Nem o bioplástico é capaz de resolver o problema do excesso de plástico

O governo dos EUA planeja substituir 90% do material por bioplástico, mas há muitos problemas envolvidos nessa meta

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Adele Peters 4 minutos de leitura

Se você comprar comida para viagem em Los Angeles e a refeição vier com talheres feitos de plástico PLA – um bioplástico compostável e biodegradável –, não poderá jogá-los fora em uma lixeira na rua. Isso porque a prefeitura alega que o material não se decompõe com rapidez suficiente, mesmo em instalações de compostagem.

Também não pode ser descartado em lixeiras de coleta seletiva, já que há o risco de contaminar outros materiais. E, caso acabe em aterros sanitários ou no oceano, pode permanecer lá o mesmo tempo que um plástico comum.

A produção global de plástico dobrou entre 2000 e 2019.

“O bioplástico não é uma solução mágica”, afirma Steve Hynd, gerente de políticas e mídia da City to Sea, uma organização sem fins lucrativos do Reino Unido focada na poluição plástica.

De acordo com ele, a primeira coisa que deveríamos fazer é reduzir o uso do polímero. A produção global de plástico dobrou entre 2000 e 2019. Desde então, somente nos EUA, mais de 40 novas usinas petroquímicas estão sendo construídas ou deram entrada em pedidos de licenciamento.

EMBALAGENS VAI E VOLTA

O aumento da produção de plástico – sendo metade para um único uso – é, sobretudo, um problema climático. A maior parte é feita de etano, um subproduto do gás natural. Nos EUA, as refinarias liberam cerca de 70 milhões de toneladas de gases de efeito estufa por ano, de acordo com um relatório de 2021, produzido pela Beyond Plastics.

Dependendo de como é feito, o bioplástico pode ajudar a reduzir significativamente essa pegada de carbono. Uma nova marca de água, por exemplo, está utilizando o material para embalar seus produtos. Mas o ideal continua sendo focar em embalagens reutilizáveis, argumenta Melissa Valliant, diretora de comunicação da Beyond Plastics.

“Nos EUA, usávamos [embalagens reutilizáveis] no passado, e vários países voltaram a usar. Elas têm um impacto climático muito menor do que qualquer coisa descartável, já que são reutilizadas continuamente.”

Embora seja um caminho para reduzir a poluição plástica,

Embalagens reutilizáveis têm um impacto climático muito menor do que qualquer coisa descartável, já que são usadas continuamente.

para algumas aplicações, ainda faz mais sentido alternativas biodegradáveis, de acordo com Pierre Paslier, cofundador da startup Notpla, que desenvolveu um filme à base de algas marinhas que pode substituir o plástico usado em diversas embalagens, como sachês para cosméticos e alimentos.

Segundo as definições europeias, este novo material não pode ser considerado um plástico, já que não foi modificado quimicamente. Na compostagem, ele se decompõe mais rápido do que uma casca de fruta, ressalta Paslier.

“As embalagens deveriam ser tão compostáveis quanto resíduos de alimentos”, diz ele. “Não deveriam exigir mais tempo, energia e condições especiais.”

No entanto, para que as embalagens compostáveis se tornem uma solução viável, todo o sistema precisa mudar. Alguns materiais de base biológica podem ser reciclados, enquanto outros não. E isso confunde ainda mais os consumidores e recicladores.

É provável que acabem indo parar em aterros sanitários ou se juntem às 11 milhões de toneladas de lixo plástico que acabam no oceano todos os anos.

SOLUÇÃO DE PONTA A PONTA

Apesar de ainda não termos a infraestrutura certa para embalagens reutilizáveis, estamos lentamente nos movendo nessa direção. No Reino Unido, por exemplo, há serviços como a Milk & More, empresa de entrega de alimentos que adotou as embalagens reutilizáveis.

O aumento da produção de plástico, sendo metade para um único uso, é um problema climático.

“Estamos começando a ver muitos testes acontecendo”, diz Hynd. “Mas o problema é que, por definição, eles são feitos em pequena escala. E sabemos que, para surtir um efeito real, isso precisa ser feito de forma ampla.”

Valliant argumenta que os EUA deveriam fazer pressão por um tratado global contra a poluição plástica forte, com um limite para a produção e ênfase na reutilização.

Além disso, defende que o Congresso norte-americano deveria considerar novas legislações, como o projeto de lei Break Free from Plastic Pollution Act, introduzido no ano passado, que exige que produtores de embalagens, recipientes e produtos alimentícios desenvolvam, gerenciem e financiem programas de coleta e reciclagem.

“Este projeto de lei foi um exemplo perfeito de uma abordagem abrangente para o problema – não apenas foca em como gerenciar os resíduos plásticos após serem descartados, mas também em soluções para diminuir a poluição plástica na fonte, reduzindo a produção”, diz ela. “Não conseguiremos combater esta crise de forma eficiente se isso não fizer parte do plano.”


SOBRE A AUTORA

Adele Peters é redatora da Fast Company. Ela se concentra em fazer reportagens para solucionar alguns dos maiores problemas do mundo, ... saiba mais