grupo está se preparando para lidar com as especificidades daqueles que enfrentam o caos provocado pela enchente. Segundo Albuquerque, não se trata apenas de entender os números, mas de compreender a dimensão humana da tragédia.

Ele conta que se conectou com profissionais de Brumadinho, em Minas Gerais, para entender como a renovação empresarial ocorre após grandes tragédias climáticas. Por lá, após o rompimento de uma barragem da Vale que causou 272 mortes, muitos micro empreendimentos tiveram que mudar de ramo. Outros tiveram que passar para plataformas digitais. 

A resposta para uma calamidade desse tipo não é individual. "Não dá para olhar para os problemas causados pela crise climática como isolados, eles são sistêmicos. Para pensar na solução, precisamos também pensar no sistema", comenta o professor do IED. 

O FUTURO É REGENERAR

Apesar do cenário caótico, Cardoso lembra que  90% dos negócios atingidos nas duas primeiras enchentes – que atingiram o Vale do Taquari no ano passado – conseguiram se reerguer e manter o funcionamento. 

Reestruturar é o primeiro passo. Depois vem a regeneração. E a resiliência.

Crédito: Rafa Neddermeyer/ Agência Brasil

Para Cardoso, o momento abre espaço para conversar sobre negócios e gestão de riscos. "No futuro, eles precisam ter predefinidos os planos de ação, os esquemas de produção, entrega, lista de fornecedores diversificada, rotas e logística em casos de crise", afirma.

Na visão do professor do IED, a mentalidade sustentável fará parte da inovação. "Não é uma conversa só para o Rio Grande do Sul, mas para o amanhã de qualquer cidade do país. O que aconteceu em Porto Alegre pode ocorrer na sede da próxima COP, em Belém", diz Albuquerque.


SOBRE A AUTORA

Camila de Lira é jornalista formada pela ECA-USP, early adopter de tecnologias (e curiosa nata) e especializada em storytelling para n... saiba mais