Marcas estão prontas para a “geração Greta Thunberg”? A The Body Shop acredita que sim
Aos 15 anos, a garota de tranças longas que segurava cartazes em frente ao parlamento sueco chamou a atenção do mundo. O que era para ser uma “greve escolar em favor do clima” virou um movimento global e agora todos conhecem Greta Thunberg. E ela não é a única dessa geração a assumir o palanque em sua comunidade, principalmente quando os assuntos são mudança climática e diminuição da pobreza.
Pesquisa produzida pela The Body Shop em parceria com o Escritório da ONU para a Juventude (Osgey) mostra que adolescentes entre 15 e 17 anos são 4,5 vezes mais propensos a ocupar uma posição de liderança comunitária do que adultos. “Alguns acham que os jovens não querem se envolver com política, mas a pesquisa mostra que eles são muito mais abertos a participar de protestos políticos e querem estar envolvidos”, diz Christopher Davis, diretor de ativismo e sustentabilidade da The Body Shop Internacional.
A realidade mostrada pela pesquisa é de uma juventude muito mais ativista e conectada a temas relevantes do mundo político. Por exemplo, os jovens na faixa etária entre os 15 e os 23 anos são quatro vezes mais propensos a participar de protestos. Para 31%, a mudança climática é um dos principais problemas do mundo, seguido de pobreza global e saúde.
Jovens entre 15 e 23 anos são quatro vezes mais propensos a participar de protestos.
No Brasil, a veia ativista dos adolescentes tem outro reflexo prático para as marcas: o boicote. Segundo a pesquisa, 25% dos brasileiros entre 15 e 17 anos já deixaram de comprar alguma marca por motivos éticos – o famoso “cancelamento”. No caso dos adultos, quase 20% já boicotaram marcas por motivos éticos. E 25% dos jovens – e dos adultos – assinaram alguma petição para chamar a atenção para causas políticas. Como uma marca pode navegar por esse mundo?
Para Davis, a resposta está na transparência e em ter certeza de quais são suas mensagens e crenças. “Acreditamos em igualdade, em justiça social, em justiça ambiental. Estamos preocupados com a crise climática. Somos fortes defensores da igualdade de gênero e não temos receio de afirmar todas essas visões para o público", explica o executivo. “Não temos medo ou preocupação em fazer afirmações sobre como vemos o mundo”, complementa.
CRENÇAS X POLÍTICAS
No começo de maio, a The Body Shop se juntou à cantora Anitta e a outras celebridades para incentivar os jovens a tirar o título de eleitor. A marca colocou uma equipe de facilitadores com tablets em suas lojas, para que os interessados conseguissem entrar no site do Tribunal Superior Eleitoral e tirar o documento. “O maior foco da campanha, no Brasil, será trabalhar com organizações locais para incentivar o voto nas eleições de outubro e estimular os jovens a usarem sua voz”, diz Davis.
Para alguns, a visão de que a marca incentiva a participação de jovens na democracia pode significar que ela estaria tomando um lado nas eleições de 2022. De acordo com Davis, isso está longe de ser verdade. “Não é nosso papel dizer aos clientes em quem votar. Acreditamos que os jovens, uma vez participantes da política, podem optar pela esquerda ou direita. O importante é garantir a diversidade”, defende Davis.
O executivo vê a polarização política como um dificultador na hora de se discutir mensagens e ações diretas. Alguns dados levantados pela empresa mostram que, de fato, vivemos um momento polarizado. Por exemplo, 43% das pessoas com menos de 30 anos afirmaram já ter discutido com um familiar com visões opostas. A média mundial é de 34%. Além disso, 49% dos brasileiros abaixo dos 30 anos já compartilharam conteúdo sobre alguma questão social ou ambiental em suas redes sociais.
“Não precisamos de mais divisão no mundo, precisamos de mais colaboração e cooperação”, acredita Davis. Para ele, a marca, ao se posicionar de maneira clara, consegue contribuir para a discussão dando voz e espaço aos jovens. “O objetivo é criar uma sociedade melhor. Isso é o que todos os lados querem.”
O REAL PODER DAS MARCAS
Um dos motivadores para a The Body Shop olhar para o público jovem com mais foco em política é a percepção de que há, nesse grupo, energia para trazer mudanças ao mundo. Com a campanha, a marca finca pé na audiência abaixo dos 30 anos, movimento que tem feito paulatinamente há alguns anos, principalmente depois do redesenho das lojas para se tornarem espaços de workshops e ativismo.
O próximo passo da TBS será incentivar a entrada de jovens na política.
Segundo o executivo, o próximo passo da TBS será, de fato, fazer lobby em favor da entrada de jovens na política. Em alguns países, a marca vai advogar em favor da mudança de leis para poder liberar o voto a partir dos 16 anos. “O Brasil está bem evoluído nesse ponto. Queremos que os jovens deixem de ser excluídos da vida política e que tenham assento na mesa de decisões”, diz Davis.
O poder de um negócio de trazer mudanças políticas, na sua visão, está em sua capacidade de se articular com os vários setores da sociedade. Além de ter voz junto a autoridades, a marca conta com a confiança do público e o poder da sua clientela. “Quando chegamos para um governo e falamos que temos um documento assinado por mais de mil clientes, isso nos dá um poder. É diferente de uma ONG ou de um cidadão”, finaliza Davis.