Investimento em tecnologia climática cai, mas ainda há boas oportunidades
Pelo terceiro ano consecutivo, capital de risco destinado ao setor diminuiu, mas especialistas acreditam que o mercado está se ajustando, não desaparecendo

Pelo terceiro ano seguido, os investimentos de capital de risco em tecnologia climática recuaram em 2024. O setor movimentou apenas US$ 37,8 bilhões – uma queda de quase 40% em relação ao recorde registrado em 2021. E, segundo relatório da PitchBook, a tendência para 2025 é de queda ainda maior.
Como a tecnologia climática engloba diversas áreas, as empresas do setor acabam sendo impactadas por mudanças políticas e regulatórias que atingem indústrias como energia, agricultura e transporte. Ainda assim, mesmo com tarifas e mudanças nas prioridades dos governos pressionando os resultados, muitos investidores não veem motivo para preocupação.
“Não é algo que nos surpreende”, diz Sara Simonds, diretora executiva da Venture Climate Alliance, organização que reúne fundos de capital de risco focados no clima. “A maioria dos investidores com quem trabalhamos já investe nesses setores há muitos anos e está acostumada com os altos e baixos do mercado.”
O último grande ciclo de crescimento começou em 2021, quando o cenário era bem diferente. Políticas públicas favoráveis, implementadas no governo de Joe Biden, aqueceram o mercado e atraíram até investidores que nunca haviam atuado no setor.
Nos EUA, a Lei de Redução da Inflação, aprovada em 2022, destinou bilhões de dólares a projetos de energia limpa, veículos elétricos e outras soluções sustentáveis. Ela se somou aos incentivos da Lei de Infraestrutura e Empregos, de 2021, que ofereciam benefícios fiscais para carros elétricos e iniciativas de captura de carbono.
Esses estímulos impulsionaram os investimentos de capital de risco: foram US$ 60,5 bilhões em 2021 e US$ 53,8 bilhões em 2022, segundo a PitchBook.
Hoje, com parte dessas políticas revogadas pelo governo de Donald Trump e tarifas elevando os custos da energia limpa nos Estados Unidos, o cenário é outro. A China, segundo a Agência Internacional de Energia, continua sendo a principal fornecedora de painéis solares, turbinas e baterias de íon-lítio para carros elétricos.
Diante dessas mudanças, muitos “investidores turistas” – que entraram no setor durante o boom – estão recuando ou abandonando o mercado A desaceleração geral no número de negócios no setor de tecnologia também afeta a área climática.
APRENDENDOCOMOS ERROS
Apesar disso, investidores mais experientes seguem confiantes. Para eles, o momento traz oportunidades que podem compensar os riscos criados pelas mudanças políticas e de mercado.
Essa confiança vem, em parte, da experiência adquirida em ciclos anteriores. A chamada era “CleanTech 1.0” – período entre meados dos anos 2000 em que muitos fundos apostaram em startups de energia renovável que não deram certo – deixou aprendizados importantes.
Muitos investidores viram não só os erros daquela época, mas também os acertos que vieram depois, à medida que a demanda por soluções sustentáveis crescia.

“A crise climática é a maior de todas as megatendências”, afirma Andrew Beebe, diretor da Obvious Ventures. “Talvez não do ponto de vista pessoal, mas como investidor, o cenário macro é excelente. Quanto maior o desafio, maiores as oportunidades.”
Além disso, muitas das mudanças políticas afetam principalmente setores já estabelecidos – que, geralmente, não estão no foco do capital de risco, como explica Matt Eggers, diretor da Prelude Ventures. Investidores de risco tendem a buscar startups e empresas em estágio inicial, com potencial para crescer.
Embora haja inovação em setores já consolidados – como energia solar e eólica –, eles costumam atrair menos atenção de quem busca tecnologias realmente disruptivas ou novos nichos de mercado.
SOLUÇÕES DISRUPTIVAS EM TECNOLOGIA CLIMÁTICA
No fim das contas, o que os investidores ainda procuram é o mesmo que os atraiu ao setor há três anos: tecnologias novas ou aprimoradas, com alto potencial de escala e forte apelo de mercado.
Em 2023, a América do Norte manteve a liderança global em investimentos em tecnologia climática, com destaque para o setor de energia, de acordo com o relatório da PitchBook.
Houve um crescimento expressivo em fontes de energia despacháveis – que permitem ajustar rapidamente a produção conforme a demanda – e em infraestrutura para produção, armazenamento e transporte de hidrogênio. O primeiro trimestre de 2024 também registrou um aumento nos investimentos em energia, com grandes aportes em fusão nuclear.
Para investidores mais experientes, o momento traz oportunidades que podem compensar os riscos das mudanças políticas.
“Temos tecnologias muito promissoras em nosso portfólio”, diz Eggers. Ele e Beebe apostam no potencial de empresas que combinam eletrificação e inteligência artificial para transformar o setor climático.
Mas Eggers destaca que, além da inovação tecnológica, os investidores também buscam equipes sólidas e ideias voltadas para mercados grandes ou em rápida expansão – principalmente aqueles afetados pelas mudanças políticas e econômicas recentes.
“Onde há disrupção, há oportunidade”, resume Eggers. Isso vale também para o próprio mercado de investimentos, onde os fundos estão encontrando boas oportunidades em um setor que, agora, está menos saturado.