Novo revestimento de telhado ajuda a refrigerar interior de prédios ao refletir a luz do sol

Crédito: Alexander Andrews/ Unsplash

Adele Peters 4 minutos de leitura

À medida que o planeta fica mais quente, o uso de ar-condicionado continua crescendo. Evidentemente, esse hábito aumenta as emissões que tornam as ondas de calor futuras ainda mais prováveis. Mas um novo tipo de revestimento pode ajudar a resfriar os interiores dos edifícios sem depender tanto do ar-condicionado.  A tecnologia, desenvolvida por uma startup israelense, está sendo testada agora em um carro-conceito da Volkswagen.

A startup, chamada SolCold, projetou um material com uma camada externa que reflete a maior parte da luz solar, mas que permite a entrada de algumas partículas de luz. Uma segunda camada do material reage à radiação específica, emitindo partículas de luz em uma frequência mais alta. Isso faz com que o material perca energia e esfrie.

Quando está preso a um telhado, o revestimento o resfria ativamente e, em seguida, ajuda a resfriar o interior do prédio ou do carro à medida que o calor sobe para o telhado. “Ele mantém continuamente a temperatura mais baixa, não apenas no revestimento, mas penetrando abaixo, para que possamos realmente resfriar o interior”, explica o fundador Yaron Shenhav. Enquanto conversamos pelo Zoom, ele exibe uma amostra do material: parece um pedaço grosso de papel branco.

Como estudante de engenharia, Shenhav foi inspirado por pesquisas que mostraram que certos materiais fluorescentes podem esfriar quando atingidos pela radiação dos lasers. Em um dia quente em seu apartamento em Israel – onde as temperaturas do verão costumam ultrapassar 37 graus Celsius – ele começou a se perguntar se a mesma coisa poderia funcionar com a luz do sol. Um teste de viabilidade em sua universidade mostrou que sim, e depois de alguns anos de pesquisa e desenvolvimento, a empresa agora está trabalhando para comercializar seu produto.

Em um teste de prova em carros-conceito, a startup descobriu que um carro branco coberto com o revestimento ficava até 5 graus mais frio do que um carro branco sem revestimento sob o sol do meio do dia. Já um carro preto com o revestimento ficava até 11 graus mais frio. “Todos os anos lemos histórias trágicas de bebês que foram esquecidos dentro de carros estacionados e morreram porque as temperaturas estavam muito altas”, diz Shenhav. “Nossa tecnologia, que resfria sem a necessidade de eletricidade, reduz drasticamente a temperatura dentro dos carros, potencialmente salvando vidas.”

Konnect, o centro de inovação do Grupo Volkswagen em Tel-Aviv, agora planeja usar o revestimento em um carro-conceito da marca. Em carros elétricos, economizar a eletricidade do ar-condicionado pode ajudar os carros a ir mais longe com uma única carga de bateria; carros movidos a gás podem economizar gasolina.

Muitos prédios já usam tinta branca nos telhados para baixar as temperaturas. Na cidade de Nova York, um programa de “telhado frio” cobriu mais de 920 km² de telhados – especialmente telhados planos de asfalto preto, que podem aquecer até 100 graus Celsius ao sol – desde 2009. Em um dia quente, a cidade estima que um telhado branco pode resfriar um prédio em até 30%. Mas o novo revestimento pode resfriar ainda mais os edifícios e reduzir o uso de energia em ar-condicionado em até 60%, estima Shenhav.

No futuro, esse novo revestimento poderá ser usado em edifícios em países onde poucas pessoas podem pagar por sistemas de ar-condicionado. Mas essa tecnologia ainda é bastante cara: em testes piloto, ela está custando cerca de US$ 100 por metro quadrado. A startup pretende iniciar a produção no próximo ano, por cerca de US$ 30 por metro quadrado, preço ainda fora do alcance para uso generalizado em países em desenvolvimento. “Ainda precisaremos esperar alguns anos para torna-lo acessível [nos países em desenvolvimento]”, diz ele. 

A empresa planeja começar primeiro com produtos voltados para a indústria automotiva e com empresas de telecomunicações e defesa, que podem usar o revestimento para ajudar a manter os eletrônicos resfriados. Mais tarde, a tecnologia poderia também ser usada em roupas (a startup já testou costurar o revestimento em uma camiseta), e, mais tarde ainda, ela poderia ser transformada em fios.

O maior potencial futuro está nos telhados das casas e de outros edifícios. A Agência Internacional de Energia estimou que o número de aparelhos de ar-condicionado em todo o mundo poderia triplicar até 2050, tornando-se um dos principais impulsionadores da demanda global de eletricidade. Mesmo que um ar-condicionado seja redesenhado para economizar energia, e mesmo que o uso de energia renovável aumente, a opção de manter o prédio mais frio sem eletricidade traria muitas vantagens. Com a demanda reduzida de energia, os futuros parques solares e eólicos não precisarão ser tão grandes. Nos EUA, um estudo recente estimou que na próxima década a demanda americana por ar-condicionado superará a oferta de energia elétrica. E, na eventualidade de uma onda de calor causar um blecaute, um telhado revestido poderá continuar funcionando, mesmo sem energia.


SOBRE A AUTORA

Adele Peters é redatora da Fast Company. Ela se concentra em fazer reportagens para solucionar alguns dos maiores problemas do mundo, ... saiba mais