Já imaginou se um simples sapato fosse capaz de mudar o mundo?
Fundador da World Shoe explica como a organização está levando saúde, esperança e mobilidade econômica a quem mais precisa
E se um simples sapato pudesse mudar o mundo?
Essa foi a pergunta que Manny Ohonme se fez ao retornar à Nigéria, seu país de origem, após passar anos nos EUA estudando administração e economia.
O contraste entre a vida que havia deixado para trás e a realidade da vila onde cresceu era evidente. As pessoas não só não tinham acesso a produtos de luxo – como comidas refinadas e carros caros – como nem a itens básicos, como calçados.
Andar descalço as expunha a graves riscos de saúde, como infecções parasitárias, incluindo malária e a temida doença do verme-da-guiné. Decidido a mudar isso, Manny cofundou a World Shoe, uma organização global que trabalha em parceria com governos, ONGs e instituições sem fins lucrativos para fornecer calçados antimicrobianos, produzidos na África, com design inovador para pessoas que não têm acesso a sapatos.
Seu objetivo era que nenhuma criança precisasse andar descalça. A seguir, Manny compartilha como a World Shoe está avançando em questões de saúde pública e gerando impacto nas economias locais.
Celia Jones – Muitas empresas e organizações fornecem sapatos para populações de baixa renda. O que diferencia o seu modelo?
Manny Ohonme – Doenças tropicais negligenciadas, causadas por andar descalço em solo contaminado, são um enorme problema de saúde pública. Os sapatos da World Shoe têm propriedades antimicrobianas que ajudam a preveni-las e promovem uma higiene duradoura, ao mesmo tempo em que apoiam as economias locais, em vez de explorá-las.
Escolhemos construir nossa fábrica em Gana, onde identificamos um equilíbrio entre necessidade, oportunidade e potencial de impacto. Nosso modelo vai além do tradicional “compre um, doe um”. Buscamos criar um efeito multiplicador. Não estamos apenas fornecendo sapatos; também estamos impulsionando a mobilidade econômica e combatendo doenças.
Celia Jones – O propósito é algo muito pessoal. De onde vem o seu?
Manny Ohonme – Quando eu era pequeno, na Nigéria, vendia água e refrigerante nas ruas de Lagos para ajudar minha família. Um dia, um grupo de missionários veio ensinar as crianças a jogar basquete. O prêmio para o time vencedor era um par de sapatos novos para cada um da equipe.
A energia era contagiante; todos estavam empolgados. Fui escolhido para jogar e acabei ganhando, me tornando a primeira pessoa da minha família a ter um par de tênis novos.
A partir daquele momento, tudo mudou – minha mentalidade, meu futuro, tudo. Percebi que, mesmo tendo nascido na pobreza, eu podia alcançar grandes coisas.
Nunca imaginei que um par de sapatos pudesse mudar a vida de alguém. Mas a dor de crescer descalço se tornou minha inspiração para ajudar a construir um mundo melhor e criar oportunidades para aqueles que, como eu, não tinham qualquer esperança.
Celia Jones – Como você aproveita parcerias para ampliar seu impacto?
Manny Ohonme – Como este é um modelo de negócio totalmente novo, enfrentamos muitos desafios, desde obstáculos na cadeia de suprimentos, questões regulatórias, dificuldade na captação de recursos até pirataria internacional. Mobilizar parceiros-chave – tanto do lado do financiamento quanto da execução – tem sido essencial para o nosso sucesso.
Nunca imaginei que um par de sapatos pudesse mudar a vida de alguém.
Uma das principais estratégias tem sido contar com o apoio de líderes da indústria de calçados, como Nike, Adidas e Puma. Esses gigantes estão ajudando a World Shoe a entrar em novos mercados, graças às suas redes de contatos e ao otimismo em relação à nossa marca.
Tenho muito orgulho de termos criado uma comunidade de parceiros que realmente entende a importância da nossa missão e que está nos ajudando a atuar em canais humanitários, tanto no atacado quanto no varejo.
Celia Jones – Como a World Shoe tem expandido sua plataforma para enfrentar outras questões globais de saúde e desigualdade?
Manny Ohonme – Estamos trabalhando em um projeto que será finalizado ainda este ano, em parceria com a Fundação Gates e a USAID (Agência para o Desenvolvimento Internacional dos EUA). Estamos adicionando produtos reutilizáveis de higiene feminina nas embalagens. Essa iniciativa ajuda a levar esperança e um futuro melhor para as meninas.
Além da saúde feminina, nossos sapatos têm servido como incentivo para a vacinação, educação financeira e muito mais. Nosso objetivo é realizar os sonhos das crianças, formar líderes que se importam com seus países e promover mudanças não apenas nesta parte do mundo, mas em todos os lugares.
Celia Jones – O que mais o surpreendeu ao seguir esse novo modelo que se encontra na interseção entre saúde pública, responsabilidade social e impacto comercial?
Manny Ohonme – Nosso negócio vai além de gerar lucro; trata-se de cuidar das pessoas e promover mudanças significativas. Com muita frequência, a África é associada à pobreza e à ajuda humanitária.
Estamos trabalhando para mudar essa narrativa, mudando a conversa de ajuda externa para algo feito em casa, provando que o desenvolvimento sustentável é possível através do empoderamento local e do crescimento econômico. E a melhor parte é que é um modelo replicável, com o poder de gerar um impacto social mais amplo.
Celia Jones – Que conselho você daria a outros líderes que desejam integrar o impacto social em seus modelos de negócios?
Manny Ohonme – Não faça isso sozinho. Encontre colaboradores com ideias semelhantes para compartilhar a jornada. Para mim, um mais um pode se tornar quatro se você encontrar amplificadores para sua visão – parceiros que sejam complementares e simbióticos.
Seja um ímã de esperança. Certifique-se de que o trabalho que você faz inspire esperança no mundo. Quando você realmente se importa com o mundo, ele se importará com você.