Não é coisa da sua cabeça: suas alergias estão mesmo ficando piores

E a culpa é das mudanças climáticas

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Talib Visram 3 minutos de leitura

O doce aroma e o colorido da primavera podem ser um pesadelo para aqueles que sofrem com ataques de espirros, coceira na garganta e ardência nos olhos por causa do pólen. E as flores já estão começando a desabrochar no hemisfério norte.

A temida temporada de alergias vem se estendendo nas últimas décadas por causa das mudanças climáticas. O aumento do carbono tem prolongado a temporada de alergia e intensificado os alérgenos. Essa é uma péssima notícia para cerca de um quarto dos adultos e para um quinto das crianças do Estados Unidos.

Em um novo relatório da organização sem fins lucrativos Climate Central, os pesquisadores estudaram dados de temperatura de 203 cidades dos EUA, de 1990 a 2018. O que eles descobriram foi que o aumento do dióxido de carbono na atmosfera está estendendo os períodos sazonais de alergia.

Pesquisadores descobriram que o aumento do dióxido de carbono na atmosfera está estendendo os períodos sazonais de alergia.

Os invernos estão esquentando e a primavera está chegando mais cedo. De acordo com a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA), a geada final no início da primavera está ocorrendo antes do que em qualquer outro ano desde 1895.

O relatório constatou que 85% das cidades dos EUA tiveram uma primavera e um verão mais longos – o que significa que as plantas estão brotando e florescendo mais cedo e estendendo a temporada de pólen em média em 20 dias.

Por exemplo, o período sazonal da ambrósia – uma erva daninha que faz parte da família das margaridas e que é a maior culpada de alergias de outono – está mais longo. Essa planta produz um bilhão de grãos de pólen, que podem se espalhar por centenas de quilômetros desde a sua origem. Em algumas partes do meio-oeste norte-americano, a temporada da ambrósia está quase três semanas mais longa.

Lewis Ziska, um dos pesquisadores e professor associado de ciências da saúde ambiental na Universidade de Columbia, explica que lugares de maior altitude estão tendo dias mais quentes do que antes. Por isso, o pólen permanece ali por mais tempo.

POLUIÇÃO + AQUECIMENTO GLOBAL

Não só a duração da estação está aumentando, mas também a intensidade dos alérgenos. O aumento na quantidade de dióxido de carbono está permitindo que as plantas cresçam mais. Assim, elas produzem mais energia para crescer e aumentam em quantidade. Isso acarreta maior produção de pólen. Em um mesmo período, as concentrações de pólen aumentaram 21%.

Mas o pólen não é o único gatilho. Muitas pessoas também

o pólen e o mofo podem piorar os efeitos na saúde de quem tem asma ou problemas respiratórios.

são sensíveis a vários fungos que proliferam nos meses mais quentes. Crescendo em troncos apodrecidos e folhas caídas, os esporos de fungos são liberados no ar e causam alergias semelhantes às do pólen.

Em condições mais quentes e úmidas – incluindo lugares onde houve aumento de tempestades tropicais – mais esporos são produzidos e conseguem circular mais rápido pelo ar.

O aumento desses alérgenos significa que os pacientes sentem todos os sintomas típicos, incluindo espirros e coceira.  Só que o pólen e o mofo podem piorar os efeitos na saúde de quem tem asma ou problemas respiratórios.

O próprio Ziska tem asma severa. “Quando estou na rua, principalmente na primavera, tenho que sempre ter meu inalador comigo, para garantir que não tenha um ataque de asma”.

Se os níveis de carbono permanecerem altos, essa tendência pode continuar piorando no futuro. Outro estudo que modelou a futura produção de pólen previu que ela pode dobrar até o final deste século e que a temporada de alergias pode começar até 40 dias antes.


SOBRE O AUTOR

Talib Visram escreve para a Fast Company e é apresentador do podcast World Changing Ideas. saiba mais