Mapa mostra 600 espécies já contaminadas com produtos químicos “eternos”

Já se conhecem os efeitos dos PFAS na saúde humana, mas agora ele estão presentes em todos os ecossistemas ao redor do mundo

Crédito: Monique Shaw/ iStock

Kristin Toussaint 4 minutos de leitura

Os PFAS, também conhecidos como “produtos químicos eternos”, estão presentes em praticamente tudo, desde panelas até produtos de beleza e roupas. Eles estão na água, no meio ambiente e até mesmo em nossos próprios corpos. E um novo mapa revela que mais de 600 espécies no mundo todo já foram contaminadas por essas substâncias químicas..

O mapa é um projeto do Environmental Working Group (EWG)e utiliza mais de 200 estudos revisados por cientistas para mapear os locais onde os PFAS (substâncias per e polifluoradas, uma classe de produtos químicos sintéticos que persiste por milhares de anos) foram detectados em animais, incluindo peixes, aves, ursos polares, tigres e muitos outros.

Em humanos, os PFAS foram associados à diminuição da fertilidade, aumento do risco de câncer e atrasos no desenvolvimento.

Ao clicar em um ponto no mapa, é possível ver a localização das espécies, os tipos de PFAS detectados e a fonte da pesquisa correspondente. Mais de 625 espécies de animais foram documentadas em estudos que comprovam a exposição a essas substâncias.

“A contaminação é global”, afirma David Andrews, cientista sênior do EWG, que se dedica à regulamentação de produtos químicos nos Estados Unidos. “Uma das conclusões que podemos tirar ao analisar o mapa é que, de um extremo do planeta a outro, onde espécies selvagens foram testadas, foram detectados PFAS.”

Vale lembrar que a ausência de um ponto no mapa não significa necessariamente que os animais naquela área estejam livres de contaminação, mas apenas que, provavelmente, eles ainda não foram testados.

RISCOS À SAÚDE DE PESSOAS E ANIMAIS

Algumas das espécies expostas a esses produtos químicos já estão em perigo ou ameaçadas, e os PFAS podem representar ainda mais riscos. Pesquisas realizadas com jacarés no estado da Carolina do Norte (sudeste dos EUA), por exemplo, descobriram que, quando esses animais tinham níveis elevados dessas substâncias no sangue, também apresentavam lesões na pele e feridas que não cicatrizavam adequadamente.

Além disso, os cientistas afirmam que a exposição pode ser prejudicial para a reprodução das aves. Em animais de laboratório, os PFAS foram associados a doenças no fígado, na tireoide e no sistema reprodutivo, bem como a problemas no desenvolvimento e danos ao sistema imunológico.

Crédito: Environmental Working Group

Embora essas pesquisas sejam limitadas, o que realmente chama a atenção, segundo Andrews, é como os impactos na saúde da vida selvagem estão alinhados com os impactos documentados nas pessoas. Em humanos, os PFAS foram associados à diminuição da fertilidade, aumento do risco de câncer e atrasos no desenvolvimento.

Mas há muito mais pesquisas sobre como essas substâncias afetam os seres humanos em comparação com a vida selvagem. Para a proposta da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos que visa estabelecer padrões seguros para a água potável, foram analisados mais de 400 estudos sobre os impactos dos PFAS na saúde humana. Andrews acrescenta que esse nível de pesquisa provavelmente nunca será realizado para a vida selvagem.

HUMANOS SERVEM COMO COBAIAS

No entanto, os seres humanos podem, de certa forma, atuar como um sistema de alerta precoce para os efeitos dos PFAS em outras formas de vida. Os cientistas do EWG discutem essa ideia em um artigo que acompanha o mapa interativo, levantando a questão de se os humanos se tornaram uma “espécie sentinela” para os efeitos prejudiciais dessas substâncias na vida selvagem.

“Normalmente, consideramos os animais como indicadores de riscos potenciais para a nossa saúde”, explica Andrews. “Mas, neste caso, e no futuro, acreditamos ser imperativo examinar todas as evidências, especialmente aquelas coletadas da população humana e dos fatores estressantes em nossa saúde, e como esses fatores se aplicam à vida selvagem. Acreditamos que, assim, teremos a oportunidade de fazer mudanças nas regulamentações e restrições sobre o uso de produtos químicos, de maneira a beneficiar a biodiversidade e reduzir a pressão sobre outras espécies.”

Crédito: Deposiphotos

Andrews espera que o mapa e o artigo que o acompanha mostrem o quão amplamente difundidos estão os PFAS e ajudem a dar visibilidade à ameaça que eles representam para o meio ambiente. Essas substâncias agora são mais um fator de estresse, junto com as mudanças climáticas e a ameaça aos diferentes habitats.

O pesquisador espera que o movimento de conservação da vida selvagem possa ser integrado ao trabalho de regulamentação de produtos químicos, considerando também o impacto sobre os animais.

Em março, a Agência de Proteção Ambiental dos EUA propôs os primeiros limites para PFAS na água potável, um marco importante para controlar esses produtos químicos tóxicos amplamente difundidos. Mas, como demonstra o mapa do EWG, eles contaminaram muito mais do que as tubulações das casas.

Embora a qualidade da água potável seja uma área importante a ser considerada em termos de exposição humana, “o custo da contaminação vai muito além dos impactos diretos na nossa saúde”, acrescenta Andrews. “Ela afeta muito mais amplamente a vida selvagem”.


SOBRE A AUTORA

Kristin Toussaint é editora assistente da editoria de Impacto da Fast Company. saiba mais