Miguel Nicolelis defende inteligência natural humana e critica hype de startups
O neurocientista Miguel Nicolelis, referência internacional em neurociência e autor de estudos pioneiros sobre interface cérebro-máquina, participou nesta segunda-feira do programa Roda Viva, da TV Cultura

Em uma entrevista marcada por reflexões sobre ciência, inovação e o futuro da humanidade, o neurocientista Miguel Nicolelis criticou o hype de startups e a narrativa em torno da inteligência artificial no programa Roda Viva, da TV Cultura, nesta segunda-feira (dia 28).
Questionado sobre os caminhos para estimular a inovação no Brasil e garantir sua aplicabilidade, ele reconheceu a relevância das startups no ecossistema científico.
Segundo ele, as startups cumprem um papel importante em acelerar o desenvolvimento de ideias que vêm de um centro de pesquisa ou de uma instituição acadêmica para levá-las ao mercado. Isso porque fica difícil para grandes empresas gerar inovação. Daí a importância de grupos pequenos, focados em ideias nichadas.
“Meu drama com as startups é o hype. É vender o que nunca vão entregar. É vender ideias como a de que vamos fazer ‘download’ do cérebro humano”, afirmou.
Ele citou, inclusive, o bilionário dono da Tesla e da SpaceX: “meu amigo Elon Musk diz que vamos fazer upload das nossas mentes antes de morrer, em robôs que vão nos manter vivos. É um absurdo. O cérebro humano não é ‘downloaded’ nem ‘uploader’.”
Ao longo do programa, Nicolelis também refletiu sobre o momento atual de sua vida. Contou que tem lido filosofia e se debruçado sobre as grandes questões da existência.

“Tenho aprendido que, desde o momento em que o primeiro ser humano olhou para o céu e viu o tamanho diminuto que ocupamos na complexidade do cosmos, aquele cérebro recém-saído das árvores começou a pensar sobre todas as questões que ainda nos afligem.”
Para ele, o investimento massivo em promessas tecnológicas exageradas tira o foco do que realmente importa. “Não seria muito mais interessante, em vez de jogar trilhões de dólares no que não vai ser nem inteligente nem artificial, darmos dois passos para trás e ampliarmos a capacidade da inteligência natural humana de entender o que está à nossa volta, para melhorar a vida das pessoas?”
Emocionado, Nicolelis concluiu com uma defesa apaixonada da ciência. “Nenhuma rede neural jamais vai imaginar, jamais vai sentir o prazer de descobrir algo que ninguém jamais viu. Que é o que o cientista faz.”