Mineração de urânio está impactando uma das maravilhas da natureza

Os preços do urânio dispararam, fazendo com que minas nos EUA retomassem a produção, apesar dos impactos ambientais e à saúde a longo prazo

Crédito: George Rose/ Getty Images

Wyatt Myscow 3 minutos de leitura

Três minas de urânio entraram em operação ao longo da fronteira entre os estados do Arizona e Utah, nos EUA, com mais previstas em outras partes do oeste montanhoso, conforme os preços do mineral, necessário para a energia nuclear, disparam em resposta à pressão global para reduzir o consumo de combustíveis fósseis e combater as mudanças climáticas.

No entanto, essas minas estão enfrentando críticas intensas de tribos indígenas e ambientalistas. Uma delas está situada em um novo monumento nacional designado no ano passado, enquanto as outras duas estão em uma região onde os impactos da mineração do século 20 persistem até hoje.

Este é o mais recente capítulo da longa disputa entre a necessidade de extrair minerais para fontes de energia limpa e os danos que a mineração causa no meio ambiente e nas comunidades locais.

Ambientalistas e tribos resistiram às propostas de mineração, incluindo as três minas que entraram em operação no Arizona e Utah. Eles apontam possíveis impactos nos suprimentos e na qualidade da água, os efeitos negativos para a saúde das comunidades indígenas e a destruição de terras culturalmente sensíveis.

Por anos, minas de urânio autorizadas nesses estados permaneceram inativas, devido à baixa demanda e ao preço do minério. Mas os tempos mudaram, segundo Curtis Moore, porta-voz da Energy Fuels Resources, empresa que explora as minas, com os preços do urânio atingindo recentemente US$ 90 por libra (450 gramas).

O maior desafio que a indústria de mineração enfrenta – especialmente a de urânio – é a oposição das comunidades locais, tribos e ambientalistas. As três minas que acabaram de iniciar as operações enfrentaram anos de resistência e litígios, sendo a mina Pinyon Plain talvez a mais controversa.

Crédito: Sources: Energy Fuels/ Paul Horn/ Inside Climate News

Anteriormente conhecida como mina Canyon Uranium, ela recebeu autorização para operar em 1986 e está localizada a 11 quilômetros ao sul do Parque Nacional do Grand Canyon.

Agora, a mina está dentro do Baaj Nwaavjo I’tah Kukveni – Pegadas Ancestrais do Monumento Nacional do Grand Canyon –, área de preservação da herança tribal designada no ano passado, que proíbe novas iniciativas de mineração dentro de seus limites.

No entanto, a Lei de Mineração de 1872 não permite que tal proibição revogue direitos preexistentes que comprovaram ser economicamente viáveis. Portanto, a Pinyon Plain não foi afetada.

Opositores defendem que a mina representa uma ameaça à quantidade e qualidade da água na região, incluindo a única fonte de água potável para a tribo Havasupai e as nascentes que deságuam no Grand Canyon. Desde 2013, quando a empresa começou a perfurar o poço, bombeou mais de 185,5 milhões de litros de água, agora contaminada com altos níveis de arsênio e urânio.

Parque Nacional do Grand Canyon (Crédito: jose1983/ iStock)

Já os reguladores estaduais afirmam que a mina não afetará os suprimentos locais de água, embora grupos ambientalistas contestem essas análises. Em uma região do sudoeste dos EUA afetada pela seca, onde cada gota é valiosa, as minas podem consumir vastas quantidades de água e, potencialmente, afetar sua qualidade.

“Isso realmente mostra o quanto temos que avançar com a reforma da Lei de Mineração de 1872”, argumenta Amber Reimondo, diretora de energia do Grand Canyon Trust, grupo ambientalista focado na proteção do cânion, que trabalhou com tribos locais e outros grupos para protestar contra a mina.

“Porque, se não fosse por isso, minas que estão em lugares totalmente inapropriados não poderiam avançar”, explica ela. “A Pinyon Plain afeta recursos culturais e hídricos. E afeta uma das maravilhas do mundo. É um lugar onde o senso comum diz que não deveríamos construir uma mina de urânio. E, ainda assim, aqui estamos.”

Este artigo foi publicado originalmente no Inside Climate News e republicado com a devida permissão.


SOBRE O AUTOR

Wyatt Myscow é jornalista e cobre o setor de meio ambiente. saiba mais