Na COP28, agropecuária tenta minimizar seu papel no aquecimento global

Grupos da indústria trabalham em uma campanha para minimizar os impactos da carne e dos laticínios nas emissões de carbono

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Georgina Gustin 4 minutos de leitura

Até o final da Cúpula do Clima da ONU, a COP28, que está acontecendo agora em Dubai, nos Emirados Árabes, vamos ouvir muito sobre a chamada “transformação do sistema alimentar”.

Este foco sem precedentes em alimentos e agricultura na conferência é fruto da Agenda de Sistemas Alimentares e Agricultura anunciada há quatro meses pelos Emirados Árabes Unidos – anfitrião do evento –, que incentiva governos a assinarem um acordo inédito para combater as emissões de suas indústrias.

grupos comerciais da indústria da carne querem destacar na conferência os pontos de seu interesse.

O sistema alimentar responde por cerca de um terço das emissões globais de gases de efeito estufa – uma realidade que está servindo de base para a criação de metas de redução de emissões que escapam ao alcance do mundo.

Este ano, a agricultura finalmente conquistou o palco principal. No entanto, enquanto seus defensores aplaudem o destaque da pauta, alguns questionam se esta poderia ser uma tática pré-planejada do país anfitrião, rico em petróleo.

De qualquer forma, assim que ficou claro que os sistemas alimentares estariam no topo da agenda, gigantes de alimentos e agricultura, junto com seus lobistas, começaram a se preparar.

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As indústrias da carne e dos laticínios – intensivas em carbono – prepararam uma forte presença e planejam argumentar que seus produtos ainda têm um lugar no mundo em aquecimento. Os maiores produtores e comerciantes de grãos também estão representados.

Segundo o The Guardian, a JBS, a maior produtora de carne bovina do mundo, e grupos comerciais da indústria da carne, incluindo o North American Meat Institute (que representa produtores dos EUA), querem destacar na conferência os pontos de seu interesse. O North American Meat Institute quer enfatizar “o papel da carne e dos laticínios” na agricultura sustentável.

Desde a COP 26, realizada há dois anos, as taxas de desmatamento aumentaram.

Embora os grupos de lobby da indústria tenham uma forte presença na conferência, grupos de defesa estão pressionando por equilíbrio. “No mundo todo, a maioria dos produtores são pequenos agricultores que dependem da produção de alimentos”, observa Vartika Singh, analista do Instituto Internacional de Pesquisa em Políticas Alimentares. “Grande parte do Sul Global corre um risco desproporcional devido às mudanças climáticas. São eles que deveriam estar à mesa.”

DESMATAMENTO

Na COP26, realizada há dois anos em Glasgow, na Escócia, mais de 140 países se comprometeram a “parar e reverter” o desmatamento e a degradação da terra até 2030. No entanto, desde então, as taxas de desmatamento aumentaram.

Grupos ambientais e de conservação pressionam os países para que implementem medidas para cumprir o acordo, incluindo compromissos financeiros. Eles também investigam se os grupos indígenas, que se mostraram a defesa mais forte contra o desmatamento, estão incluídos na implementação. A produção agrícola é o principal motor do desmatamento e da perda florestal.

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No mesmo evento, as principais empresas de alimentos e agricultura, incluindo a JBS e a gigante do comércio de grãos Cargill, concordaram em reduzir as emissões e interromper a “perda de floresta associada à produção e ao comércio de commodities agrícolas”. Mas seus compromissos, em grande parte, não foram cumpridos. 

Durante a conferência do ano passado, no Egito, quando a Cargill revelou seu plano para cumprir a promessa, clientes,

Grande parte do Sul Global corre um risco desproporcional devido às mudanças climáticas. São eles que deveriam estar à mesa.

incluindo gigantes como Walmart e Nestlé, disseram que o programa de desmatamento da empresa era tão fraco que os impediria de atingir suas próprias metas climáticas e de combate ao desmatamento se continuassem a comprar matérias-primas da produtora de alimentos.

Recentemente, a empresa fez um grande anúncio, dizendo que eliminaria o desmatamento de suas cadeias de abastecimento no Brasil, Argentina e Uruguai.

“O compromisso deles é encorajador e seria um grande avanço”, argumenta Mathew Jacobson, da Stand.earth, grupo que pressionou a Cargill a honrar seus compromissos. “Mas, dado o seu longo histórico de fazer e descumprir promessas, é difícil não ser cético.”

DESPERDÍCIO DE ALIMENTOS

Estima-se que de 8% a 10% das emissões globais de gases de efeito estufa provenham de alimentos que nunca chegam à mesa ou são descartados, sem serem consumidos.

Na "Declaração dos Emirados sobre Agricultura Sustentável, Sistemas Alimentares Resilientes e Ação Climática”, a redução do desperdício de alimentos é mencionada especificamente pela primeira vez.

“Estamos animados com a forte presença dos sistemas alimentares na pauta”, afirma Lisa Moon, CEO da Global FoodBanking Network. “Eles precisam estar integrados [nas contribuições nacionalmente determinadas] e nos planos nacionais de adaptação. Nesse contexto, a prevenção da perda e do desperdício de alimentos será fundamental.”

Este artigo foi publicado originalmente no "Inside Climate News" e republicado com a devida permissão. Leia o artigo original.


SOBRE A AUTORA

Georgina Gustin é jornalista e cobre o setor de agricultura. saiba mais