Marcas estão prontas para a “geração Greta Thunberg”? A The Body Shop acredita que sim

Crédito: Carlos Roso/unsplash | Paulina Milde-Jachowska/unsplash | abc da comunicação

Camila de Lira 4 minutos de leitura

Aos 15 anos, a garota de tranças longas que segurava cartazes em frente ao parlamento sueco chamou a atenção do mundo. O que era para ser uma “greve escolar em favor do clima” virou um movimento global e agora todos conhecem Greta Thunberg. E ela não é a única dessa geração a assumir o palanque em sua comunidade, principalmente quando os assuntos são mudança climática e diminuição da pobreza. 

Pesquisa produzida pela The Body Shop em parceria com o Escritório da ONU para a Juventude (Osgey) mostra que adolescentes entre 15 e 17 anos são 4,5 vezes mais propensos a ocupar uma posição de liderança comunitária do que adultos. “Alguns acham que os jovens não querem se envolver com política, mas a pesquisa mostra que eles são muito mais abertos a participar de protestos políticos e querem estar envolvidos”, diz Christopher Davis, diretor de ativismo e sustentabilidade da The Body Shop Internacional. 

A realidade mostrada pela pesquisa é de uma juventude muito mais ativista e conectada a temas relevantes do mundo político. Por exemplo, os jovens na faixa etária entre os 15 e os 23 anos são quatro vezes mais propensos a participar de protestos. Para 31%, a mudança climática é um dos principais problemas do mundo, seguido de pobreza global e saúde. 

Jovens entre 15 e 23 anos são quatro vezes mais propensos a participar de protestos.

No Brasil, a veia ativista dos adolescentes tem outro reflexo prático para as marcas: o boicote. Segundo a pesquisa, 25% dos brasileiros entre 15 e 17 anos já deixaram de comprar alguma marca por motivos éticos – o famoso “cancelamento”. No caso dos adultos, quase 20% já boicotaram marcas por motivos éticos. E 25% dos jovens – e dos adultos – assinaram alguma petição para chamar a atenção para causas políticas. Como uma marca pode navegar por esse mundo?

Para Davis, a resposta está na transparência e em ter certeza de quais são suas mensagens e crenças. “Acreditamos em igualdade, em justiça social, em justiça ambiental. Estamos preocupados com a crise climática. Somos fortes defensores da igualdade de gênero e não temos receio de afirmar todas essas visões para o público", explica o executivo. “Não temos medo ou preocupação em fazer afirmações sobre como vemos o mundo”, complementa. 

Christopher Davis, diretor de ativismo e sustentabilidade da The Body Shop Internacional (Crédito: Joel Sheakoski)

CRENÇAS X POLÍTICAS

No começo de maio, a The Body Shop se juntou à cantora Anitta e a outras celebridades para incentivar os jovens a tirar o título de eleitor. A marca colocou uma equipe de facilitadores com tablets em suas lojas, para que os interessados conseguissem entrar no site do Tribunal Superior Eleitoral e tirar o documento. “O maior foco da campanha, no Brasil, será trabalhar com organizações locais para incentivar o voto nas eleições de outubro e estimular os jovens a usarem sua voz”, diz Davis.

Para alguns, a visão de que a marca incentiva a participação de jovens na democracia pode significar que ela estaria tomando um lado nas eleições de 2022. De acordo com Davis, isso está longe de ser verdade. “Não é nosso papel dizer aos clientes em quem votar. Acreditamos que os jovens, uma vez participantes da política, podem optar pela esquerda ou direita. O importante é garantir a diversidade”, defende Davis.

O executivo vê a polarização política como um dificultador na hora de se discutir mensagens e ações diretas. Alguns dados levantados pela empresa mostram que, de fato, vivemos um momento polarizado. Por exemplo, 43% das pessoas com menos de 30 anos afirmaram já ter discutido com um familiar com visões opostas. A média mundial é de 34%. Além disso, 49% dos brasileiros abaixo dos 30 anos já compartilharam conteúdo sobre alguma questão social ou ambiental em suas redes sociais.

Lojas da rede foram redesenhadas para se tornarem espaços de ativismo (Crédito: Divulgação)

“Não precisamos de mais divisão no mundo, precisamos de mais colaboração e cooperação”, acredita Davis. Para ele, a marca, ao se posicionar de maneira clara, consegue contribuir para a discussão dando voz e espaço aos jovens. “O objetivo é criar uma sociedade melhor. Isso é o que todos os lados querem.” 

O REAL PODER DAS MARCAS

Um dos motivadores para a The Body Shop olhar para o público jovem com mais foco em política é a percepção de que há, nesse grupo, energia para trazer mudanças ao mundo. Com a campanha, a marca finca pé na audiência abaixo dos 30 anos, movimento que tem feito paulatinamente há alguns anos, principalmente depois do redesenho das lojas para se tornarem espaços de workshops e ativismo.

O próximo passo da TBS será incentivar a entrada de jovens na política.

Segundo o executivo, o próximo passo da TBS será, de fato, fazer lobby em favor da entrada de jovens na política. Em alguns países, a marca vai advogar em favor da mudança de leis para poder liberar o voto a partir dos 16 anos. “O Brasil está bem evoluído nesse ponto. Queremos que os jovens deixem de ser excluídos da vida política e que tenham assento na mesa de decisões”, diz Davis.  

O poder de um negócio de trazer mudanças políticas, na sua visão, está em sua capacidade de se articular com os vários setores da sociedade. Além de ter voz junto a autoridades, a marca conta com a confiança do público e o poder da sua clientela. “Quando chegamos para um governo e falamos que temos um documento assinado por mais de mil clientes, isso nos dá um poder. É diferente de uma ONG ou de um cidadão”, finaliza Davis.


SOBRE A AUTORA

Camila de Lira é jornalista formada pela ECA-USP, early adopter de tecnologias (e curiosa nata) e especializada em storytelling para n... saiba mais