No espaço, empresa testa bactérias que “comem” plástico
O experimento do SeedLab vai testar enzimas que podem quebrar a matéria plástica e bactérias que a transformariam em outro material
Esta semana, a Estação Espacial Internacional está recebendo novos visitantes: Pseudomonas putida, um tipo de bactéria que consegue “comer” plástico.
Os microorganismos estão sendo enviados ao espaço como parte de uma experiência que vai estudar como micróbios podem se tornar uma solução em potencial para o problema do lixo. O estudo vai investigar não só como as enzimas desses organismos podem degradar plásticos em um ambiente adverso como o espaço sideral, mas também se as bactérias conseguiriam transformá-los em outro material.
Funciona assim: primeiro, a enzima do micróbio quebra a cadeia do PET – um dos tipos de plástico mais utilizados em garrafas e embalagens de alimentos. Depois, a bactéria degrada os componentes do PET em ácido beta-keto adípico (ou BKA), um dos monômero do nylon – material que pode ser usado na confecção de tecidos ou em outros processos industriais.
“Tirá-los de um ambiente conhecido como a Terra é um passo muito importante no desafio de utilizar o metabolismo de microorganismos”, diz Raja Dhir, cofundador e co-CEO da Seed Health, a empresa focada em ciência microbiológica que está conduzindo o experimento.
Além de testar o desempenho dos micróbios em um ambiente com gravidade zero e alta radiação UV, a experiência pode ainda ser o ponto de partida para a exploração de um futuro no qual astronautas contem com um sistema de reciclagem de seu próprio lixo plástico, transformando-o em outro tipo de material.
“Se queremos degradar ou reutilizar o plástico na Terra, temos processos químicos e mecânicos bem pesados, que precisam de grandes máquinas para funcionarem”, explica Xin Liu, curador de arte da iniciativa Exploração Espacial, do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts). “Não tem isso no espaço.”
Algumas pesquisas mostraram ainda que, quando as bactérias são expostas às condições existentes no espaço exterior “algumas vezes isso aumenta sua capacidade de produzir certas moléculas, ou de desenvolver alguns caminhos”, diz Pat Pataranutaporn, estudante de doutorado do MIT Media Lab, também envolvido no experimento. A expectativa dos cientistas é que as bactérias mantenham, na Terra, um pouco da capacidade ampliada adquirida no espaço.
Em última análise, pesquisas realizadas no espaço podem nos ajudar a reciclar melhor as coisas em nosso planeta. Estudar como as bactérias se alimentam no espaço costuma ajudar a colher mais informação sobre a constituição biológica de microorganismos e se eles podem suportar mudanças nas condições ambientais da Terra.
O lançamento estava programado para esta terça-feira (dia 22 de novembro), a bordo do foguete SpaceXCRS-26, que leva suprimentos para a Estação. Uma vez lá, o experimento é completamente automatizado, seguindo um cronograma pré-estabelecido que deve se estender por cerca de um mês.
A iniciativa é também um exemplo de colaboração que pode expandir a pesquisa científica no espaço. O MIT Media Lab desenvolveu um sistema para abrigar o experimento: um dispositivo automático, fechado, que permite cultivar as bactérias e coletar dados sem o envolvimento de seres humanos. O sistema é modular, o que dá flexibilidade e permite mudanças, dependendo das necessidades dos cientistas.
Isso proporcionou aos biólogos um meio de fazer pesquisa no espaço de uma forma sem precedentes e permitirá a realização de outros experimentos biológicos no futuro, segundo Liu. “Não vai mais ser preciso virar astronauta ou engenheiro espacial para fazer uma boa experiência no espaço”, acrescenta Pataranutaporn.