Microplásticos no oceano: a culpa não é dos microrganismos marinhos
Novo estudo não encontra correlação clara entre os níveis de poluição e a produção de enzimas degradantes de plástico por microrganismos marinhos
A poluição plástica é um problema gigantesco. Estima-se que existam cerca de 170 trilhões de partículas de plástico flutuando nos oceanos. Isso ressalta a urgência de desenvolver estratégias para mitigar esta crise ambiental.
Embora alguns microrganismos possam decompor certos tipos de plástico, nosso estudo não encontrou uma correlação clara entre os níveis de poluição e a produção de enzimas degradantes por microrganismos marinhos.
Para entender melhor essa questão, precisamos primeiro conhecer as diferentes propriedades e os impactos ambientais dos vários tipos de plástico. Existem quatro tipos: biodegradáveis, de base biológica, de base fóssil e não biodegradáveis.
● Os plásticos biodegradáveis podem se decompor naturalmente pela ação de microrganismos, como bactérias. Eles são produzidos a partir de fontes de energia renovável, como amido de milho ou cana-de-açúcar, e não permanecem no meio ambiente por longos períodos.
● Os plásticos de base biológica também são derivados de materiais naturais, como plantas. Entre eles está o PET, que é amplamente utilizado em roupas e embalagens de alimentos e líquidos. Embora possam ser produzidos a partir de fontes renováveis, a maior parte é derivada de combustíveis fósseis.
● Os plásticos de base fóssil são produzidos a partir de petróleo e gás. Eles incluem tipos comuns, como polietileno (PE), usado em embalagens descartáveis de alimentos, e policloreto de vinila (PVC), comumente utilizado em tubulações de água e isolamento de fios.
Esses plásticos geralmente não são biodegradáveis. Eles não se decompõem naturalmente e podem ficar no meio ambiente por séculos, contribuindo para a poluição e o aquecimento global.
O polietileno é o plástico mais produzido no mundo. Ele representa 103,9 milhões de toneladas por ano, seguido pelo PET (65,4 milhões) e pelo PVC (50,5 milhões). Globalmente, apenas 9% de todo o lixo plástico é reciclado.
De acordo com a Plastics NZ, termos como “bioplástico”, “biopolímero”, “de base biológica” e “biodegradável” estão sendo usados como sinônimos pela indústria, embora signifiquem coisas diferentes.
MICRORGANISMOS E DECOMPOSIÇÃO
Nosso estudo analisou informações genéticas de microrganismos marinhos a partir de dados de centenas de amostras de água. Isso nos deu informações sobre os genes que as bactérias marinhas usam para produzir enzimas, incluindo aquelas que degradam alguns plásticos. Assim, pudemos rastrear quais enzimas estão sendo produzidas por estes microrganismos.
A ideia é que, se os microrganismos marinhos estivessem decompondo plásticos, eles teriam que produzir enzimas capazes de fazer isso. Ou seja, locais com mais poluição plástica teriam níveis mais altos deste tipo de enzima.
No entanto, nosso estudo não encontrou uma correlação clara entre os níveis de poluição e a produção de enzimas degradantes de plástico. Isso sugere que o microbioma oceânico não desenvolveu mecanismos eficientes para decompor vários tipos de plástico.
Existem várias razões para isso. Os plásticos são muito diferentes e complexos. Cada tipo tem sua própria estrutura e propriedades e os microrganismos podem não ter tido tempo ou pressão suficiente para desenvolver enzimas especializadas para cada um.
Condições ambientais, como temperatura, correntes e disponibilidade de nutrientes, também podem influenciar a capacidade de degradação dos plásticos pelos microrganismos.
Plásticos não biodegradáveis podem ficar no meio ambiente por séculos, contribuindo para a poluição e o aquecimento global.
No geral, nosso estudo sugere que o microbioma global dos oceanos ainda não evoluiu a ponto de degradar eficientemente os diversos tipos de plásticos presentes nos ecossistemas marinhos. Isso ressalta o perigo que a poluição plástica representa para o meio ambiente.
Para resolver este problema, será necessário reduzir drasticamente a produção de plástico, além de recuperar resíduos que já estão presentes nos oceanos e adotar amplamente plásticos biodegradáveis.
Embora seja desanimador do ponto de vista ambiental, a falta de degradação microbiana do plástico confirma a durabilidade dos polímeros sintéticos e destaca o imenso desafio que teremos que enfrentar para limpar os oceanos.
Este artigo foi publicado no “The Conversation” e reproduzido sob licença Creative Common. Leia o artigo original.