Munição vendida em máquinas automáticas? Cultura armamentista foi longe demais

Nos EUA, máquinas de venda automática cheias de munição testam os limites da facilidade de acesso que alguns produtos deveriam ter

Créditos: American Rounds/ macrovetor/ Freepik/ Tengyart/ Unsplash

Rob Walker 3 minutos de leitura

Muito disseminadas nos EUA, as máquinas de venda automática não são nem de longe a tecnologia mais avançada. Mas parece que os norte-americanos não conseguimos superá-las. Talvez esses dispositivos que trocam produtos por dinheiro sem nenhuma interação humana exerçam algum tipo de fascínio que continua inspirando variações da mesma ideia. 

Mas um caso recente talvez seja o exemplo mais chocante até agora: máquinas automatizadas de venda a varejo que distribuem munição. Sim, isso existe!

Por décadas, a preocupação com a conveniência do consumidor levou a inúmeros experimentos com máquinas de venda automática. Mas esse último caso levanta a questão: será que tudo precisa mesmo ser tão prático de comprar?

As Automated Ammo Retail Machines, fabricadas e distribuídas pela startup American Rounds, sediada em Dallas, seguem essa tendência, com algumas novidades. 

Os dispositivos prometem verificar o documento de identidade com foto do cliente para confirmar que ele tem mais de 21 anos, além de usar a tecnologia de reconhecimento facial para garantir que ele seja compatível com a pessoa que está comprando a munição. 

As escolhas são feitas por meio de uma interface de tela sensível ao toque e a munição é distribuída no local. Isso inclui as principais marcas de balas para rifles, pistolas e espingardas, com a variedade de produtos adaptada às temporadas de caça.

O primeiro quiosque de munição da American Rounds foi instalado em novembro passado em uma mercearia Fresh Value em Pell City, no estado do Alabama – uma cidade com menos de 15 mil habitantes. Desde então, pelo menos meia dúzia de outros foram instalados em locais de varejo no Alabama, Texas e Oklahoma.

Crédito: American Rounds

Depois da recente rodada de divulgação na imprensa norte-americana, o CEO Grant Magers informou à Fast Company que sua empresa recebeu "centenas" de solicitações de lojas e manifestações de interesse dos consumidores "da Califórnia à Flórida".

Não há nada de intrinsecamente ilegal nas máquinas de venda automática de munição – que, segundo consta, são aprovadas pelo Birô de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos (conhecido como ATF, na sigla em inglês) – desde que cumpram as leis estaduais e locais e as regras de zoneamento.

as máquinas automáticas não estão substituindo o sistema de munição existente, mas sim expandindo.

Mesmo assim, por que esse tipo de serviço existe? Ainda mais em uma época na qual alguns grandes varejistas, como o Walmart, restringiram algumas vendas de munição e armas em resposta aos tiroteios em massa. 

O site da American Rounds traz algumas respostas de caráter duvidoso: "ao abraçar a mudança e desafiar o status quo, nosso objetivo é revolucionar o setor de munição, tornando a compra mais simples, rápida e inteligente para todos". "Somos a opção mais segura do mercado", diz o CEO da empresa.

Dito isso, as máquinas automáticas não estão substituindo o sistema de munição existente, mas sim expandindo. E elas têm seus próprios riscos: um especialista em segurança cibernética disse ao  Business Insider  que os dispositivos apresentam pelo menos algum risco de serem hackeados. Magers ressalta o argumento de segurança e afirma que essas máquinas não armazenam, compartilham ou vendem as informações de identificação.

    É difícil dizer se essa novidade será bem-sucedida, mas, de acordo com o executivo, a American Rounds foi fundada em resposta ao interesse de cadeias de supermercados, muitas vezes em áreas rurais, que buscavam oferecer aos seus consumidores algo que eles desejavam – "concorrência de livre mercado" padrão, diz ele. 

    Magers lembra que já existem máquinas de varejo automatizadas (ele não usa o termo "máquinas automáticas") para todos os tipos de produtos para adultos, inclusive álcool e tabaco. Portanto, uma máquina de distribuição de munição pode parecer algo estranho agora, mas, segundo ele, seu objetivo real a longo prazo é fazer com que essas opções pareçam tão normais quanto comprar pão e leite.


    SOBRE O AUTOR

    Rob Walker assina Brended, coluna semanal sobre marketing e branding. Também escreve sobre design, negócios e outros assuntos. saiba mais