Material de construção já contém muito plástico tóxico. E isso pode aumentar
Alternativas de materiais não plásticos (e economicamente viáveis) estão disponíveis para todos os principais usos do plástico na construção civil
Já existe um consenso geral de que plásticos descartáveis são nocivos tanto para o meio ambiente quanto para a saúde humana. É por isso que a indústria de combustíveis fósseis, em resposta, está encontrando outros mercados para seus produtos – inclusive planejando dobrar ou até triplicar a produção de plástico nos próximos 25 anos.
E é aí que entra a engenharia civil, já que o uso de plásticos descartáveis é menos visível nas construções, embora seja igualmente problemático.
Até bem pouco tempo atrás, a pegada de carbono e plásticos dos prédios não era uma prioridade nos movimentos ambientais. Mas edifícios representam 17% de toda a produção global de plástico (ficando atrás apenas das embalagens), além de serem responsáveis por cerca de 40% das emissões globais de gases de efeito estufa.
No início, os movimentos de defesa do meio ambiente focaram na eficiência energética dos prédios, com o lançamento da certificação LEED em 1998, voltada principalmente para o uso operacional de energia (como aquecimento e resfriamento).
Já os materiais de construção não receberam a devida atenção. Mas isso está começando a mudar. Prédios agora estão sendo analisados por suas pegadas de carbono incorporado e pelo plástico no material de construção. A análise da pegada petroquímica, embora ainda esteja no começo, vai ganhando espaço.
Um novo estudo da organização não governamental Habitable revela o tamanho da pegada petroquímica nas construções. O relatório também mostra que é relativamente fácil evitar o uso de plástico em edificações, especialmente em comparação com setores como saúde ou embalagens.
Materiais de construção viáveis e não plásticos estão disponíveis para todos os principais usos do plástico no setor da construção civil, incluindo pisos, isolamento, tintas, tubulações e revestimentos. Além disso, esses materiais não plásticos tendem a ser melhores para a saúde humana e ambiental.
O relatório destaca a urgência de agir agora para reduzir o uso de plástico. Globalmente, a produção de plástico causa 170 mil mortes por ano e custa US$ 600 bilhões em danos à saúde humana e à produtividade econômica.
COMO REDUZIR O PLÁSTICO NO MATERIAL DE CONSTRUÇÃO?
Começando pelos tubos de PVC
Prédios e construções respondem por 70% do uso total de PVC, sendo os tubos o maior uso individual. O problema é que a fabricação de PVC utiliza e libera produtos químicos tóxicos em todas as etapas do ciclo.
Mas existem alternativas, como cobre reciclado, ferro, concreto e aço de baixo carbono. Antes de governos locais investirem mais recursos em infraestrutura de fornecimento de água com tubos de PVC, é válido pressionar por uma pausa.
Trocando o isolamento de poliestireno
Os prédios estão entre os maiores consumidores de poliestireno (principalmente para isolamento), representando 30% do uso total da indústria – o mesmo percentual das embalagens.
Mais uma vez, há alternativas para esse uso, como lã mineral, celulose, fibra de madeira, cânhamo e fibra de vidro. Essas opções são relativamente fáceis de implementar, além de serem competitivas em custo ou até mais baratas. As principais barreiras são o apego ao status quo e os padrões da indústria.
Evitando o plástico dos carpetes
Mais de um milhão de toneladas de plástico de carpetes são descartadas nos EUA por ano, o equivalente a todas as garrafas de água, sacolas e canudos plásticos descartados no país no mesmo período. Existem alternativas, como pisos de cerâmica ou madeira, ou mesmo tapetes de lã, para dar mais conforto. São mudanças pequenas, mas com grandes benefícios para a saúde.
SUBSTITUIÇÃO DO PLÁSTICO NO MATERIAL DE CONSTRUÇÃO
Além dessas três frentes, há outras maneiras de descarbonizar e "desintoxicar" um prédio. Por exemplo, para tintas, há opções como silicato mineral e cal; para revestimentos externos, há tijolo, pedra, madeira, cimento-fibra e estuque. Mesmo pequenas substituições em qualquer uma dessas áreas podem gerar grandes ganhos.
Se trocássemos apenas 20% dos pisos de PVC por pisos com pouco ou nenhum plástico, seria possível evitar a produção de mais de 60 mil toneladas de plástico a cada ano (o equivalente a cerca de seis bilhões de garrafas de água) e mais de 60 mil toneladas de PVC (ou 700 vagões de trem cheios desse material). Pequenos passos, grandes ganhos.
a produção de plástico causa 170 mil mortes por ano e custa US$ 600 bilhões em danos à saúde e à produtividade.
Ao substituir 20% do isolamento de poliestireno em prédios por placas de lã mineral, poderíamos evitar mais de oito mil toneladas de retardadores de chama, mais de 80 toneladas de partículas de poliestireno e cerca de 700 mil toneladas de plástico – o equivalente a mais de 70 bilhões de garrafas de água. Isso é muita economia para a saúde pública e para o meio ambiente.
Esses são ganhos substanciais possíveis com pequenas mudanças na forma como projetamos e construímos edifícios: 10% aqui, 20% ali. Os prédios onde moramos e trabalhamos merecem essa atenção em relação à sua pegada petroquímica e de carbono.
As oportunidades de descarbonizar e desintoxicar (como no caso da redução do uso do plástico no material de construção) estão por toda parte. É hora de aproveitá-las.